O rosto de Kátia desabou. Ela olhou para Júlio, os olhos arregalados de choque e humilhação.
"Júlio?", ela choramingou. "Por que eles estão levando os brincos?"
A mandíbula de Júlio se apertou. Ele fuzilou Estela com o olhar. "Devolva os brincos para a Kátia."
"Não", disse Estela, a voz baixa, mas firme.
Ela já havia suportado o suficiente. Naquela noite, ela lutaria de volta. Por seus pais. Por si mesma.
"Eu sou a esposa legal de Júlio Monteiro", disse ela, a voz ganhando força enquanto se dirigia à sala. "Estas joias me pertencem. Ninguém mais tem o direito a elas."
O rosto de Kátia ficou feio. "Mas você assinou o divórcio..." Ela se interrompeu, percebendo seu erro.
"Que papéis de divórcio?", perguntou Júlio, os olhos se estreitando.
Os olhos de Kátia se encheram de lágrimas instantaneamente. "Oh, Júlio, sinto muito. Eu não deveria ter dito nada. Sei que sou apenas sua amante. Não deveria querer coisas que pertencem à sua esposa." Ela fez menção de se virar para sair. "Eu vou embora. Não vou mais incomodar vocês."
O rosto de Júlio escureceu de raiva. Ele agarrou o ombro de Estela, os dedos cravando em sua pele. "Você simplesmente não consegue deixá-la em paz, não é?"
Ele riu, um som aterrorizante e desequilibrado. "Tudo bem. Você quer jogar? Vamos jogar."
O leiloeiro, seguindo a deixa de Júlio, voltou ao palco com um novo item. Uma caixa contendo os cadernos de esboço pessoais de Estela. Seus pensamentos e desenhos mais íntimos.
"O próximo item do leilão", anunciou o leiloeiro, "são os diários particulares da Sra. Estela Monteiro! E como bônus, uma coleção de fotografias íntimas!"
A sala explodiu em cochichos e zombarias. Estela sentiu como se tivesse sido mergulhada em água gelada.
Júlio havia congelado todas as suas contas. Ela não podia nem mesmo dar um lance para salvar sua própria privacidade.
Um grupo de jovens herdeiros desprezíveis começou a dar lances, seus olhos a percorrendo com desprezo. O preço disparou.
"Sentindo-se um pouco pobre, Sra. Monteiro?", um deles gritou.
Estela ficou paralisada, as mãos cerradas em punhos, as unhas cravando em suas palmas.
Júlio acariciava amorosamente o cabelo de Kátia. "Está feliz agora, meu amor?"
Kátia sorriu e levantou a mão. "Um milhão de reais."
Ela havia vencido. A caixa com os segredos mais profundos de Estela foi entregue a ela. Ela a ergueu, o sorriso escorrendo veneno.
"Parece que você não pode se dar ao luxo de se proteger, Estela."
Estela fechou os olhos, engolindo a bile que subia por sua garganta.
O baile terminou. Estela se sentia entorpecida, oca. Tudo em que conseguia pensar era no voo para Lisboa. Apenas mais alguns dias.
Quando estava saindo, Kátia bloqueou seu caminho.
"Você sabia", Kátia sussurrou, a voz um silvo venenoso, "que toda vez que eu te machuco, a pontuação do Júlio para mim no meu sisteminha sobe? Acho que preciso de outro impulso."
Antes que Estela pudesse reagir, Kátia quebrou uma taça de champanhe no chão, pegou um caco de vidro e cortou a própria palma da mão.
"Socorro!", ela gritou, a voz estridente de dor falsa. "Júlio, ela me cortou!"
Júlio apareceu em um instante. Ele viu a mão sangrando de Kátia e seu rosto se contorceu de raiva.
Ele olhou para Estela, os olhos queimando com uma luz assassina.
"ESTELA!", ele rugiu, a voz ecoando pelo grande saguão.