Morrendo por Sua Verdadeira Felicidade
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Capítulo 7

Os sussurros continuaram, um zumbido baixo de fofoca e pena que enchia o grande salão de baile.

"Pobre Emília. Primeiro os pais, agora isso."

"Ele era tão devotado. Que reviravolta."

Consegui um sorriso fraco e frágil.

De repente, a sala ficou em silêncio. Todas as cabeças se viraram para a grande escadaria.

Carla estava no topo, uma visão em um vestido de alta costura, coberta de diamantes. Seu sorriso era radiante, triunfante. Ela desceu as escadas, banhando-se na atenção súbita e focada da elite de São Paulo.

Guilherme a encontrou no final. Ele pegou sua mão, seus olhos brilhando com um amor tão intenso que era quase doloroso de assistir.

Ele pigarreou, pronto para fazer o anúncio oficial, para apresentar seu verdadeiro amor ao mundo.

Mas antes que pudesse falar, as luzes piscaram e morreram.

O salão de baile mergulhou na escuridão absoluta. O pânico explodiu. O som de gritos e móveis caindo encheu o ar.

Instintivamente, recuei para um canto, tentando ficar fora do caos. Uma mão apertou meu pulso. Outra pressionou um pano encharcado de produtos químicos sobre minha boca e nariz.

O mundo girou. Lutei, mas minha força se esvaiu rapidamente. A última coisa que ouvi antes de perder a consciência foi o grito aterrorizado de uma mulher.

Acordei com o som da voz de Carla, um sussurro furioso e abafado.

"Seus idiotas! Eu disse para fazerem isso depois da festa, não durante! E vocês pegaram a pessoa errada!"

Ela estava discutindo com alguém. "Não vou pagar o resto do dinheiro!"

Minha mente clareou instantaneamente. Carla havia armado um falso sequestro, um plano de donzela em perigo para fazer de Guilherme seu herói. Mas seus capangas contratados haviam estragado tudo. Eles me levaram em vez dela.

Ou talvez... eles não fossem capangas dela.

"Chefe, você acha que ela está fingindo?", perguntou um dos homens, sua voz rouca.

"Quem se importa? Apague ela", respondeu outra voz, mais profunda e ameaçadora.

Houve um baque surdo, e a voz de Carla foi silenciada.

Mantive meus olhos fechados, fingindo inconsciência. Flexionei sutilmente meus dedos, sentindo a textura áspera do cinto do homem perto de mim. Havia um coldre de arma vazio. Estes não eram os criminosos insignificantes que Carla teria contratado.

O zumbido baixo de um motor de barco vibrava pelo chão. O cheiro salgado do mar encheu o ar.

Meu coração afundou. Reconheci a voz do segundo homem. Era Victor Cain, um rival de negócios implacável dos Almeida. Ele não estava brincando.

Estávamos em um barco, indo para o mar.

Depois do que pareceu uma eternidade, o barco parou. Ouvi o som de uma videochamada se conectando.

"Ora, ora, Guilherme Almeida", a voz de Victor trovejou. "Olha o que eu tenho aqui. Seu novo amor e sua antiga paixão. Você só pode salvar uma. Quem será?"

Senti um telefone sendo apontado para o meu rosto. Mantive meus olhos fechados, meu rosto flácido.

Eu podia ouvir o som de outros barcos se aproximando - a equipe de segurança de Guilherme.

Ele estava aqui.

Na tela do telefone, eu podia ver seu rosto. Ele estava em um iate, sua expressão uma máscara de fúria fria. Mas quando a câmera se moveu para Carla, que tinha uma marca vermelha no ombro onde fora agarrada, sua compostura se quebrou.

"Não ouse tocá-la, Cain", Guilherme rosnou, sua voz vibrando de raiva. "Se você machucar um único fio de cabelo dela, eu destruirei você e toda a sua família."

Eu estava de olhos fechados, mas não consegui impedir a única lágrima que escapou e traçou um caminho frio pela minha têmpora.

Eu esperava por isso. Eu sabia quem ele escolheria. Era por isso que eu estava fazendo tudo isso. Mas ouvir, sentir a finalidade disso, ainda doía.

Victor riu, um som cruel e feio. "Acho que não vou te dar escolha nenhuma."

Mãos rudes me agarraram. Outro par agarrou a forma inconsciente de Carla. Fomos empurradas para uma grande caixa de vidro. A tampa foi selada.

