Capítulo 6 A cidade aguarda o momento em que Cole ficará viúvo

Elliana pegou o celular com hesitação e pressionou o botão para iniciar o vídeo.

A tela se iluminou, revelando uma gravação em que ela se levantava do sofá durante a madrugada, movendo-se como se estivesse em transe, antes de se deitar na cama espaçosa.

Na filmagem, Cole esfregava os olhos enquanto indagava com a voz carregada de sono: "Você está bem?"

"Shh!", resmungou Elliana, levando um dedo aos lábios como se estivesse guardando um segredo.

No segundo seguinte, toda a situação saiu de controle. Ela retirou a camisa de pijama de Cole, o envolveu pela cintura como se fosse um travesseiro, apoiou a mão em seu peito e se aninhou contra ele com um suave suspiro. "Durma com os anjinhos, meu queridinho."

O rosto de Elliana tingiu-se de vergonha assim que a gravação chegou ao fim. Na noite anterior, durante o banquete nupcial, ela havia cedido a um dos primos mais insistentes e tomado uma pequena taça de vinho.

Elliana conhecia bem sua baixa tolerância ao álcool. E, pior ainda, sabia que bebidas alcoólicas frequentemente desencadeavam episódios de sonambulismo. Naquele momento, uma dose parecia inofensiva, mas os efeitos manifestaram-se durante a noite.

Tentar justificar o uso de "queridinho" dizendo que era assim que chamava seu gato na infância não funcionaria. Cole apenas zombaria dela ainda mais. Ele jamais acreditaria que ela pensava estar abraçada a um felino malhado enquanto dormia.

Com um olhar fulminante, Elliana decidiu não desperdiçar energia com explicações inúteis. "Suponhamos que eu estivesse sonâmbula. Você não poderia, ao menos, ter me afastado dali?"

Cole riu de forma contida, o brilho de travessura evidente no olhar ao estender novamente o celular para ela. "Ainda não acabou. Veja o próximo."

Um frio percorreu o estômago de Elliana. Apesar de relutar, ela tocou no segundo clipe com apreensão.

Na nova gravação, Elliana estava praticamente enlaçada em Cole, com os membros jogados ao redor dele como os tentáculos de um polvo apaixonado.

A voz dele surgiu suave e bem-humorada através do alto-falante: "Querida, você não acha que isso é um pouco demais?"

Então veio o clímax da vergonha-ela bateu no traseiro dele e o advertiu: "Diga mais uma palavra e o seu castigo será ainda mais severo!"

Quando o vídeo chegou ao fim e a tela escureceu, Elliana estava imóvel, as bochechas queimando de embaraço. Seu único desejo nesse instante era desaparecer.

A gargalhada de Cole explodiu enquanto ele se inclinava na direção dela. "Você é deliciosamente impetuosa. Fazendo ameaças desse tipo... como eu conseguiria resistir?"

Essa provocação já era demais. Com um suspiro frustrado, Elliana jogou as cobertas de lado e saiu do quarto às pressas, como se fugisse de um incêndio.

Cole mal conseguia conter o riso, os ombros tremendo com gargalhadas abafadas. Na noite anterior, ao esconder-se sob as cobertas e fingir estar dormindo, ele aguardava uma provável reprimenda. De fato, ela havia despertado, mas, ao invés de uma briga, ela lhe proporcionara uma sequência inesperada de surpresas.

Tomada pelo pânico, Elliana correu em disparada para o banheiro. Então fechou a porta com força, girou a chave e agarrou os próprios cabelos, como se pudesse arrancar a vergonha de si.

Sem poder evitar, ela esbravejou em voz baixa. Aquilo tudo lhe servira como um lembrete doloroso: álcool jamais fora seu aliado.

Ela mal começava a se recompor quando ouviu uma batida leve na porta. Em seguida, a voz de Cole soou do lado de fora, descontraída e provocativa: "Querida, o tempo está passando. Os membros mais velhos da família estão aguardando nossa presença. É melhor se apressar."

A família Evans era conhecida por preservar com rigor suas antigas tradições, transmitidas ao longo de gerações. Uma das mais relevantes acontecia na manhã seguinte ao casamento, quando os recém-casados deviam se apresentar respeitosamente aos anciãos, um gesto simbólico, mas essencial, que representava deferência e buscava sua aprovação formal.

Elliana não precisava ser lembrada da ocasião. Ela abriu a porta com firmeza, determinada a não reagir ao brilho provocativo nos olhos de Cole.

