Faltando apenas um dia para minha partida, fui a uma loja de departamentos para comprar um caderno novo e algumas canetas para a faculdade.
"Com licença", eu disse ao vendedor atrás do balcão. "Poderia me dar aquela caneta-tinteiro, por favor?"
"Espere aí." Uma voz ríspida interrompeu. Um jovem empurrou o vendedor para o lado. "Eu cuido desta."
Eu o reconheci imediatamente. Era Kaio, o irmão mais novo de Késsia. Ouvi dizer que ele era um mimado que nunca parava em emprego nenhum.
O que ele estava fazendo trabalhando aqui?
"Você conseguiu um emprego?", perguntei, genuinamente surpresa.
Ele sorriu de lado, um brilho desagradável e zombeteiro em seus olhos. "Arthur conseguiu para mim. Ele vai ser meu cunhado em breve, afinal."
Ele se inclinou para mais perto, sua voz um sussurro conspiratório. "Engraçado, não é? Você é a noiva dele, mas nem sabia. Mostra o quanto ele pensa em você."
Um sentimento amargo revirou meu estômago.
Lembrei-me da minha própria prima, uma mulher boa e trabalhadora que havia perdido sua fazenda. Eu engoli meu orgulho e perguntei a Arthur se ele poderia ajudá-la a encontrar um emprego simples, qualquer coisa para sustentar sua família.
Ele havia se recusado, sua voz fria e justa. "Eu não uso minha posição para favores pessoais, Eva. É uma questão de princípio."
Princípio. A palavra era uma piada. Ele não tinha princípios quando se tratava de Késsia e sua família.
Empurrei o sentimento para baixo e tentei novamente. "Eu gostaria de comprar a caneta."
Kaio se recostou, de braços cruzados. "Desculpe. Esgotou."
"Está bem ali", eu disse, apontando para a caneta na vitrine.
"Essa está reservada para um órgão do governo", disse ele suavemente. "Não está à venda para pessoas físicas."
Respirei fundo. "Tudo bem. E aquele caderno?"
"Reservado."
"A tinta?"
"Também reservada."
Finalmente entendi. Ele estava fazendo isso de propósito.
"Por que você está dificultando as coisas para mim?", perguntei, minha voz baixa.
Ele zombou. "Porque você está no caminho. Você está entre minha irmã e o Arthur."
Ele gesticulou pela loja. "Vá em frente. Conte ao Arthur. Veja em quem ele acredita."
Eu sabia que ele estava certo. Arthur tomaria o lado dele sem pensar duas vezes. Não havia sentido em lutar.
Virei-me e saí da loja, a risada zombeteira de Kaio me seguindo.
Quando abri a porta do apartamento, o ar estava pesado de tensão.
Os pais de Arthur estavam sentados no sofá, seus rostos sombrios. Arthur e Késsia estavam por perto, parecendo igualmente mal-humorados.
A Sra. Gouveia me viu e seu rosto se abriu em um sorriso caloroso.
"Eva! Venha, sente-se."
Eu os cumprimentei educadamente. "General Gouveia, Sra. Gouveia."
"Nada disso", ela insistiu, seu tom caloroso. "Você deveria nos chamar de pai e mãe."
Forcei um sorriso e obedeci, meu coração doendo. Eu não suportaria decepcioná-los. Eles sempre foram gentis comigo.
O sorriso da Sra. Gouveia desapareceu quando ela se virou para o filho. Sua voz tornou-se severa.
"Arthur, o que significa isso? Você é um homem noivo. O que essa mulher está fazendo na sua casa?"
"Ela não é apenas 'uma mulher', mãe", retrucou Arthur, sua voz ríspida. "Ela é minha assistente jurídica e está se recuperando de uma lesão. É minha responsabilidade cuidar dela."