A caixa foi jogada ao mar. Atingiu a água com um enorme respingo e, com pesos pesados presos ao fundo, começou a afundar imediatamente.

Fiquei grata por ter tido a previdência de fingir estar inconsciente. Eu ainda tinha alguma força sobrando.

Tirei meus saltos altos e, usando o salto afiado de um sapato, comecei a bater no vidro.

A pressão da água era imensa. O vidro finalmente rachou, depois se estilhaçou. Cacos dele cortaram meus braços e pernas enquanto o oceano entrava. Ignorei a dor, agarrei Carla e a puxei para fora da jaula que afundava.

Chutei freneticamente, lutando para chegar à superfície. Meus pulmões estavam queimando. Rompi o ar da noite, ofegante, meu corpo gritando de exaustão.

Encontrei um pedaço de destroço flutuante da caixa quebrada e empurrei Carla para cima dele.

"Viva, Carla", sussurrei, minha voz um coaxar rouco. "Viva e seja feliz com ele."

Se ela vivesse, a obsessão dele teria um lar. Ele não seria assombrado pelo fantasma dela.

Comecei a empurrar a jangada improvisada em direção às luzes distantes da costa. Mas então aconteceu.

Meu braço ficou dormente. A doença, desencadeada pelo frio e pelo esforço, estava se manifestando.

Meu aperto na madeira afrouxou. Eu não tinha mais forças.

Meu corpo, pesado e inútil, começou a afundar na água fria e escura.

Olhei para a superfície cintilante, para as luzes distantes, e aceitei meu destino.

Era isso.

Assim que a escuridão começou a me consumir, pensei ter visto uma figura mergulhando em minha direção, uma mão se estendendo. Uma alucinação, pensei. Um último e desesperado truque de uma mente moribunda.

Na próxima vez que abri os olhos, estava encarando o teto branco e estéril de um quarto de hospital.

Uma enfermeira correu para o meu lado. "Você acordou! Graças a Deus! Você está inconsciente há dois dias."

Ela mexeu no meu soro. "Quase tivemos que parar seu tratamento. Não sabemos quem você é, não há identidade, ninguém veio pagar as contas. Sua infecção pulmonar é séria, pode voltar."

Minha voz era um arranhão seco. "Alguém... alguém veio me ver?"

O rosto da enfermeira se suavizou com pena. "Não, querida. Ninguém." Ela suspirou. "A outra mulher, porém, Carla Pires? O noivo dela trouxe especialistas de todo o mundo. Ele não saiu do lado dela."

Senti uma estranha sensação de libertação. Um sorriso triste e silencioso tocou meus lábios.

Estava realmente acabado.

Nesse momento, houve uma batida suave na porta. Uma voz familiar chamou meu nome.

"Emília?"

Virei a cabeça. Meu fôlego ficou preso na garganta.

Era meu irmão, Jonas.

Lágrimas, quentes e imparáveis, inundaram meus olhos e escorreram pelo meu rosto.

"Não consegui falar com você", disse ele, sua voz embargada de emoção enquanto corria para o meu lado. "Então vim te encontrar."

Ele me puxou para um abraço feroz e protetor. "Está tudo bem, Emília", ele sussurrou, acariciando meu cabelo. "Você está comigo agora. Vamos para casa."

Toda a dor, todo o luto, toda a força que eu me forcei a manter, se despedaçou. Agarrei-me a ele e solucei, meu corpo tremendo com a força da minha libertação. Apenas assenti, incapaz de falar.

Quando tentei me levantar, minhas pernas cederam. Jonas me segurou, seus braços uma presença forte e firme. A enfermeira correu para ajudar.

"Para onde vocês vão?", perguntou a enfermeira enquanto Jonas me guiava lentamente em direção ao elevador. "Ela está muito fraca."

"Para o telhado", disse Jonas, sua voz calma e firme. "O helicóptero está esperando."

A enfermeira olhou, boquiaberta.

Alguns minutos depois, estávamos decolando, a cidade encolhendo abaixo de nós. O jatinho particular subiu através das nuvens, em direção a um novo país, uma nova vida.

Enxuguei a última lágrima da minha bochecha e olhei pela janela para o céu azul sem fim.

Sussurrei um último adeus ao homem que estava deixando para trás.

Seja feliz, Guilherme. Estamos quites agora. Nunca mais vou te ver.

                         

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