Ajoelhei-me no chão frio e duro, minha camisola de hospital fazendo pouco para afastar o frio. Minha perna estava em chamas.
Mas mantive a cabeça erguida. Eu não iria quebrar.
"Eu disse, peça desculpas", repetiu Heitor, sua voz perigosamente baixa.
Encarei seu olhar e mantive a boca fechada. Minha coluna estava reta, meu silêncio minha única arma.
Sua mandíbula se contraiu. Ele estava furioso, mas minha rebeldia parecia confundi-lo. Ele esperava lágrimas. Esperava súplicas. Ele não sabia o que fazer com essa resistência silenciosa.
"Tudo bem", ele rosnou. "Ajoelhe-se aí até estar pronta para mostrar algum remorso."
Ele se virou e voltou para o quarto de Catarina, fechando a porta e me deixando no corredor. Um espetáculo público de vergonha. Enfermeiras e médicos passavam, lançando olhares curiosos e piedosos, mas ninguém ousava intervir.
O frio se aprofundou em meu corpo. Minha cabeça parecia leve, minha visão nadava. Eu ia desmaiar.
A porta se abriu novamente. Heitor e Catarina emergiram, o braço dela entrelaçado no dele. Ela estava sorrindo, parecendo revigorada e vitoriosa.
Ela parou na minha frente. "Oh, você ainda está aqui? Você deve estar muito arrependida." Ela estendeu a mão como se fosse para afagar minha cabeça.
Eu me afastei de seu toque. "Não", eu disse, minha voz um rosnado baixo.
A mão de Heitor disparou, agarrando meu ombro. "Comporte-se, Alana."
De repente, um flash de penas verdes e azuis desceu pelo corredor. Um papagaio. Era Sol, meu papagaio. Uma das empregadas deve tê-lo trazido, pensando que ele me confortaria.
Mas Sol não estava interessado em me confortar. Ele era uma criatura do caos. E ele odiava Catarina.
Ele pousou no ombro dela e grasnou: "Bruxa feia! Mulher má!"
Catarina gritou, um som agudo e aterrorizado. Ela agitou os braços, tentando afastá-lo.
"Tire isso de mim! Heitor, tire isso!"
Sol, encantado com a reação, grasnou novamente. "Mentirosa! Mentirosa! Calça de fogo!"
Ele então voou e pousou no meu ombro, aninhando a cabeça contra minha bochecha. Não pude deixar de soltar uma pequena risada aguada.
Um dos seguranças se lançou sobre o pássaro.
"Não!", gritei, tentando protegê-lo. "Não o machuque!"
"Heitor, por favor", implorei, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Ele é tudo o que me resta. Minha mãe me deu ele."
Por um segundo, Heitor hesitou. Vi um brilho do antigo Heitor em seus olhos.
Mas então Catarina começou a soluçar histericamente. "Essa coisa me atacou! É vicioso! Poderia ter bicado meus olhos!"
Era uma mentira. Sol era um falador, mas era inofensivo.
O rosto de Heitor endureceu novamente. O brilho de compaixão se foi.
"Livre-se disso", disse ele ao guarda, sua voz monótona e morta.
O guarda agarrou Sol. O papagaio soltou um grasnido aterrorizado.
Eu gritei. "Não! Por favor, Heitor, não!"
O guarda não hesitou. Com um estalo doentio, ele torceu o pescoço do pássaro.
O pequeno corpo de Sol ficou mole. Ele o deixou cair no chão na minha frente.
Morto.
O mundo ficou em silêncio. Os sons do hospital, as pessoas, tudo desapareceu. Havia apenas a pequena e imóvel pilha de penas verdes e azuis no chão branco.
Meu coração, que havia sido maltratado e machucado, finalmente se partiu em um milhão de pedaços.
Aquele foi o momento em que parei de amar Heitor Alcântara.
Completamente.