Ela Renasceu para o Sucesso
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Capítulo 3

Os exames finais passaram como um borrão. Para mim, eram apenas uma formalidade, um obstáculo que eu já havia superado na minha vida anterior. Minha mente estava focada em um único objetivo: o dia em que a carta da escola de música chegaria.

Enquanto isso, eu comecei a planejar minha independência. Eu sabia que, independentemente do resultado da minha vingança, eu não poderia mais viver naquela casa. Comecei a guardar cada centavo que conseguia. Ajudei a esposa de um pescador a consertar redes, lavei pratos em uma pequena barraca de comida na praia, fiz qualquer pequeno trabalho que aparecia.

Meu cofrinho improvisado, uma lata de leite em pó escondida debaixo de uma tábua solta no meu quarto, começou a ficar mais pesado. Era o som da minha liberdade.

Em casa, a atmosfera era um purgatório. Minha mãe e Clara me tratavam com uma hostilidade fria e calculada. Elas falavam de mim como se eu não estivesse presente.

"Clara, querida, o filho do seu Afonso, o dono da maior frota de barcos, perguntou de você. Ele disse que você tem os olhos mais bonitos da vila," dizia minha mãe durante o jantar, me ignorando completamente.

"Sério, mamãe? O que eu devo vestir quando for falar com ele?" Clara respondia, entrando no jogo.

Elas discutiam os planos para o futuro de Clara: o casamento, a casa grande, a vida confortável. E eu era a espectadora silenciosa, a lembrança incômoda de um fracasso que, na mente delas, já estava selado. O favoritismo descarado, que antes me feria profundamente, agora era apenas combustível para a minha determinação.

Eu me apeguei à memória de Pedro. Seu apoio inabalável era uma âncora. Conversávamos sempre que possível, longe dos olhos de minha mãe. Ele me entregou a gravação que fez na praça. Assisti várias vezes, estudando a expressão de choque e raiva de Maria, a inveja mal disfarçada no rosto de Clara. Era uma pequena peça do meu quebra-cabeça, mas era importante.

Um dia, enquanto eu estava na biblioteca da cidade, usando o computador público para pesquisar apartamentos baratos no Rio de Janeiro, uma mensagem apareceu no meu e-mail.

Era da Escola de Música.

Meu coração parou.

"Prezada Ana de Sousa,

Parabéns novamente por sua excelente performance e pela conquista da bolsa integral. Gostaríamos de informá-la que a carta de aceitação oficial, juntamente com os documentos de matrícula, foi enviada hoje para o seu endereço residencial.

Devido a um recente incidente de fraude em nosso processo de admissão em outra região, estamos implementando uma nova medida de segurança. Um representante de nossa escola, o Professor Almeida, entrará em contato por telefone nos próximos dias para uma breve verificação de identidade e para parabenizá-la pessoalmente.

Aguardamos ansiosamente sua chegada ao Rio de Janeiro.

Atenciosamente,

Departamento de Admissões"

Um sorriso se espalhou pelo meu rosto. Isso era novo. Isso não aconteceu na minha vida anterior. Um incidente de fraude. O universo, ao que parecia, estava me dando uma nova arma. Um representante da escola ligando. Isso mudava tudo.

Minha estratégia precisava ser ajustada. A simples troca de cartas não seria suficiente para Clara. Ela precisaria enganar um representante da escola por telefone. E eu sabia, com a ajuda de minha mãe, que ela tentaria.

Imprimi o e-mail na impressora da biblioteca. Guardei o papel com cuidado. Era mais uma prova.

Cheguei em casa e a encontrei em um estado de excitação contida. Clara estava experimentando um vestido novo, um dos mais caros da única loja de roupas da vila.

"Não é lindo, Ana?" Clara perguntou, girando na minha frente. "Mamãe comprou para mim. Para quando formos ao Rio comemorar minha matrícula."

A audácia delas era inacreditável. Elas agiam como se a vaga já fosse dela.

"É bonito," eu disse, minha voz neutra. "Mas talvez você devesse guardar para uma ocasião que realmente vai acontecer."

A expressão de Clara murchou. Minha mãe, que estava admirando a filha da porta, entrou na conversa, com a voz afiada.

"E o que você quer dizer com isso, sua invejosa? Você não suporta ver a felicidade da sua irmã, não é? A verdade é que você sabe que Clara merece essa vaga mais do que você. Ela é delicada, talentosa, tem a aparência de uma artista. Você? Você parece uma peixeira."

Cada palavra era um golpe calculado. Mas as palavras não me atingiam mais. Eu não era mais a garota frágil que elas podiam destruir com insultos.

Eu apenas a encarei, um silêncio que a deixou desconfortável.

"O carteiro ainda não passou?" perguntei, mudando de assunto, mas com uma intenção clara.

O rosto de minha mãe se iluminou com malícia.

"Não ainda. Mas estamos esperando ansiosamente. Um grande futuro está para começar nesta casa."

Eu sabia que ela ficaria de vigia, esperando para interceptar o correio. Esse era o plano delas. Mas agora, eu tinha um plano melhor.

Eu precisava garantir que o Professor Almeida, o representante da escola, falasse com a Ana certa.

E eu precisava garantir que a humilhação de Clara e Maria não fosse privada, dentro das paredes da nossa casa, mas pública, para que toda a vila visse a verdade.

A tarde se arrastou. Eu podia sentir a tensão crescendo. Minha mãe mal disfarçava a ansiedade, olhando pela janela a cada cinco minutos.

Eu me sentei na varanda, afinando o violão velho do meu pai. Comecei a tocar e a cantar baixo uma das minhas composições. Uma canção sobre verdade, mentiras e o mar que tudo vê.

Clara saiu para a varanda, seu rosto uma máscara de desdém.

"Você pode parar com esse barulho? Estou tentando me concentrar. Preciso estar com a mente limpa para minha nova vida no Rio."

Eu parei de tocar e olhei para ela.

"Você sabe, Clara, eu nunca entendi. Por que você me odeia tanto? Somos gêmeas. Deveríamos ser... aliadas."

Ela riu, um som sem alegria.

"Aliadas? Não seja ridícula. Você sempre foi a preferida do papai. Ele só tinha olhos para você, para a sua 'voz de anjo' . E mesmo depois de morto, você continuou sendo a sombra dele. E agora, você quer roubar o meu futuro, a minha chance de ser alguém."

A distorção da realidade dela era fascinante.

"Eu não estou roubando nada, Clara. Eu ganhei. Com meu talento."

"Talento?" ela cuspiu a palavra. "Você chama isso de talento? É só um dom inútil que não vai te levar a lugar nenhum. Eu vou para o Rio. Mamãe vai garantir isso. E você vai ficar aqui, vendendo peixe e apodrecendo nesta vila. Esse é o seu lugar."

Ela se virou e entrou, me deixando com suas palavras venenosas ecoando no ar.

Mas não havia dor. Havia apenas a confirmação fria do que eu precisava fazer.

A vingança não era mais apenas sobre a bolsa de estudos. Era sobre recuperar a memória do meu pai. Era sobre expor a podridão que corroía minha família por dentro.

E eu faria isso, nota por nota, verdade por verdade.

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