Morrendo por Sua Verdadeira Felicidade
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Capítulo 2

Minhas palmas estavam frias quando saí do jardim de inverno. Os Almeida haviam concordado, seus rostos uma mistura de coração partido e resignação. A primeira corrente estava quebrada.

Mas enquanto eu caminhava pelo corredor, a Sra. Almeida me alcançou, seu toque gentil em meu braço.

"Emília", ela começou, sua voz hesitante. "Eu sei que você já se decidiu. Mas... você faria uma última coisa por nós?"

Eu sabia o que ela ia pedir antes mesmo que dissesse.

"Não conseguimos convencê-lo a voltar para casa", disse ela, seus olhos suplicantes. "Ele não confia em nós. Mas você... ele pode te ouvir. Nós só o queremos de volta aqui, onde ele possa estar seguro, onde os médicos possam monitorá-lo."

Vi a esperança brilhando em seus olhos. A esperança de que, se Guilherme me visse, alguma parte adormecida de sua memória acordaria, que seu mundo perfeito voltaria ao lugar.

O Sr. Almeida apareceu atrás dela. "Estamos tão ocupados com a empresa, Emília. Não conseguimos nos afastar. Por favor. Apenas vá falar com ele."

Eu sabia que suas intenções eram puras, nascidas de uma vida inteira de amor por nós dois. Eu não podia recusá-los.

Mas eu também sabia que a esperança deles era uma fantasia.

O homem que eu ia ver não seria comovido pela minha presença. Ele não era mais meu.

Eles me deram o endereço, uma pequena e precária cabana à beira de um lago, a horas da cidade. Era o lugar para onde Carla o levara após o acidente.

Quando cheguei, eu o vi antes que ele me visse. Ele estava sentado em um píer de madeira instável, jogando pedras na água. Ele usava roupas que não eram suas - jeans desbotados, uma camiseta simples. Parecia mais jovem, menos sobrecarregado.

Ele estava entalhando um pequeno pedaço de madeira. Meu olhar se demorou nele e, naquele instante, ele ergueu os olhos, afiados e desconfiados.

"Quem é você?", ele perguntou. Sua voz era seca, fria.

"Eu sou a Emília", eu disse, mantendo minha própria voz calma. "Não estou aqui para te machucar."

Ele não relaxou. Suas sobrancelhas se franziram. "Eu não vou voltar com você. A Carla precisa de mim."

Eu nunca o tinha ouvido falar com tanto desdém frio. O Guilherme que eu conhecia falava comigo com um calor que era só meu. A voz desse estranho foi um choque, um solavanco físico que me deixou momentaneamente sem fôlego.

Nesse momento, uma figura emergiu do lago. Carla Pires, com o cabelo penteado para trás, a água escorrendo de seu corpo esguio. Ela era linda, vibrante.

Guilherme se levantou em um segundo, correndo para a beira do píer. Ele a tirou da água, envolvendo uma toalha grande em seus ombros. Ele se preocupou com ela, secando gentilmente a água de suas bochechas com o canto da toalha.

Ele segurava o pedaço de madeira que estava esculpindo. Ele o colocou na mão dela. Era um pássaro tosco, inacabado.

Carla sorriu, seu rosto se iluminando. Ela ficou na ponta dos pés e beijou sua bochecha. "Não deixe ninguém te ver, bobo", ela sussurrou, puxando o capuz do moletom dele para cobrir seu rosto. "Você é o meu segredo."

Uma memória veio à tona. Guilherme ficou desaparecido por três semanas antes de o encontrarmos. Ele não estava apenas perdido; Carla o havia escondido.

Os olhos dela encontraram os meus por cima do ombro dele. Ela congelou. Sua mão disparou, agarrando meu pulso com uma força surpreendente.

"Eu não o escondi de propósito!", ela deixou escapar, sua voz aguda e em pânico. "Ele estava ferido e não sabia quem era! Eu só estava cuidando dele!"

Olhei para ela, para o medo cru em seus olhos. Eu não precisei dizer uma palavra. Ela sabia que eu sabia.

"Eu o amo", ela confessou, sua voz falhando. Seu aperto em meu pulso se intensificou. "Por favor, não o leve embora de mim. Eu sei quem você é. Você é a noiva dele. Você tem tudo. Eu só tenho ele. Eu vou morrer se ele me deixar."

Eu não respondi. Meu olhar se voltou para Guilherme. Ele observava Carla, sua expressão feroz e protetora. Ele era um cão de guarda, pronto para atacar qualquer um que a ameaçasse.

A cena era uma estranha mistura de dor e alívio. Ele realmente a amava. Meu sacrifício não seria em vão.

Eu não podia ser egoísta de novo. Não podia prendê-lo a mim com um passado que ele não lembrava e um futuro que eu não tinha.

"Não estou aqui para tirá-lo de você", eu disse calmamente, minha voz tirando Carla de sua espiral de pânico.

Ela me olhou, perplexa.

"Estou aqui para levar os dois para casa. Para a casa dele."

Seus olhos se arregalaram. "O quê?"

"Se eu deixar você aqui", expliquei, minha lógica fria e clara, "ele não virá comigo. Então você tem que vir também."

Lembrei-me das histórias da minha primeira vida. Depois que a memória de Guilherme voltou e ele voltou para mim, ele ficou frenético para encontrá-la. Mal comia ou dormia. Ameaçou pular do prédio do Grupo Almeida se seus pais não o ajudassem a encontrar Carla.

Quando finalmente a localizaram, era tarde demais. Ela havia tomado uma overdose de pílulas.

Sua dor tinha sido uma coisa terrível e silenciosa. Havia se instalado sobre ele, uma sombra permanente. E essa sombra se transformou em um pesado senso de responsabilidade para comigo.

Eu não deixaria isso acontecer desta vez.

"Façam as malas", eu disse a Carla, minha voz gentil, mas firme. "Os pais dele sabem de você. Eles não vão se opor ao seu relacionamento."

            
            

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