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Capítulo II
Carol não podia acreditar no que via – ali, bem diante dos seus olhos estava ele – alto,moreno, com um corpo que não era magro e nem exageradamente musculoso, cabelos negros como a noite e muito bem penteados; jeans impecável e camisa azul claro, dobrada até os cotovelos e um pouco aberta, deixando entrever um pouco de pele dourada e alguns pelos. Mas eram os olhos profundos e verdes que a atraiam e a faziam esquecer de tudo...Estevão Moreira. Ele voltara enfim.
Sua mente congelou por instantes e seu mundo pareceu girar rápido demais quando o vira entrar; pensara que jamais o veria novamente e justo agora ele estava ali, parado, encarando-a, tão preso quanto ela estava, sem conseguir desviar os olhos. Então, como se nada tivesse acontecido, ele acenara e fora se sentar do outro lado do bar!
Como ele ousava! Depois de tudo e de todas as palavras horríveis que lhe dissera; depois de sumir por quinze anos, ele simplesmente aparecia ali e acenava pra ela como se ela fosse apenas mais uma conhecida que não merecia palavra!
Estava com raiva, perplexa e, jamais pensou que sentiria isso novamente, mas o coração batia como louco, parecia que pularia do peito a qualquer momento e Carol precisava impedir que isso acontecesse – precisava se recompor o quanto antes. Pediu licença ao noivo e aos amigos e rumou para o banheiro. Infelizmente se esquecera que o caminho para o banheiro passava ao lado da mesa dele. Gemeu baixinho: e agora? Não poderia tornar a se sentar, seria estranho até para ela. Teria de se munir de uma confiança que estava longe de ter no momento e ir em frente. As pernas tremiam tanto que julgou que fosse cair a qualquer instante; engoliu em seco quando estava perto da mesa dele e precebia que ele não desgrudava os olhos de si.
Que faria? Devia dizer alguma coisa? Não poderia simplesmente ignorá-lo, com certeza. Pigarreou limpando a garganta e abriu a boca para lhe dizer algo, mas a voz falhou. Sentiu o rosto quente, devia estar vermelha como um pimentão e isso não ajudava. Respirou fundo e tentou parecer o mais normal possível e por incrível que parecesse, sua voz soou calma e serena, apesar do seu estado interior. Disse:
"- Ora vejam quem está de volta! Seja bem vindo, Estevão!" e sorriu inexpressiva para ele, que a estivera inspecionando com os olhos minuciosamente e agora se detivera em seus olhos.
Estevão sorriu levemente e disse apenas:
"- Obrigada."
Como se nem a houvesse reconhecido. Isso a magoou e ao mesmo tempo destruiu sua frágil confiança. Correu para o banheiro. Carol se sentara no vaso numa vã tentativa de fazer as pernas pararem de tremer e buscando controlar a respiração e o coração que iria voar pela boca, tinha certeza!
Correu para a pia e lavou o rosto com água fria e foi se acalmando aos poucos e se tornando novamente senhora de si. Minutos depois o coração já voltara ao normal e as pernas quase não tremiam. Secou o rosto, refez a maquiagem e retornou a sua mesa sem olhar para trás.
A mesa em que seu noivo a aguardava. Seu noivo. A situação toda era ridícula! Pensou. Simon não merecia isso. Ele era gentil e calmo. Magro e pouco mais baixo que Estevão. Era louro e tinha olhos castanhos vazios e distantes... Completamente o oposto do homem que estava com os olhos grudados as suas costas – tinha certeza que sim, podia sentir o calor desses olhos quase perfurando sua pele! Céus! O homem era como um furacão - onde chegava sempre causava burburinho e agitação. Sempre fora assim. E sempre seria, tinha certeza agora.
A quanto tempo teria ele voltado a Greensborough? Por onde estivera todo esse tempo? E mais importante: Porque retornara só agora? Por quê?
