Estela encontrou o olhar presunçoso e vitorioso de Kátia. Por um momento, ela quis gritar, enfurecer-se, despedaçar aquela mulher. Mas pensou em seus pais, sangrando e quebrados no quarto ao lado. Essa humilhação era o preço da segurança deles.
Ela baixou a cabeça.
"Sinto muito", disse ela, a voz mal um sussurro. Ela mordeu o lábio com tanta força que pensou que iria rachar.
Júlio olhou para Kátia. "Isso é bom o suficiente para você?"
Kátia sorriu graciosamente. "Claro. Eu aceito seu pedido de desculpas, Estela."
"Não deixe acontecer de novo", disse Júlio a Estela, seu tom o de um mestre repreendendo um animal de estimação desobediente.
Estela se virou e foi embora, o corpo sentindo-se impossivelmente pesado.
Não haverá uma próxima vez, ela pensou. Eu juro.
Ela providenciou para que seus pais fossem tratados. Sentou-se ao lado da cama deles, os olhos vermelhos e inchados.
"Sinto muito", ela chorou.
Sua mãe, com o rosto machucado, estendeu a mão e pegou a dela. "Não é sua culpa, minha querida. Você precisa deixá-lo. Começar de novo."
"Ele não vai me deixar ir", Estela sussurrou.
"Então você foge", disse seu pai, a voz fraca, mas firme. "Você foge e nunca mais olha para trás."
Estela assentiu, uma nova determinação endurecendo em seu coração.
Enquanto seus pais se recuperavam, ela secretamente providenciou para que fossem transferidos para um local seguro e não revelado. Então, ela voltou para a cobertura pela última vez.
Ela acendeu um fogo na grande lareira de pedra. Uma por uma, ela jogou as lembranças de sua vida juntos. Fotos, cartas de amor, a rosa seca do primeiro encontro. Ela observou as chamas consumirem sua história compartilhada, transformando oito anos de amor em cinzas e fumaça.
Quando terminou, já era noite. A secretária de Júlio ligou.
"O Sr. Monteiro exige que a senhora o acompanhe no baile de caridade anual do hospital esta noite."
Estela queria recusar, mas sabia que só causaria mais problemas. Uma última noite. Ela poderia suportar uma última noite.
Ela entrou no carro que Júlio havia enviado. Ele estava no banco de trás, com Kátia aninhada em seu ombro. Kátia usava um vestido de grife deslumbrante e um par de brincos de diamante e safira estonteantes.
Estela os reconheceu imediatamente. Eram as joias da família Monteiro, passadas de geração em geração, destinadas apenas à esposa do herdeiro Monteiro.
Kátia sorriu docemente. "Espero que não se importe de eu vir junto, Estela."
Júlio respondeu por ela. "Ela não se importa", disse ele, os olhos desafiando Estela a objetar.
Estela permaneceu em silêncio, o olhar fixo nas luzes da cidade que passavam.
Júlio pareceu satisfeito com sua conformidade. Ao chegarem ao baile, ele se inclinou e prendeu um pesado colar de diamantes em seu pescoço.
"Você gosta?", ele perguntou, o hálito quente contra sua orelha.
Ao redor deles, as pessoas cochichavam. "Olhe para eles, tão apaixonados." "Júlio Monteiro é o marido perfeito, sempre a mimando."
Ele se orgulhava dos elogios, seu sorriso se alargando.
Estela sentiu o peso frio das joias contra sua pele. Pareciam o amor dele - pesado, frio e falso.
O leilão começou. As pessoas doavam itens caros por uma boa causa. Kátia, ansiosa para ser o centro das atenções, levantou-se.
"Eu gostaria de doar estes brincos", ela anunciou, tocando as joias dos Monteiro.
Um suspiro percorreu a multidão. Todos sabiam o que eram aqueles brincos. Eles olharam de Kátia para Júlio, e depois para Estela, os rostos cheios de pena e curiosidade mórbida.
Kátia lançou a Estela um olhar de pura e triunfante malícia.
Estela permaneceu calma. Ela simplesmente esperou.
Assim que o leiloeiro estava prestes a começar o lance, um homem de terno elegante subiu ao palco. Ele era do fundo que administrava os bens da família Monteiro.
"Sinto muito", disse o homem, pegando os brincos de uma Kátia confusa. "Estes brincos fazem parte do Fundo da Família Monteiro. Eles são legalmente propriedade da Sra. Estela Monteiro e não podem ser vendidos ou doados por mais ninguém."