O Custo Invisível do Amor
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Capítulo 2

Na manhã seguinte, fui para o meu turno na cafeteria como se nada tivesse acontecido. O cheiro familiar de grãos torrados e leite vaporizado era um estranho conforto.

Eu mantive este emprego, mesmo depois que Daniel ficou rico. Ele me pediu para sair uma dúzia de vezes.

- Você não precisa mais fazer isso, Bianca. Eu posso cuidar de você.

Mas eu sempre recusei. Esta cafeteria ficava perto da universidade onde nos conhecemos. Era o último pedaço da minha vida antiga, a vida antes dele, e eu não conseguia largar. Era também uma âncora, um lembrete de onde ele veio, um lugar que eu tolamente pensei que ele poderia precisar voltar um dia.

Eu tinha planejado dar meu aviso prévio de duas semanas hoje. Minha gerente, uma senhora mais velha e gentil chamada Sra. Gable, ficou triste ao saber.

- Tem certeza, querida? Sentiremos sua falta. Você é a melhor barista que já tive.

A gentileza dela fez minha garganta apertar.

- Tenho que voltar para casa - eu disse, a mentira com gosto de cinzas.

- Bem, você poderia me fazer um último favor? Temos um grande pedido de catering para uma conferência de tecnologia no centro. Minha outra funcionária ficou doente. Eu te pago o dobro.

Eu concordei. O dinheiro seria útil.

A conferência era em um prédio elegante e moderno, com paredes de vidro e detalhes em aço frio. Era o mundo de Daniel. Enquanto eu arrumava as garrafas térmicas de café e as bandejas de doces em um salão lateral, eu vi.

Em um painel digital que exibia fotos dos palestrantes do evento, havia uma foto de Daniel e Carla.

Eles estavam lado a lado, sorrindo. Ele parecia relaxado, feliz. Um sorriso genuíno, não o cansado e forçado que ele me dava. Carla estava radiante, sua mão repousando levemente no braço dele, um gesto casual e possessivo. Eles pareciam pertencer um ao outro.

- Eles formam um belo casal, não é?

Virei-me para ver duas mulheres de terninho olhando para a mesma foto.

- Ele é Daniel Rocha, o gênio da Apex Innovations. E ela é Carla Vidal. O pai dela é um magnata da tecnologia, um grande investidor na empresa dele.

Minha mão tremeu enquanto eu servia o café. Mantive a cabeça baixa, esperando que não me notassem.

- Ele está mesmo com ela? - perguntei, tentando manter minha voz firme.

- Ah, com certeza - disse a primeira mulher, sem nem olhar para mim. - Ele é obcecado por ela. Ele nunca vinha a esses eventos de networking, mas agora aparece em todos que ela está. Ele até redesenhou toda a interface do laboratório dele com base em uma sugestão que ela fez.

- Ouvi dizer que ele até compra café para ela todas as manhãs, aquele caro daquela lojinha artesanal - acrescentou a outra. - Meu Deus, o que eu não daria por um cara assim.

Uma dor aguda, mais fria e intensa que minha dor de estômago crônica, me dominou. *Ele compra café para ela todas as manhãs.* Ele se lembrava do pedido de café dela, mas sempre esquecia meu aniversário.

- E a mulher com quem ele mora? - outra colega se juntou a elas. - Aquela da cidade natal dele?

A primeira mulher zombou.

- Ah, ela? É só uma sanguessuga. Ouvi dizer que ela trabalha como garçonete ou algo assim. Dá pra imaginar? Daniel Rocha, um homem na capa de revistas de tecnologia, com uma garçonete? É vergonhoso.

- Alguém deveria dizer a ele para simplesmente pagar pra ela sumir e se livrar dela. Ela o está puxando para baixo.

As palavras eram como pedras, me atingindo, me machucando. Senti meu rosto corar de vergonha.

Eu queria gritar que não era uma sanguessuga. Fui eu quem o ergueu. Mas qual era o sentido? No mundo delas, eu não era nada.

- Você está bem, moça? - uma das mulheres perguntou, finalmente notando meu rosto pálido.

Forcei um sorriso.

- Sim. Acho que vocês estão certas. Eles formam um casal perfeito.

Terminei meu trabalho atordoada, minhas mãos se movendo no piloto automático. Embalei os recipientes vazios e empurrei o carrinho para fora, desesperada para escapar.

Apressei-me pelo saguão, de cabeça baixa, querendo apenas desaparecer no anonimato das ruas da cidade.

Então eu congelei.

Através das portas giratórias de vidro, eu os vi. Daniel e Carla, parados na calçada.

Ela estava rindo de algo que ele disse, a cabeça inclinada para trás. Ela estendeu a mão e ajustou o nó da gravata dele, seus dedos demorando em seu peito por um momento a mais. Ele não se afastou. Ele apenas a observava, um sorriso suave no rosto.

- A frequência de ressonância do processador quântico é instável - ele dizia, sua voz animada de uma forma que eu não ouvia há anos. - Mas se redirecionarmos o sistema de resfriamento através de um coletor terciário...

Carla assentiu, seus olhos brilhando de compreensão.

- Você poderia criar um estado quântico estável sem sacrificar a velocidade de processamento. Brilhante.

Eles estavam falando sobre o trabalho dele, sua paixão. Estavam falando uma língua que eu nunca entenderia.

O abismo entre nós nunca pareceu tão vasto, tão intransponível. Não era apenas sobre dinheiro ou status. Era sobre conexão, sobre mentes se encontrando. Ele havia encontrado sua igual.

E eu era apenas um fantasma de um passado que ele estava desesperado para esquecer.

Virei-me e fugi, sem olhar para trás.

Quando voltei para o apartamento, ele já estava lá. Estava parado na sala de estar, cercado por caixas de mudança.

Ele havia encontrado a caixa do bolo no lixo. A única vela queimada ainda estava lá.

- Foi seu aniversário ontem - ele disse, sua voz baixa. Ele parecia culpado.

Eu apenas assenti, minha garganta muito apertada para falar.

- Me desculpe, Bianca. Eu... eu esqueci. Houve uma crise no trabalho.

- Tudo bem - eu disse.

- Eu vou compensar - ele prometeu, a mesma promessa vazia de sempre. - Vamos sair para um jantar legal na próxima semana.

- Não se preocupe com isso, Daniel. Você deveria se concentrar no seu trabalho. É mais importante. - Eu já o estava deixando ir. Estava facilitando para ele.

Ele pareceu aliviado.

- Ok. Se você tem certeza.

Ele olhou para mim, um lampejo de algo indecifrável em seus olhos.

- O que você desejou?

Eu queria dizer: "Desejei que você me amasse."

Mas antes que eu pudesse responder, o telefone dele tocou. Era Carla. Ela teve um pneu furado a caminho de casa da conferência.

- Já estou indo - ele disse, pegando as chaves. Ele sumiu em um piscar de olhos, me deixando sozinha com meu desejo não desejado e uma casa cheia de caixas.

Comi o resto do cheesecake no jantar. Estava frio e doce, mas tudo que eu conseguia sentir era amargura.

            
            

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