Eloise, por mais mimada e atrevida que fosse, não tinha coragem de lidar com o tom gélido dele.
Ela deu um passo para trás, visivelmente incomodada com a própria ousadia, mas ainda arriscou murmurar, quase num sussurro: "Eu só não entendo por que você ainda mantém essa mulher por perto. Se eu fosse Louisa, já estaria furiosa! Até quando você vai insistir nesse casamento? Você devia se divorciar logo e fazer de Louisa sua esposa."
Julian a repreendeu friamente: "Já chega! Peça ao motorista para te levar para casa. Tenho que trabalhar. Não me atrapalhe."
Eloise agarrou o braço dele, fazendo uma careta de desagrado. "Você anda impossível ultimamente. Já que Katherine foi embora, por que não deixa Louisa ficar com você? Ela poderia cuidar de você."
Julian se limitou a lhe lançar um olhar carregado de desdém, que dizia mais do que qualquer palavra.
Eloise soltou um suspiro irritado e girou nos calcanhares.
Quando já estava prestes a sair, ela ouviu a voz firme do irmão atrás de si: "Cayson, entre."
Ela se virou a tempo de ver o assistente entrando com uma pasta nas mãos, o logotipo do Grupo Lewis estampado em destaque.
Após reconhecer do que se tratava, ela se adiantou e o interceptou, sussurrando: "Cayson, você sabe que eu sou mais importante do que certas pessoas. Por favor, não diga nada que possa deixar meu irmão nervoso, certo?"
Cayson apenas sorriu de maneira polida, o rosto inexpressivo. "Claro, senhorita Nash."
No escritório, Julian foi direto ao ponto: "O que descobriu?"
Cayson relatou os fatos com precisão - as imagens das câmeras de segurança do hotel haviam sido apagadas, então nada havia sido registrado. Eloise, por ora, estava fora de suspeitas.
Julian ouviu tudo em silêncio. Seu rosto, como sempre, era uma máscara impenetrável.
......
Apesar de os papéis de divórcio já estarem assinados, o processo ainda levaria algumas semanas para ser concluído. Nesse meio tempo, Katherine vivia sozinha.
Durante o casamento, ela havia se dividido entre vários trabalhos e conseguido juntar o suficiente para cobrir as despesas médicas do irmão. Agora, com um pouco mais de tranquilidade, aproveitava para aprimorar suas habilidades, atualizar o currículo e se candidatar a novas vagas.
Se manter ocupada era sua forma de não pensar em Julian. Mas esquecer um homem como ele não era simples, pois ele tinha o tipo de charme que dominava qualquer ambiente e conseguia virar manchete sem nem precisar tentar.
Dias atrás, uma foto dele apareceu nas redes sociais - ele estava em outra cidade, com uma mulher. O detalhe que chamou a atenção foi que ele havia alugado uma praia particular inteira para ela.
Katherine nem precisou olhar duas vezes para saber de quem se tratava.
Afinal, Julian era um homem. Apesar de ter se casado forçadamente, ele sabia como se permitir certos luxos de vez em quando.
Katherine olhou para a foto e forçou um sorriso amargo, dizendo a si mesma que, um dia, seguiria em frente e que isso era apenas uma questão de tempo.
Mas a paz não durou muito.
Certa manhã, ela recebeu uma ligação da propriedade dos Nash, pedindo que ela aparecesse lá.
Normalmente, qualquer assunto era tratado diretamente com Julian. Achando estranho, ela perguntou: "Aconteceu alguma coisa?"
Do outro lado da linha, a voz do mordomo soou fria, quase mecânica: "Sua mãe esteve aqui hoje, discutiu com a família Nash e ficou tão nervosa que desmaiou."
Quando Katherine chegou apressada, a primeira pessoa que viu foi Julian, cujos olhos se fixaram nos dela com uma intensidade que arrepiou sua pele.
O ambiente era espaçoso e luxuoso, mas bastou vê-lo para sentir o ar se tornar mais denso e pesado.
Ela olhou ao redor, mas não viu sinal da mãe, então respirou fundo e se aproximou de Julian. "Cadê minha mãe?"
Fazia duas semanas desde a última vez que eles estiveram frente a frente. Antes, ela o olhava com carinho - sempre atenta e devotada.
Julian sempre desprezava sua devoção, mas agora, ao ouvir seu tom frio, ficou igualmente irritado. Ele não disse nada, apenas pressionando os lábios em uma linha rígida.
De repente, o silêncio foi interrompido pela chegada do médico da família. "Sua mãe está acordada e descansando no quarto de hóspedes. Posso levá-la até lá."
"Obrigada." Katherine disse com um leve sorriso e o seguiu pelo corredor.
Nesse momento, Eloise surgiu no alto da escada e desceu com passos apressados em direção a Julian. "Julian, pai está no escritório. Ele quer falar com você", Ela então lançou um olhar de desprezo na direção em que Katherine havia desaparecido. "Aquela família é um fardo. Aposto que essa encenação de desmaio foi só para nos fazer passar vergonha e tentar arrancar dinheiro de nós."
Julian nem se moveu. "Se não é capaz de ficar calada, aprenda ao menos a escolher a hora certa de falar."
Eloise bufou, sem graça "Tá bom."
Mas seus olhos se estreitaram com malícia e um sorriso dissimulado se desenhou em seus lábios enquanto ela seguia Katherine pelo corredor.