O Custo Invisível do Amor
img img O Custo Invisível do Amor img Capítulo 4
4
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

- Onde você conseguiu isso? - perguntei, meu coração batendo contra minhas costelas. Sentei-me, puxando os cobertores com mais força ao meu redor.

- Estava no balcão - ele disse, seus olhos fixos na passagem como se fosse um objeto estranho que ele não conseguia compreender.

- Minha mãe não está se sentindo bem - menti, as palavras saindo facilmente agora. - Vou para casa para vê-la.

Ele pareceu aliviado, parte da tensão deixando seus ombros.

- Por quanto tempo?

- Uma semana ou duas.

Ele assentiu. Claro que ele não se ofereceria para ir comigo. Ele odiava minha cidade natal. Odiava as memórias de seu passado que viviam lá. Ele nunca voltaria.

E eu sabia, com uma certeza que se instalou fundo em meus ossos, que uma vez que eu saísse deste apartamento, eu nunca mais voltaria. Nós nunca mais nos veríamos.

Ele finalmente olhou para mim, seu olhar caindo para o meu tornozelo enfaixado.

- O que aconteceu com seu pé?

- O incêndio no restaurante. Eu caí.

- Você voltou para dentro? - ele perguntou, uma carranca vincando sua testa. - Por que você faria isso?

- Eu estava procurando por você - eu disse simplesmente. - Eu estava preocupada.

Sua expressão congelou. Ele me encarou, e por um segundo, eu vi o garoto no telhado novamente, aquele que tinha olhado para mim com uma necessidade tão crua e desesperada.

- Você está sempre fazendo isso - ele sussurrou. - Sempre correndo para incêndios por mim.

Dei uma risada pequena e amarga.

- Não mais, Daniel.

Ele tinha Carla para protegê-lo agora. Ela era seu escudo, sua parceira. Eu era apenas uma relíquia de uma vida que ele havia superado. Eu não disse isso em voz alta. Qual era o sentido?

- Você está certo - eu disse em vez disso, minha voz oca. - Nós dois temos nossos próprios caminhos a seguir agora.

Ele passou a manhã me ajudando a mover o resto de suas coisas para a nova cobertura. Eu embalei minhas duas malas separadamente, colocando-as perto da porta.

- Só preparando isso para a minha viagem - eu disse quando ele olhou para elas.

Ele não questionou.

Logo, nosso apartamento estava vazio. Os cômodos ecoavam com nossos passos. Os fantasmas dos últimos dez anos pareciam pairar nos grãos de poeira que dançavam à luz do sol. Este lugar tinha sido nosso santuário, a primeira casa bonita que compartilhamos. Agora era apenas uma casca.

Eu estava limpando os últimos armários da cozinha, jogando fora temperos velhos e latas esquecidas, quando fui levar o lixo para fora.

O corredor estava silencioso. Quando cheguei ao duto de lixo, uma mão tapou minha boca por trás. Outro braço envolveu minha cintura, me levantando do chão.

Lutei, mas o aperto era como ferro. Fui arrastada para a escada de emergência, a pesada porta corta-fogo batendo atrás de nós.

A última coisa que vi antes de um golpe forte na nuca me levar à escuridão foi um rosto que era uma versão cruel e distorcida do de Daniel.

Acordei em um chão frio e úmido. Minhas mãos e pés estavam amarrados com lacres de plástico que cortavam minha pele. O ar cheirava a mofo e cerveja velha. Eu estava em algum tipo de galpão abandonado.

Um homem saiu das sombras. Ele tinha o cabelo escuro e o maxilar afiado de Daniel, mas seus olhos estavam cheios de uma luz zombeteira e ressentida.

- Olha o que temos aqui - ele disse, circulando-me como um predador. - O caso de caridade do Daniel.

Ele se agachou na minha frente.

- Você deve ser a Bianca. Eu sou Demétrio. Primo do Daniel. Aquele que ele gosta de fingir que não existe.

- Ele não é como você - cuspi, minha voz rouca.

- Ah, mas ele é - Demétrio zombou. - Ele só é melhor em esconder. - Ele atacou, o dorso de sua mão atingindo minha bochecha. O golpe enviou uma explosão de dor pela minha cabeça. Meu lábio se partiu e senti o gosto de sangue.

- Nunca mais o defenda para mim - ele rosnou.

Ele agarrou meu queixo, forçando-me a olhá-lo.

- Agora, você vai ligar para o meu querido primo. Você vai dizer a ele que eu te peguei. Você vai dizer a ele que se ele te quiser de volta inteira, ele vai transferir metade das ações da empresa dele para mim.

Eu o encarei, meu coração martelando. Eu não faria isso. Eu nunca seria uma arma usada contra Daniel.

Eu balancei a cabeça.

O rosto de Demétrio se contorceu em uma careta de fúria. Ele pegou meu celular do meu bolso e discou o número de Daniel. Ele colocou no viva-voz.

Chamou. E chamou. E chamou.

Caixa postal.

- Ele não está atendendo - disse Demétrio, sua voz perigosamente baixa. Ele discou novamente.

Novamente, sem resposta.

- Viu? - ele provocou, seu rosto perto do meu. - Ele não se importa. Ele provavelmente está com sua nova namorada rica. Ele já se esqueceu de você.

As palavras eram veneno, mas me recusei a deixá-las funcionar.

- Ele está ocupado. O trabalho dele é importante.

Demétrio riu, um som áspero e feio.

- Você ainda o está defendendo? Sua vadia estúpida. - Ele acenou para dois capangas que estavam à espreita nas sombras. - Dêem uma lição nela.

Eles me arrastaram para os meus pés. Um punho bateu no meu estômago, tirando meu fôlego. Outro golpe atingiu minhas costelas. A dor explodiu pelo meu corpo. Eles me jogaram no chão, e uma bota conectou com meu lado.

Demétrio pegou meu celular novamente.

- Uma última tentativa.

Ele segurou o telefone no meu ouvido enquanto chamava. Rezei para que Daniel não atendesse. Rezei para que ele estivesse seguro, feliz, alheio.

Mas desta vez, quando estava prestes a ir para a caixa postal, a chamada conectou.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022