Antes que Estela pudesse sequer formular uma negação, Júlio se lançou sobre ela. Suas mãos se fecharam em sua garganta, cortando seu ar.
"Eu te avisei", ele sibilou, o rosto a centímetros do dela. "Você vai pagar por isso."
Seus seguranças a agarraram, prendendo seus braços.
"Júlio, o que você está fazendo?", ela ofegou, a voz trêmula.
"Olho por olho", ele rosnou.
Ele pegou um grande pedaço da taça de champanhe quebrada. Agarrou a mão dela e, sem um pingo de hesitação, arrastou a borda afiada do vidro pelas costas da mão dela.
A dor, branca e ofuscante, subiu por seu braço. Ela gritou, um som cru e animal de agonia.
Ele fez de novo. E de novo. Em ambas as mãos, deixando cortes profundos e sangrentos. O sangue pingava de seus dedos, formando uma poça no chão polido.
Ela desabou, o corpo convulsionando de dor.
Através de uma névoa de agonia, ela ouviu a voz fria de Júlio. "Chamem os médicos. Certifiquem-se de que o bebê está bem." Então ele pegou a mão ilesa de Kátia e foi embora.
Estela ficou no chão, observando-o partir, um sorriso amargo torcendo seus lábios. Ela estava tão cansada. Incrivelmente cansada.
Ela acordou na mesma cama de hospital, as mãos envoltas em bandagens grossas. A dor era uma pulsação surda e constante.
"Você tem sorte", disse a enfermeira sombriamente. "Os cortes foram profundos. Você terá cicatrizes."
Estela apenas encarou suas mãos enfaixadas. "É a última vez", ela sussurrou.
Ela pegou o celular. Uma notificação piscava na tela. Seu visto para Portugal havia sido aprovado.
Uma respiração longa e lenta escapou de seus pulmões. Era a respiração de uma prisioneira que acabara de ser informada de que estava livre.
A porta se abriu e Júlio entrou. Ele olhou para as mãos dela, a expressão indecifrável.
"Você procurou por isso", ele disse, a voz dura. "Se você tivesse se comportado, nada disso teria acontecido."
"Você está certo", disse Estela, a voz calma e uniforme. "Não vai acontecer de novo."
Ele pensou que ela estava finalmente se submetendo. Um sorriso presunçoso tocou seus lábios. "Bom. Contanto que você seja obediente, eu cuidarei de você."
Ela não disse nada.
Ele franziu a testa, irritado com o silêncio dela. "Voltarei para ver como você está quando estiver menos... melancólica." Ele se inclinou e beijou sua testa, um gesto que agora era uma paródia grotesca de afeto. "Te vejo na próxima semana."
A porta se fechou atrás dele.
O olhar plácido no rosto de Estela se dissolveu, substituído por um vazio frio e duro.
Nunca mais, ela pensou. Você nunca mais vai me ver.
Ela saiu da cama, ignorando os protestos das enfermeiras, e deu alta a si mesma do hospital.
Ao passar pela suíte VIP, ouviu a voz de Kátia, alta e triunfante, falando com uma amiga ao telefone.
"Funcionou perfeitamente! Ele está em 99% na minha escala. Logo, chegarei a 100%, e toda essa missão estará completa. A fortuna dos Monteiro, toda ela, será minha. Esses homens idiotas são tão fáceis de manipular."
Estela parou, então um pequeno sorriso sem humor tocou seus lábios. Ela se perguntou qual seria a cara de Júlio quando ele finalmente descobrisse a verdade.
Ela foi ao cartório e, com a ajuda de seu advogado que agilizou o processo usando o formulário de consentimento assinado, finalizou o divórcio.
Então ela voltou para a cobertura. Abriu a geladeira e pegou a pequena caixa. O ar frio saiu. Lá dentro, o feto minúsculo e perfeitamente formado flutuava em um líquido claro. Um monumento a um amor que se transformou em veneno.
Ela colocou a certidão de divórcio oficial e assinada em cima da caixa e a deixou na cama deles.
Ela pegou sua única mala e saiu da cobertura, do prédio, da vida que quase a destruiu. Ela não olhou para trás.
No aeroporto, ela tirou o chip do celular, quebrou-o ao meio e o jogou em uma lixeira.
Enquanto o avião decolava, subindo para as nuvens, ela olhou pela janela para a cidade que se estendia abaixo.
Ele havia prometido que eles nunca se separariam.
Ele estava errado.
Ele a havia perdido. Para sempre.