A Chef Esquecida: Agora, Ela Brilha
img img A Chef Esquecida: Agora, Ela Brilha img Capítulo 1
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Capítulo 1

Sofia acordou com a cabeça a latejar, a boca seca.

O quarto estava escuro, apenas uma fresta de luz vinha do corredor.

Lembrou-se de Marcos a dar-lhe um comprimido.

"Um calmante, meu amor. Para dormires bem."

A sua voz soava distante na memória.

Ouviu vozes baixas do outro lado da porta.

Marcos. E Carlos, o seu amigo e enólogo.

"Ela vai ficar bem, Carlos. É forte."

A voz de Marcos era tensa.

"Um rim não é brincadeira, Marcos. E para a Lorena? Depois de tudo?"

Carlos parecia preocupado.

O coração de Sofia parou. Um rim? Para Lorena?

"Eu compenso-a," disse Marcos, a voz mais firme. "Peço-a em casamento. Dou-lhe o restaurante que ela sempre quis. Ela nem vai desconfiar de nada."

Compensá-la? Com um casamento? Um restaurante?

Pelo seu rim?

Sofia sentiu o corpo gelar.

A traição era uma lâmina fria a afundar-se no seu peito.

Anos de dedicação, de sacrifícios.

O estágio em Paris que abandonou para o ajudar a reerguer o restaurante da família dele.

O dinheiro que emprestou, as noites em branco na cozinha.

O filho que ele a fez abortar.

"Lorena não está preparada para ser mãe agora, Sofia. E eu também não. Depois, quando estivermos estáveis."

As palavras dele ecoaram na sua mente, cruéis e falsas.

Tudo por ele. Por Marcos.

E agora, ele planeava roubar-lhe uma parte do corpo. Para a sua rival.

A mulher por quem ele sempre fora obcecado.

A náusea subiu-lhe pela garganta.

Queria gritar, mas a voz não saía.

A porta abriu-se devagar.

Marcos entrou, um sorriso forçado nos lábios.

"Meu amor, acordaste. Como te sentes?"

Sofia olhou para ele, os olhos a arder.

"O que aconteceu?" conseguiu sussurrar.

"Tiveste uma complicação gástrica grave, querida. Os médicos tiveram de intervir. Mas vais ficar bem."

Ele mentiu. Mentiu descaradamente.

A dor na lateral do seu corpo era aguda, real.

Não era uma complicação gástrica.

Ele pegou na mão dela. Sofia sentiu repulsa.

"Preciso de ir," disse ele, desviando o olhar. "Lorena não está bem. Vou acompanhá-la numa viagem de tratamento urgente. Mas volto logo."

Claro. Lorena. Sempre Lorena.

Ele beijou-lhe a testa e saiu.

Deixou-a ali, mutilada e enganada.

As lágrimas finalmente vieram, quentes e amargas.

O seu mundo, construído sobre um amor que agora via ser uma farsa, desmoronava.

Sozinha, no quarto frio do hospital, uma raiva fria começou a crescer por baixo da dor.

Ela não ia ser a vítima para sempre.

Pegou no telemóvel com a mão trémula.

Procurou um nome na lista de contactos. Tiago Albuquerque.

O crítico gastronómico que elogiara o seu trabalho num festival há anos. Um contacto distante, quase esquecido.

Ele vivia em Lisboa. Longe.

Respirou fundo.

"Tiago?" A sua voz era fraca.

"Sofia? Que surpresa agradável. A que devo a honra?" A voz dele era quente, profissional.

"Preciso de uma proposta. Uma parceria. Em Lisboa." As palavras saíram num jorro. "Quero sair daqui."

Houve um silêncio do outro lado da linha. Curto, mas intenso.

"Sofia," disse Tiago, a voz agora mais séria, mas com um tom que ela não conseguiu decifrar. "Eu aceito. E ofereço mais do que uma parceria. Ofereço-te uma nova vida."

Uma nova vida.

Aquelas palavras ecoaram no vazio do seu desespero.

Talvez houvesse uma saída.

            
            

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