Traída Pelo Amor, Salva Pelo Sacrifício
img img Traída Pelo Amor, Salva Pelo Sacrifício img Capítulo 2
2
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

A médica, uma mulher de rosto gentil na casa dos cinquenta, olhou para Estela com uma mistura de choque e preocupação. "Sra. Bastos... Estela. Você tem certeza? Este é um passo extremo."

Estela não vacilou. O homem que havia prometido tratá-la como uma rainha quando ela estivesse grávida, o homem que segurou sua mão durante os ultrassons e massageou suas costas doloridas, era agora a razão pela qual ela estava ali. O contraste era uma lâmina se torcendo em suas entranhas.

Agora, toda aquela ternura era dirigida a outra mulher. Aquela devoção era uma arma usada contra ela.

Seu rosto era uma máscara de luto, mas seu coração estava se endurecendo em algo frio e afiado.

"Tenho certeza", disse ela à médica, a voz firme. "Eu não quero a criança."

O procedimento foi uma violação fria e clínica. Ela sentiu o raspar e o puxar, um esvaziamento por dentro. Era uma manifestação física do que Júlio havia feito à sua alma.

Ela sentiu uma parte de si ser arrancada, uma parte que havia sido preenchida com esperança e amor. Agora, era apenas um vazio dolorido.

Quando acabou, uma enfermeira perguntou gentilmente: "Você gostaria de ver... ele?"

A compostura de Estela finalmente se quebrou. Um soluço cru e gutural escapou de seus lábios. "Não! Leve isso para longe de mim!"

Ela se encolheu em uma bola na cama, lágrimas e sangue se misturando nos lençóis brancos. Ela sussurrou o nome dele, repetidamente, como uma maldição.

"Júlio. Júlio. Acabou, Júlio."

Ela caiu em um sono agitado e exausto. Quando acordou, estava escuro lá fora. O quarto estava silencioso. Ela checou o celular. Nenhuma chamada perdida. Nenhuma mensagem dele.

Claro que não. Ele estava em Paris com Kátia.

Ela abriu o Instagram. Kátia havia postado uma nova foto. Um close dela e de Júlio, se beijando em frente à Torre Eiffel, as luzes da cidade brilhando atrás deles. A legenda dizia: "A cidade do amor, com o meu amor. Ele me faz sentir como a única mulher do mundo. ❤️"

O rosto de Estela estava em branco. Ela não sentia nada. A dor era tão imensa que se tornou dormência.

Ela chamou a enfermeira. Sua voz estava desprovida de emoção. "O... espécime. Eu preciso dele. Preservado, como eu pedi."

A enfermeira voltou com um pequeno recipiente selado. Estela o pegou com a mão firme.

Ela o faria pagar. Ela o faria ver o monstro que ele havia se tornado.

Ela tinha uma semana antes de seu voo para Lisboa. Uma semana para desmontar sua vida antiga e garantir a segurança de seus pais.

De volta à cobertura, o silêncio era ensurdecedor. Ela caminhou até a grande geladeira de aço inoxidável, aquela que Júlio havia encomendado sob medida da Alemanha.

Ela abriu a porta e colocou o pequeno recipiente dentro, escondido atrás de uma caixa de leite orgânico. Um caixão minúsculo e perfeito em um lugar frio e escuro.

Assim que fechou a porta, ouviu uma chave na fechadura.

Júlio estava de volta.

Ele entrou na cozinha, parecendo cansado, mas satisfeito consigo mesmo. Ele ainda usava o terno caro da foto, mas estava um pouco amassado. O cheiro fraco do perfume de Kátia, um aroma doce e enjoativo, pairava sobre ele.

"Estela", ele disse, a voz casual.

Ela não olhou para ele.

Ele notou a caixa na geladeira quando foi pegar uma garrafa de água. "O que é isso?"

"Sobras", ela disse rapidamente, fechando a porta. Sua voz era plana, vazia.

Ele franziu a testa, sentindo a mudança nela. Estava acostumado com suas lágrimas, sua raiva, seus apelos. Esse vazio frio era novo. Isso o perturbou.

Ele tirou uma pequena caixa de veludo do bolso. Um colar de diamantes. Um suborno. Um presente de desculpas que não eram sinceras.

"Eu trouxe algo para você", ele disse, em tom conciliador. "Vamos apenas esquecer o que aconteceu. Você me levou ao limite, Estela. Mas podemos superar isso."

Esquecer? Ele queria que ela esquecesse de ser presa? Esquecesse da humilhação pública?

Ela não disse nada, apenas encarou a parede atrás dele.

Ele suspirou, um lampejo de irritação em seus olhos. "Por que você está agindo assim? Ainda está com raiva? Pense no bebê."

Ele estendeu a mão, movendo-a em direção à sua barriga ainda lisa.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022