Ao se aproximar de sua mesa, Simon e os outros a olharam e ele indagou por quê demorara tanto e ela dera uma desculpa qualquer, sem prestar muita atenção. Assim que se sentara, Simon colocara o braço por sobre seu ombro, possessivamente e a beijara na boca de leve. Um comportamento totalmente estranho a ele; será que percebera algo?
Bobagem! Afirmou a si mesma. Ele só está agindo assim por causa de Madison, Peter, Hannah e Neil. Eles costumavam ser "afetuosos" demais e sempre foram competitivos. Era isso. Dizia a si mesma. Devia deixar Estevão fora da sua cabeça e focar nas pessoas que realmente importavam no momento: Simon e seus amigos.
Estevão mal se recompora e lá estava ela, vindo em sua direção. O coração falhou uma batida e os olhos estavam presos, hipnotizados pela belesa singular de Carol.Agora que estava de pé podia ver claramente as curvas do corpo gracioso e sensual e o balançar suave dos quadris enquanto se movia em sua direção. Em sua direção? O que pretendia, afinal? Estevão parecia o menino de dez anos, esparramado no chão, desajeitado, sem saber como reagir a mulher mais bonita que já vira em sua vida. Não conseguia pensar, então ela parou ao seu lado e dissera qualquer coisa e que ele era bem vindo de volta...não conseguia pensar ao ouvir sua voz suave e melodiosa, ao sentir seu perfume de flores do campo, ao contemplar sua pele tão acetinada assim tão perto, que ele precisou de uns segundos que pareceram uma eternidade para retormar o controle e responder, num tom firme e distante. Nem conseguia imaginar como conseguira!
Quando ela continuou em frente, percebeu, para sua tristeza, que ela não o havia buscado mas, que sua mesa estava em seu caminho, para o banheiro, supunha.
Suspirou resignado e desapontado e esperou pelo seu retorno, para que pudesse ter outra chance e, quem sabe a convidasse a se sentar com ele? Mas ela nem o olhou. Passou por ele rapidamente e com determinação e seguiu para sua mesa.
Estevão não tirou os olhos dela e, somente quando ela chegou a seu lugar, que percebera que Carol não estava só, mas muito bem acompanhada pela sua turma: os populares da escola: os atletas Peter, Neil e Simon e as líderes de torcida Madison e Hannah. Bufou em desdém. Porém o que aconteceu em seguida o pegou completamente desprevinido: Simon a envolveu nos braços e a beijou!
Estevão usou todo seu auto controle para não jogá-lo no chão e esmurra-lo até perder todos os dentes, ali mesmo. Como se atrevia? Aquele magricela riquinho metido a besta! Sempre ele, pensou.
Teve ganas de sacudir Carol e perguntar qual era seu problema? Simon? Justo ele!
Sua determinação em tirá-la dele redobrara. Ele poderia até suportar perdê-la para outro cara que talvez a merecesse, mas esse cara certamente não era Simon.
Teve vontade de levantar-se e ir embora, mas se conteve. Era o momento perfeito. Poderia observá-los e tirar vantagem desse infortúneo. Usaria tudo que pudesse a seu favor, decidira.
Virou a cabeça calmamente e observou o local, as pessoas e prestou atenção a banda que tocava uma bela canção country nesse momento.
Viu a garçonete equilibrando uma bandeja com cerveja, pratos copos e alguns drinks coloridos vindo em sua direção. Ela parou a seu lado, serviu a cerveja e a comida que pedira e disse:
"Aqui está seu pedido, bonitão! E piscou sedutora. Se quiser me pagar um drink, me chamo Clair e largo às onze." Deu outra piscadela e saiu com os outros pedidos.
Ele sorriu e pensou que sua vida seria tão simples, não fosse por uma mulher que insistia em rondar seus pensamentos e lhe roubara o coração muitos anos atrás, suspirou, olhando-a mais uma vez.
Carol sorria animada e bebia uma taça de vinho branco, enquanto conversava com os amigos.
