O Custo Invisível do Amor
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Capítulo 5

- O Daniel está ocupado agora. Posso anotar o recado?

Não era a voz dele. Era a dela. Carla.

Uma onda de pavor gelado me invadiu, mais arrepiante que a dor nas minhas costelas.

Demétrio sorriu, seus olhos brilhando de triunfo.

- Ora, ora, ora. Veja quem atendeu o telefone. Carla Vidal. Coloque meu primo na linha.

Houve uma pausa do outro lado. Então a voz de Carla, mais afiada agora, tingida de suspeita.

- Quem é?

- É o homem que está com o bichinho de estimação do seu namorado - Demétrio rosnou. - E se ele quiser vê-la de novo, é melhor ele ouvir minhas exigências.

Ele desligou antes que ela pudesse responder.

Ele chutou meu lado novamente, para garantir.

- Então, ele está com ela. Imaginei.

Encolhi-me em uma bola, meu corpo gritando de dor. Mas a agonia física não era nada comparada à imagem em minha cabeça: Daniel e Carla, juntos, enquanto eu estava aqui, sendo espancada por causa dele.

Um medo profundo e primitivo me dominou. Não por mim, mas por ele. Demétrio estava descontrolado. Ele poderia arruinar tudo pelo que Daniel havia trabalhado tanto.

Justo quando Demétrio estava prestes a ordenar que seus homens me machucassem novamente, seu telefone tocou. Ele olhou para o identificador de chamadas e sua expressão mudou. Era um número privado.

Ele se afastou alguns metros, virando as costas para mim. Sua voz era baixa, mas eu podia ouvir trechos da conversa. "...Sim... O preço que combinamos... Ela está um caco, exatamente como você queria... Não se preocupe, ele nunca vai descobrir que foi você."

Um acordo. Ele tinha feito um acordo.

Ele desligou e voltou para mim, um olhar de fria satisfação no rosto. Ele zombou, depois se virou e saiu do galpão, deixando-me com seus dois capangas.

Pensei que eles iam me matar. Mas alguns minutos depois, a porta se abriu novamente.

Era Carla.

Ela entrou sozinha, seus saltos caros estalando no chão de concreto. Ela olhou para mim, amassada e sangrando, e seu rosto era uma máscara de fria indiferença. Ela entregou a um dos capangas um envelope grosso de dinheiro. Eles pegaram e saíram sem uma palavra.

- Levante-se - ela disse, sua voz desprovida de qualquer emoção.

Ela me ajudou a ficar de pé, seu toque surpreendentemente forte.

- Vou te levar a um hospital.

Eu não conseguia falar. Meu maxilar latejava, e eu tinha certeza de que alguns dos meus dentes estavam soltos.

O hospital era uma clínica particular, limpa e silenciosa. O médico foi discreto. Ele suturou meu lábio, verificou minhas costelas e me ajustou uma ponte dentária temporária para cobrir as lacunas onde meus dentes haviam sido arrancados.

Carla observava da porta, com os braços cruzados. Quando o médico terminou, ela entrou.

- Obrigada - ela disse, sua voz baixa. - Por levar a surra que era para ele.

Ela havia armado tudo. A ameaça de Demétrio, o sequestro, a surra. Foi tudo ela. Ela criou uma crise que só ela poderia resolver, tornando Daniel ainda mais endividado com ela.

- O que você prometeu a Demétrio? - consegui perguntar, minhas palavras arrastadas.

- Isso não é da sua conta - ela disse bruscamente. - O que é da sua conta é que eu posso proteger o Daniel, e você não. Você viu por si mesma. Ele te deixou em um prédio em chamas. Ele não atendeu sua ligação. Ele seguiu em frente. É hora de você fazer o mesmo.

Passei a semana seguinte me recuperando, escondida no apartamento. Andei pelas ruas da cidade à noite, revisitando os lugares que guardavam nossa história. A lanchonete barata onde comemoramos sua primeira patente. O parque onde costumávamos sentar por horas, planejando um futuro que nunca aconteceria.

A cidade que antes parecia uma promessa agora parecia uma jaula. Eu não pertencia aqui. Eu havia construído meu mundo inteiro em torno de Daniel, e sem ele, eu era apenas um fantasma. Ele havia criado raízes profundas aqui, mas eu era apenas uma erva daninha, facilmente arrancada e descartada.

Uma noite, meu telefone tocou. Era ele.

- Onde você está? - ele perguntou, sua voz tensa com uma emoção que eu não consegui identificar.

Eu disse a ele o nome do parque em que estava. Ele chegou em dez minutos.

- O que você está fazendo aqui fora sozinha? - ele perguntou, seu olhar varrendo meu rosto machucado.

- Relembrando - eu disse. - Você sente falta disso, Daniel? Da luta? Dos dias em que éramos só nós contra o mundo?

Ele ficou em silêncio por um longo momento. Ele olhou para o horizonte da cidade, para as torres reluzentes que representavam seu sucesso.

- Não - ele disse finalmente, sua voz plana e dura. - Eu não sinto. Eu odeio aquela época. Odeio ser fraco. Odeio ser um caso de caridade.

Suas palavras foram um golpe final e brutal. Nosso passado, a base sobre a qual eu pensei que nosso amor foi construído, era uma fonte de vergonha para ele.

Eu queria perguntar a ele: "Eu fazia parte dessa vergonha? Meu amor era apenas um lembrete de um passado que você queria apagar?"

Mas eu não perguntei. Eu já sabia a resposta.

Forcei um sorriso, os pontos no meu lábio repuxando dolorosamente.

- Você está certo. Nós dois deveríamos olhar para frente, não para trás.

                         

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