Apesar do calor que subia às suas faces, perguntou com compostura: "Que roupa devo vestir?"

"Já providenciei isso", respondeu ele, estendendo-lhe uma sacola de compras.

Assim, Elliana a recebeu, fechou a porta atrás de si e iniciou os preparativos.

Tomou banho, vestiu-se adequadamente e aplicou uma nova camada de maquiagem para finalizar sua aparência.

No entanto, os acontecimentos da noite anterior retornavam à sua mente sem aviso. Cole havia tentado se aproximar. Talvez sua aparência não estivesse suficientemente repulsiva. Por isso, desta vez, ela reforçou ainda mais a maquiagem, espalhando o pincel com deliberada lentidão, como se desejasse acentuar o artificial.

Assim que se considerou pronta, entreabriu a porta. Ao ver Cole esperando pacientemente do lado de fora, indagou: "Onde está minha peruca?"

Cole fitou o rosto dela e por pouco não perdeu o controle. Os lábios estremeceram levemente, dificilmente contido. Sem pronunciar palavra, estendeu-lhe a peruca.

Como já não era possível continuar fingindo bem diante dele, Elliana ajustou a peruca despenteada sobre a cabeça lá.

Cole não conseguiu disfarçar a reação. "Tente não causar um ataque cardíaco no meu avô. Talvez suavize um pouco essa aparência de boneca assombrada."

Antes que Elliana pudesse replicar, Cole já segurava a mão dela, guiando-a firmemente para fora do quarto.

O corredor do andar inferior apresentava-se impecável, cada detalhe perfeitamente arranjado e meticulosamente polido.

Na extremidade da longa sala, Ruben encontrava-se no assento de honra, com Jarrett Evans, pai de Cole, postado rigidamente à sua direita. Os demais membros da família já estavam reunidos, completando a formação imponente.

A sala, até então preenchida por risos e conversas amenas, mergulhou em um silêncio tenso assim que o casal entrou, de mãos entrelaçadas, como se quisessem provar algo.

Graças à vigilância de um membro indiscreto da noite anterior, Ruben já tinha ciência de que o quarto do casal não permanecera exatamente silencioso. A maioria dos presentes, no entanto, considerava improvável que Cole tivesse sequer tocado uma mulher considerada abaixo dos padrões familiares.

Os comentários sugeriam mais violência do que afeição. A expectativa era ver Elliana humilhada, talvez até ferida.

Mas ao invés disso, Cole demonstrava uma tranquilidade natural, como se nada fugisse ao controle, e formava um casal sereno com Elliana.

Um sutil estremecimento percorreu a sala enquanto olhares se cruzavam em silêncio. A dúvida pairava: eles realmente haviam consumado o matrimônio?

A tensão era palpável. Ninguém esperava ver o herdeiro da família Evans interessado em uma mulher que não ostentava os atributos tradicionais da elite.

Impassível ou simplesmente desinteressado, Cole avançou sem hesitação, conduzindo Elliana pela mão com tranquilidade enquanto iniciavam os cumprimentos protocolares aos mais velhos.

A linhagem de Ruben dividia-se em quatro ramificações, fruto de seus três filhos e uma filha, todos com suas respectivas famílias.

Jarrett, o primogênito e antigo líder da família, havia se afastado de suas funções devido ao declínio de sua saúde.

Na sequência vinham Bertram Evans, depois Emmanuel Evans, e por fim a caçula, Eva Evans.

De acordo com o protocolo familiar, os recém-casados deviam iniciar os cumprimentos pelo patriarca. Então Ruben recebeu a saudação inicial, seguido por Jarrett. Embora nenhum dos dois demonstrasse entusiasmo com a presença de Elliana, ambos mantinham a compostura e seguiam o ritual sem incidentes.

Com as formalidades encerradas, todos se dirigiram à extensa mesa do desjejum.

Todos os assentos estavam ocupados. Ao examinar os rostos ao redor, Elliana deparou-se com olhares variados, alguns simplesmente curiosos, outros manifestamente críticos ou cheios de escárnio velado. Nenhuma expressão de acolhimento se fazia presente. Mas isso não abalou a jovem, que se matinha ereta, alheia à hostilidade.

Foi então que Irene Evans, esposa de Bertram, ergueu o queixo com altivez e declarou, em um tom arrogante e incisivo: "Elliana, está ciente de que toda a cidade praticamente aguarda o momento em que Cole ficará viúvo?"