O impacto foi brutal. A cabeça de Lia bateu com força no volante, e Vasco gritou, agarrando-se ao braço, que ficara entalado.
Martim começou a chorar, apontando para Lia.
"Foi ela! Ela bateu em nós de propósito!"
Gonçalo saltou do carrinho e correu para Martim, sem sequer olhar para Lia ou Vasco.
"Estás bem, meu filho? Aquela mulher desastrada! Lia, não tens cuidado nenhum?" acusou-a imediatamente.
Beatriz também se aproximou, fingindo preocupação com Martim.
"Oh, meu pobrezinho! Lia, como pudeste ser tão imprudente? O Martim podia ter-se magoado a sério!"
Lia ignorou-os. Vasco chorava de dor. O seu braço estava inchado e com um ângulo estranho.
"Vasco, meu amor, vamos ao hospital." Tentou sair do carrinho, mas Gonçalo bloqueou-lhe o caminho.
"Onde pensas que vais? Primeiro, pede desculpa ao Martim."
"Pedir desculpa? Foi ele que nos atingiu! O Vasco está magoado!"
Gonçalo agarrou-a pelo pulso. "Pede desculpa, Lia. Ou o Martim vai ficar muito triste, e eu não quero isso. E tu não queres que o Vasco sofra mais, pois não?"
Chantagem. Outra vez. Usar o sofrimento do filho dela.
Lia olhou para o braço de Vasco, para os seus olhos cheios de lágrimas e dor.
Tinha de o proteger.
"Desculpa, Martim," disse ela, a voz a tremer de raiva e humilhação.
"De joelhos," sibilou Beatriz, com um sorriso cruel.
Gonçalo não disse nada. Apenas observava.
Lia olhou para o filho. Engoliu o orgulho, a raiva, a dor. E ajoelhou-se.
"Desculpa."
A humilhação era excruciante. Sentia os olhares de todos em cima dela.
Gonçalo pareceu surpreendido com o ato dela. Um lampejo de algo indecifrável passou-lhe pelo rosto.
Lia levantou-se, pegou em Vasco ao colo e correu para fora do parque, em direção ao hospital.
O braço de Vasco estava partido. O médico teve de o colocar no sítio, sem anestesia adequada para crianças pequenas em procedimentos de urgência. Vasco gritava de dor.
Lia segurava-lhe a mão, cantando baixinho para o acalmar, o coração a despedaçar-se a cada grito do filho.
Enquanto esperava que Vasco adormecesse sob o efeito dos analgésicos, ouviu a voz de Beatriz no corredor. Falava ao telemóvel com Gonçalo.
"Sim, querido, o Martim já está melhor. Foi só um susto. Mas, Gonçalo... e se a Lia se divorcia mesmo de ti? Eu não quero que fiques sozinho..." A voz dela era pura manipulação.
A resposta de Gonçalo foi clara, arrogante.
"Não te preocupes, Biazinha. A Lia nunca me deixaria. Ela ama-me demasiado. Um pouco de drama, e ela volta sempre para mim."