Nada mudara. Ela ainda permanecia fora do seu alcance como na época do colégio, em que ele ficava a observando de longe, se divertindo com sua turma.
Mas amanhã seria um outro dia e tudo não seria mais como antes. Ele estava prestes a revirar sua cidade e colocar as coisas nos seus lugares, como deveriam estar. Amanhã.
Ele bebeu da sua cerveja e o líquido gelado e forte arrefeceu seu humor e aliviou a garganta. A comida era saborosa, não chegava aos pés da comida da sua mãe, mas era muito melhor que a de muitos bares por aí, e ele conhecera muitos!
Estevão comeu, bebeu e quando já estava satisfeito, pagou a conta e se levantou para partir, mas antes, decidiu ir dar um alô para os ex colegas.
Caroline empalideceu ao vê-lo se aproximar. O que ele estava fazendo?
Simon o olhou nos olhos, friamente e Estevão lhe retribuiu o olhar. Sorriu polidamente e se virou para todos e disse:
"- Boa noite, amigos. Acabo de retornar a cidade e decidi vir conhecer os bares. Não esperava revê-los tão cedo,mas foi mesmo uma grata coincidência. Madison, Hannah, Neil, Peter e Simon, vocês não mudaram nadinha. Carol está lindíssima como sempre! Espero que se juntem a mim na próxima vez, faço questão de pagar-lhes uma bebida qualquer dia desses. Sorriu educadamente e acenou com a cabeça enquanto se despediu dizendo apenas um polido boa noite e se foi.
Todos ficaram mudos, sem saber o que dizer. Então Simon o chamou, quando ele já estava se afastando e disse:
"- Ei, Estevão? - e sorriu ironicamente enquanto emendava: Nos deve os parabéns: eu e a Caroline vamos nos casar!"
Impassível, ele disse apenas: "-Parabéns." e partiu.
Estevão chegou muito tarde em casa. Decidira ir berber em outro lugar e assim o fizera. Não estava pronto para voltar, não depois de ter sido confrontado por aquele imbecil do Simon. Precisava se acalmar e assim passara em todos os bares e pubs da cidade e agora estava chegando em casa. Eram seis da manhã. Sua mãe o mataria se soubesse, mas ela devia estar dormindo a essa hora, então, não corria nenhum risco de sermão.
Estacionou na entrada, desceu do carro e abriu a porta, com certa dificuldade. Entrou em casa e quando já ia subir as escadas, ouviu um barulho na cozinha e viu luzes acesas. Droga! Sua mãe já se levantara. Tentou subir silenciosamente as escadas, mas sabia que era em vão. No momento em que chegara ela já havia percebido sua presença e não deu outra – assim que pôs o pé no primeiro degrau, Marina o chamou da cozinha:
"-Estevão, venha aqui. Fiz café para você, para curar sua bebedeira!"
Estevão pensou como ela sabia da bebedeira e deu de ombros e obedecendo ao chamado da mãe.
Marina usava um robe atoalhado e pesado sobre a camisola longa e coberta de flores miúdas, de algodão; tinha os cabelos soltos que chegavam ao meio das costas e estavam ligeiramente grisalhos. Estava de costas para ele sovando umma massa de pão na bancada. A cozinha cheirava a café fresco e fermento e, logo logo estaria cheirando a pão fresquinho. O estômago de Estevão reagiu ao cheiro e ele fez uma careta – por que bebera tanto?
Pressentindo seu mal estar,sua mãe dissera simplesmente: " Beba o café, fará seu estômago se recuperar mais rápido." Disse sem virar-se para olhá-lo. Estevão sabia que a mãe estava chateada, mas agradecia por ela estar se controlando para não dizer oque ele tinha certeza de que estava entalado em sua garganta.
Foi até o armário, pegou uma xícara, encheu-a com o líquido preto e fumegante e bebeu tudo, como sua mãe recomendara. Quando terminou, percebeu que realmente sentia-se melhor do que antes e tomou mais uma xícara.
