A Chef Esquecida: Agora, Ela Brilha
img img A Chef Esquecida: Agora, Ela Brilha img Capítulo 3
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Capítulo 3

De volta ao apartamento, Sofia começou a encaixotar as suas coisas.

Primeiro, as roupas. Depois, os livros de culinária.

No fundo de uma gaveta, encontrou uma pequena caixa de madeira.

Dentro, roupinhas de bebé. Minúsculas. Brancas.

Lembrou-se da alegria secreta quando descobriu a gravidez.

Dos sonhos que teceu para aquele filho.

Sonhos que Marcos esmagou.

"Não é o momento certo, Sofia. Pensa na minha carreira, na pressão. Lorena ficaria devastada."

Ele usara Lorena como desculpa. Como sempre.

A dor daquele aborto, que ele insistira ser a única solução, voltou com força.

Ele não queria aquele filho. Assim como não a queria a ela, de verdade.

Fechou a caixa com um nó na garganta.

Levou-a para o contentor do lixo na rua.

Um peso saiu-lhe dos ombros. Uma libertação dolorosa.

No dia seguinte, foi ao restaurante "Solar dos Andrade".

O restaurante que ela ajudara a transformar de um estabelecimento decadente numa estrela Michelin.

A cozinha era o seu santuário. Onde as suas mãos criavam magia.

Marcos estava no escritório, ao telefone, a rir.

Provavelmente com Lorena.

Sofia entrou sem bater.

"Marcos, vim despedir-me."

Ele desligou o telefone, surpreendido.

"Despedir-te? Como assim? Vais de férias?"

"Não, Marcos. Estou a despedir-me do restaurante. E de ti."

Ele levantou-se, a incredulidade no rosto.

"Sofia, não podes estar a falar a sério. Este restaurante és tu! Nós somos uma equipa!"

"Nós éramos uma equipa quando te convinha," disse ela, a voz firme. "Eu dei tudo por este lugar. Dei o meu talento, o meu tempo. Dei mais do que tu alguma vez vais saber."

Ele aproximou-se, tentou abraçá-la.

"Meu amor, o que se passa? É por causa do pedido interrompido? Eu compenso-te. Fazemos uma festa de noivado ainda maior."

Sofia recuou.

"Não há nada para compensar, Marcos. Acabou."

Ele parecia confuso, quase magoado.

"Mas... e o nosso futuro? O nosso casamento?"

Ao fundo, no seu computador, uma notificação de rede social piscou.

Uma foto de Lorena, sorridente, num iate luxuoso. A legenda: "A celebrar o futuro com o meu amor."

Sofia sorriu, um sorriso amargo.

"Parece que já tens o teu futuro planeado, Marcos."

Ela virou-se para sair.

Nesse momento, o seu telemóvel vibrou.

Uma mensagem de um número desconhecido.

Uma foto. Lorena, deitada numa cama de hospital, um penso na lateral do corpo. Idêntico ao que Sofia teve.

A legenda: "A recuperar bem. Obrigada ao meu dador anónimo e ao meu amor, Marcos, por cuidar tão bem de mim."

A raiva voltou, avassaladora.

O telemóvel de Sofia tocou novamente. Era Carlos.

"Sofia, preciso de ti. O Marcos... ele teve um acidente de carro. Parece que discutiu com a Lorena, saiu disparado. Está no hospital, precisa de sangue. O tipo dele é raro, B negativo."

B negativo. O mesmo tipo de Sofia.

O destino tinha um sentido de humor doentio.

"Estou a caminho," disse ela, a voz vazia.

No hospital, o ambiente era tenso.

Carlos esperava-a à porta da urgência.

"Ele está estável, mas perdeu muito sangue."

Sofia não disse nada. Entrou na sala de colheitas.

A enfermeira preparou o seu braço.

O sangue começou a fluir. Vermelho escuro. Vida.

A sua vida, a escorrer para salvar a dele.

Apesar de tudo.

Sentiu-se fraca, tonta.

A imagem de Lorena na cama do hospital, o sorriso de Marcos.

O seu rim. O seu sangue. O seu filho perdido.

Tudo se misturou numa onda de exaustão e dor.

Quando a bolsa de sangue ficou cheia, Sofia quase desmaiou.

Carlos amparou-a.

"Obrigado, Sofia. Tu salvaste-o."

Mais tarde, meio adormecida numa maca, ouviu a voz de Marcos no corredor.

Falava com um médico.

"...sim, a Sofia doou. Ela é assim, faz tudo por mim. Nunca me deixaria. Mesmo que eu pise na bola de vez em quando."

A arrogância dele era inacreditável.

Mesmo ali, à beira da morte, ele não via. Não entendia.

Aquela foi a gota de água.

A sua decisão, antes firme, tornou-se inabalável.

Ela ia partir. Para longe. Para sempre.

            
            

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