"Sr. Gouveia, isso parece ser um simples mal-entendido. Vamos apenas mediar e deixar sua noiva ir."
Arthur balançou a cabeça lentamente, seus olhos nunca deixando os meus. "Não, delegado. Trate isso como trataria qualquer outro caso. Minha noiva não está acima da lei."
Um pavor frio me invadiu. Olhei para ele, incrédula.
Seu olhar era duro, implacável. "Você se tornou arrogante e imprudente, Eva. Você é uma vergonha para minha família. Você precisa aprender uma lição."
Ele se virou para o delegado. "Prenda-a por agressão. Conforme o regulamento."
"Arthur, não", sussurrei, o pânico subindo em minha garganta. "Meu ônibus... não posso ficar presa."
"Isso é o que você merece", disse ele, sua voz desprovida de qualquer emoção. "Isso lhe dará tempo para refletir sobre seu comportamento. Voltarei para te buscar em três dias."
Késsia me lançou um olhar de puro triunfo.
Arthur se virou e saiu, Késsia e Kaio o seguindo como abutres.
Fechei os olhos, uma onda de puro desespero me invadindo.
Passei uma noite miserável em uma cela fria e úmida. Na manhã seguinte, um policial diferente abriu a porta. Era um homem mais velho, com um rosto gentil e olhos cansados. Era o Secretário de Segurança Pública, um homem que conhecia meu pai e sempre cuidou de mim.
"Secretário", eu disse, surpresa.
Ele suspirou, o som pesado de decepção. "Ouvi o que aconteceu, Eva. Eu te conheço. Você não é esse tipo de garota."
Minha garganta apertou. "Obrigada, senhor."
Depois de tudo, depois que o homem que eu amava me jogou aos lobos, a simples fé desse quase estranho em mim foi quase o suficiente para me fazer desabar. Ele podia ver a verdade tão claramente, enquanto Arthur estava voluntariamente cego.
"As lesões de Kaio são leves", disse ele, sua voz sombria. "Não havia razão para te prender durante a noite. Arthur pressionou o delegado."
Ele olhou para mim, uma triste compreensão em seus olhos. "Você fez muito por ele, pela unidade dele. Você é uma boa mulher, Eva. Ele não te merece."
Ele bateu a mão no meu ombro. "Já falei com o delegado. Você está livre para ir. Se o Arthur tiver algum problema com isso, ele pode vir falar comigo."
Apertei sua mão, minha voz rouca. "Obrigada, Secretário. Eu... nunca vou esquecer isso."
"Vá em frente, filha. Vá viver sua vida."
Voltei para o apartamento. Estava vazio. Fiz minha mala. Não demorou muito.
Escrevi uma carta curta para minha prima, dizendo que o noivado estava desfeito e que eu estava indo para a faculdade. Deixei-a com o dinheiro e o restante do dinheiro que consegui economizar.
Então caminhei para a rodoviária, sem nunca olhar para trás.
Quando o ônibus se afastou da estação, senti uma sensação de libertação tão profunda que era quase dolorosa.
Eu estava finalmente livre.