Um momento depois, dois dos seguranças de Júlio arrastaram os pais dela para o quarto do hospital. Beto e Célia Bastos, um professor aposentado e uma bibliotecária, pareciam aterrorizados e confusos. Eles foram forçados a se ajoelhar no chão frio de azulejo.
"Mãe! Pai!", Estela gritou, o coração apertando no peito. Ela tentou sair da cama, correr para eles, mas Júlio a jogou de volta contra os travesseiros, a mão pressionando seu ombro com força brutal.
"Assista", ele ordenou, o rosto contorcido em um sorriso feio. "É isso que acontece quando você me desobedece. Eles vão pagar pelo seu erro."
Ele acenou para um dos seguranças, que desenrolou um chicote de couro fino.
O som do chicote estalando no ar foi seguido pelo grito de dor de seu pai.
"Pare!", Estela gritou, lutando contra o aperto de Júlio. "Por favor, Júlio, pare! São meus pais! São tudo que eu tenho!"
Ele agarrou o queixo dela, forçando-a a olhar. "Então por que você machucou a minha Kátia? Por que a fez chorar?"
"Eu não fiz!", ela soluçou, o corpo tremendo incontrolavelmente. "Foi ela! Ela me empurrou! Eu te disse, verifique as câmeras!"
Júlio apenas riu, um som oco e sem alegria. Ele a soltou e envolveu os braços em Kátia, puxando-a para perto.
"Eu não preciso verificar câmera nenhuma", ele disse, a voz escorrendo desprezo. "Eu acredito na Kátia. Não acredito em você."
As palavras atingiram Estela com mais força do que qualquer golpe físico.
A lembrança dele uma vez declarando: "A palavra dela é a única verdade que eu preciso", parecia uma piada cruel de uma vida passada.
Aquele homem se foi. Morto.
Um coração só pode se quebrar tantas vezes. Estela sentiu o seu se estilhaçar em um milhão de pedaços irreparáveis.
Kátia encostou a cabeça no peito de Júlio, seus olhos, cheios de triunfo, encontrando os de Estela por cima do ombro dele.
"Meu sistema está funcionando perfeitamente", ela articulou silenciosamente. "A pontuação dele para mim está em 93% agora."
O mundo de Estela se dissolveu no som do chicote e nos gritos de seus pais. Ela estava presa na cama, forçada a assistir as duas pessoas que mais amava no mundo serem torturadas por causa dela.
Ela mordeu o lábio até sentir o gosto de sangue, o sabor metálico enchendo sua boca.
Os gritos ficaram mais fracos e depois pararam.
"Estou cansada", disse Kátia, bocejando delicadamente. "Podemos ir para casa, Júlio?"
Ele imediatamente a pegou no colo e a carregou para fora do quarto, deixando uma cena de carnificina para trás.
Os pais de Estela jaziam imóveis no chão.
"Mãe? Pai?", ela sussurrou, a voz um fio frágil. Ela tropeçou para fora da cama, as pernas fracas, e caiu de joelhos ao lado deles. Rastejou em direção a eles, as mãos tremendo enquanto estendia a mão para tocar as costas de seu pai. Era uma bagunça de tecido rasgado e sangue.
"Sinto muito", ela chorou, as palavras arrancadas de sua alma. "A culpa é minha. Eu escolhi o homem errado. Sinto muito."
Ela gritou por um médico, por uma enfermeira, por qualquer um.
Um médico entrou correndo, o rosto sombrio. Ele olhou para a cena, depois para Estela. "Eu não posso. Ordens do Sr. Monteiro. Ninguém deve tratá-los, a menos que a senhora..."
Ele parou, a expressão cheia de pena.