Marina, terminara de sovar a massa e a estava colocando para descansar. Ainda não se virara para ele. Então ela disse:
"- Agora vá se deitar. Seu corpo precisa de sono para se recuperar por completo. Quando estiver melhor, desça. Precisamor conversar."
Ele obedeceu uma vez mais, pois estava mesmo precisando de um pouco de sono. Mas estava intrigado e ansioso: o que será que sua mãe teria para lhe dizer? Fosse o que fosse teria de esperar por pelo menos duas horas. Estava morto! Tomaria um banho rápido e cama. Mais tarde se entenderia com sua mãe.
Carol abriu os olhos e respirou fundo, exalando o ar pela boca em um suspiro resignado. A noite havia sido um tormento! Não apenas pela presença inquietante de Estevão, mas porque brigara com Simon durante toda a volta para casa – não acreditara no quão babaca ele tinha sido tratando-a como um troféu, uma coisa a ser exibida como sinal de vitória em uma richinha besta de meninos!
O pior é que tentara fazê-lo ver o absurdo da situação e conseguira piorar as coisas, pois agora Simon a acusara de estar defendendo o namoradinho delinquente juvenil! Namoradinho! Dela, sua noiva!
Gritara com ele e exigira desculpas e ele a deixou na porta de casa sem dizer palavra, com um olhar fulminante e saiu cantando pneus.
Céus! Quanta confusão um único homem era capaz de arranjar só por dar as caras!Pensou consigo mesma, colocando a mão nos cabelos e sacudiu a cabeça, numa tentativa de clarear os pensamentos.
Precisava se levantar e aprontar-se para o trabalho. Era disso que precisava no momento: tempo e ocupação, para que as coisas se acalmassem e se acertassem.
Com certeza Simon a procuraria mais tarde e pediria desculpas e tudo ficaria bem.
Enquanto isso – jogou as cobertas de lado, levantou-se, e rumou para o banheiro. Precisava se aprontar para ir para o trabalho ou se atrasaria.
Do outro lado da cidade, Estevão despertava de um sono mal dormido, apesar do alcool, e resmungou devido a claridade que entrava pela janela – as cortinas haviam sido afastadas. Ergueu o antebraço e o pôs sobre os olhos, ainda resmungando e ouviu o comando da mãe a seu lado:
"-Beba. - e colocou um copo duplo em sua mão, contendo um líquido estranho, mas que Estevão sabia bem o que era: boldo – uma planta amarga que a mãe masserava com água e deixava descansar por algumas horas para extrair bem a essência, coava e o empurrava goela abaixo de Estevão, quando bebia demais, ou quando estava mal do estômago. Ele xiou em protesto, mas sabia que o remédio era eficaz e o deixaria novo em folha bem rápido, então sem abrir os olhos, ergueu a caeça o suficiente e bebeu. Tudo. E pigarreou a garganta numa tentativa de se livrar do gosto ruim.
"-Pronto.Que horas são?" - perguntou.
Marina respondeu:
" Meio dia."
Estevão deu um salto e gritou:
"- O quê?" - pôs-se de pé, pegou seus objetos de higiene pessoal e marchou para o banheiro no fim do corredor – Por que não me acordou antes?" - disse ao fechar a porta atrás de si.
Ao que sua mãe respondeu simplesmente:
"- Você não me disse que tinha compromissos." e recolheu o copo do criado mudo, saiu do quarto do filho e desceu as escadas para lhe preparar o desjejum.
Quinze minutos mais tarde, de banho tomado, cabelos ainda molhados mas muito bem penteados, camisa branca e terno cinza, Estevão adentrou a cozinha da mãe, totalmente refeito da noite anterior. Marina olhou para ele e não conseguia acreditar em como o filho era lindo! Fez uma prece silenciosa para que ele ficasse bem, e que Deus protegesse-o dele mesmo e cuidasse de seu coração! No fundo sabia que tudo aquilo que ele perseguia poderia ser apenas poeira e isso feriria ainda seu coração e ela temia o que isso causaria nele.
