Ódio e Paixão: Laços Quebrados
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Capítulo 4

Os recursos que o Senhor Antônio mobilizou foram impressionantes. Ele conseguiu transferir minha mãe para o melhor hospital particular da capital. Mas mesmo com todo o dinheiro e os melhores médicos, o diagnóstico era sombrio. Eu me vi obrigada a ir para a cidade grande, ficando num hotel barato perto do hospital, enquanto o Senhor Antônio se hospedava numa suíte de luxo. Ele pagou minhas despesas, mas deixou claro que era uma obrigação, não um gesto de carinho.

Eu passava os dias no hospital, numa sala de espera fria, lendo meus livros didáticos. Eu não podia me dar ao luxo de parar de estudar. O vestibular estava se aproximando, e ele era minha única rota de fuga. O médico que cuidava da minha mãe era um homem mais velho, de fala direta e sem rodeios. Ele me chamou em sua sala uma tarde.

"Sua mãe sobreviveu, Sofia. Mas as lesões na coluna vertebral são... extensas. E permanentes."

Eu escutei, sem piscar.

"O que isso significa?"

"Significa que ela nunca mais vai andar. E os danos cerebrais afetaram sua capacidade de fala e cognição. Ela vai precisar de cuidados constantes. Vinte e quatro horas por dia."

Ele me olhou com uma mistura de pena e impaciência profissional, como se estivesse me dando um prazo para aceitar a realidade. Eu assenti, agradeci e saí da sala. Não chorei. As lágrimas pareciam ter secado dentro de mim. A realidade era um fato concreto, como uma parede na qual eu tinha acabado de bater a cabeça.

A decisão prática veio logo em seguida. O Senhor Antônio a manteve no hospital por mais um mês, pagando todas as contas. Mas quando ficou claro que não haveria mais recuperação, ele tomou sua decisão. Em uma conversa rápida no corredor do hospital, ele me informou.

"Sua mãe terá alta na semana que vem. Eu aluguei um pequeno apartamento para vocês na cidade. E contratei uma cuidadora para os dias de semana. Nos fins de semana, você terá que cuidar dela. Eu depositarei uma quantia mensal na sua conta para as despesas. É o máximo que posso fazer."

Ele não disse, mas estava implícito: ele estava se livrando dela. E de mim.

Quando vi minha mãe na cadeira de rodas pela primeira vez, quase não a reconheci. O rosto dela estava inchado e sem expressão. Os olhos, antes tão vivos e ambiciosos, agora estavam opacos, perdidos em algum lugar que eu não podia alcançar. Ela tentou falar, mas apenas um som gutural saiu de sua boca. Um fio de saliva escorreu pelo canto dos seus lábios. A mulher vibrante que sonhava com luxo e poder tinha se transformado em um fardo.

Ela estava completamente dependente. Precisava de ajuda para comer, para se banhar, para tudo. A mulher que me criou, que me negligenciou em busca de uma vida melhor, agora era minha responsabilidade total. O futuro que ela tinha planejado para nós duas tinha se desfeito de forma trágica. E o meu futuro, o meu sonho de liberdade, parecia mais distante do que nunca.

            
            

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