Tomou o rosto do filho entre as mãos e beijou-lhe a testa, enquanto o abençoava:
"- Deus te abençoe, meu filho, e o proteja!"
Estevão olhou nos olhos da mãe e viu sabedoria, preocupação e dor neles. E ela tinha razão. Nem ele mesmo tinha certeza de que não sairia ferido de tudo aquilo. Mas jamais desistiria sem ao menos tenta. Isso não! Então apenas fechou os olhos enquanto a mãe o beijava e disse:
"-Amem!
Sentou-se para uma xícara de café preto somente, mas Marina não o deixaria sair de casa sem forrar o estômago, então, pôs diante dele uma fatia de bolo de fubá e um pão caseiro, com manteiga que ela mesma preparara e um bule com leite quente. Estevão olhou para a mãe e viu a determinação em seu olhar e nem tentou resistir – comeu e bebeu seu café em silêncio. Quando havia acabado, sua mãe, que estivera andando de um lado a outro da cozinha, arrumando, limpando e organizando armários, parou de repente e sentou-se diante dele.
"-Precisamos conversar." Disse.
Estevão olhou-a nos olhos e percebeu que o assunto era mesmo sério – talvez ela fosse argumentar para tentar dissuadí-lo de seus planos. Mas Estevão não tinha tempo para isso agora.
"- Mãe, infelizmente eu tenho horário a cumprir e estou até atrasado. Vamos deixar essa conversa para depois, sim?"
Quando Marina abriu a boca para protestar, seu celular tocou e Estevão atendeu, enquanto se levantava e saia de casa, sem olhar para trás.
Ela ficou olhando-o se afastar, mas não tinha forças para chamá-lo de volta e fazê-lo sentar-se ali e ouvir o que ela tinha a lhe dizer...talvez fosse melhor assim. Pegou um copo d'água para beber e só então percebeu o quão abalada estava: suas mãos tremiam terrivelmente. Marina bebeu e respirou fundo, acalmando-se. Não podia mais fugir ou fingir que nada acontecera, chegara o momento em que devia encarar o passado e revelar a seu filho tudo sobre sua origem. Deus, ele seria capaz de perdoá-la? Fechou os olhos implorando a Deus para que seu menino a compreendesse e fosse capaz de perdoá-la um dia. Limpou a lágria furtiva que escorrega pelo canto do olho. Estava decidida. Laila tinha razão: eles precisavam saber, já se passara tempo demais.
Estevão parou em frente ao Cartório Municipal, pegou sua bolsa com todos os seus documentos, saiu do carro e entrou. Lá, o dono da Imobiliaria o esperava para realizarem os trâmites da compra do terreno. Estevão o cumprimentou dizendo:
"- Alô, Marvim! Como está – disse apertando-lhe a mão e sorrindo polidamente – Peço desculpas por haver me atrasado."
"- Olá, Sr. Moreira. Não há problemas – disse com um sorriso largo – Não tenho muitos afazeres na loja hoje." Disse e o conduziu até o balcão. Estevão retirou os papéis a serem lavrados, assinou, quando ficaram prontos e deu a Marvim para que os assinasse também. Feito.
A primeira etapa de seu plano estava concluída: comprara as terras que tanto sonhara. Agora precisava dar início a fase dois.
Pegou os documentos e guardou-os na sua pasta e despediu-se dos homens a sua frente e saiu.
Agora precisava de um escritório ali em Greensborough. Foi para o centro da cidade para buscar por algum prédio que lhe agradasse e estivesse de acordo com o que tinha em mente.
Duas horas depois, Estevão havia encontrado e era perfeito! - Era simples, mas possuia certa sofisticação e certamente ficaria melhor depois que ele trabalhasse nele; Era uma construção de dois andares, de linhas simples, mas guardava um ar bucólico, talvez pelo estilo colonial em que fora construído. Era de tijolos aparentes, claros, possuía amplas janelas que até poderiam se passar por vitrines, se fosse o caso. A porta era de madeira maciça, com aplicação de vitrais coloridos na parte de cima, que era em arco; possuía uma belíssima fechadura em metal negro, com alguns arabescos, e era uma porta dupla. Dentro, o salão principal era espaçoso e charmoso, com pé direito alto, paredes com papel de parede marfim, muito bem conservado e o piso era de granito escuro, cinza chumbo. No andar superior haviam duas salas, uma cozinha aberta e bem equipada e banheiros no fim do corredor. A decoração era a mesma do andar inferior e Estevão não podia acreditar em sua sorte, pois teria pouquíssimo trabalho para aprontá-lo para operar e a melhor parte: ficava a poucos metros de onde Carol trabalhava!
Estevão fechou negócio e alugou o prédio com o dono, o amável Senhor Norwood. Assinaram contrato e o Sr. Norwood lhe entregara as chaves.
Estevão se despediu e saiu cantarolando de lá.
Ele tinha muito a fazer ainda naquele dia e então apressou-se para a loja de móveis mais próxima e fez alguns telefonemas.
No fim do dia, estava quase tudo acertado e na próxima semana teria seu escritório pronto e funcionando a todo vapor. Mal podia acreditar em como tudo estava progredindo bem até então.
Estevão parou em uma barraca que vendia flores e comprou alguns vasos: uma orquídea lilás, umas violetas e sentiu-se satisfeito: sua mãe adoraria as novas aquisições e acabaria esquecendo-se da tal conversa, esperava. Além do mais as flores eram lindas e ninguém as merecia mais que Marina.
Já passava das seis horas quando chegou em casa. Marina ficara realmente exultante com os presentes e saiu porta afora para encontrar-lhes um lugar em sua varanda. Estevão sorriu.
Subiu as escadas rumo ao antigo quarto, e depois foi tomar um banho. Precisava relaxar um pouco e um banho quente lhe faria muito bem.
Mais tarde, entrou na cozinha faminto, em busca das delícias que só sua mãe sabia fazer e não se decepcionou: havia um cozido de frango com quiabo, que ele adorava, e polenta – hummmm!
Estevão inspirou os aromas deliciosos das panelas e serviu-se. Comeu devagar, saboreando cada porção que levava a boca, com reverência quase religiosa – seus olhos se fechavam deliciando-se com o sabor de comida caseira de verdade! - Nem se lembrava mais de quando pudera comer algo tão saboroso assim! - Há dois, três anos que a mãe o visitara da ultima vez? Parecia um tempo muito longo sem saborear sua comida divina!
Estevão acabou e ela ainda estava na varanda. Ele riu e imaginou a mãe conversando com suas novas moradoras, lhes fazendo mimos e elogios e carinhos. Sua mãe era mesmo única!
Decidiu juntar-se a ela e aproveitaria para lhe contar seus progressos quando parou abruptamente.
Estevão congelou: diante de si, parado na varanda, estava uma cópia fiel sua, apenas com algumas linhas de expressão e cabelhos grisalhos o diferenciava de si mesmo. Tudo naquele homem era ele próprio: a mesma altura, o olhar duro e frio, de um verde escuro, quase castanho; os ombros largos, boca bem feita que comprimia-se numa linha fina, enquanto o encarava,os olhos presos nos seus. A única diferença entre ambos era o tom da pele – o senhor mais velho possuía uma pele clara, que empalideceu ao vê-lo.
Estevão estava em choque e não conseguia pensar, ou pronunciar palavra e se sua mãe não tivesse falado, ele nem mesmo se lembrava que ela estivera ali:
'- Estevão, quero lhe apresentar seu pai, Edward Donahill. Edward, esse é seu filho, Estevão."