- Laura, espere - chamou Lucas. Ele estava sorrindo, um sorriso estranho e apaziguador. - A Kássia está com um desejo. Você poderia fazer para ela um pouco da sua sopa de galinha? Sabe, aquela que você costumava fazer para mim.
Ele estava pedindo a ela para cozinhar para sua amante grávida. A sopa que ele uma vez chamou de sua favorita, a sopa que ela fez para ele inúmeras vezes quando ele estava doente ou triste, agora era para Kássia.
- Ela tem tido enjoos matinais terríveis - ele explicou, como se isso melhorasse as coisas. - O cheiro de comida a deixa enjoada. - Ele gesticulou para a máscara. - É por isso. Mas ela acha que conseguiria comer sua sopa. Você sempre fez a melhor.
A implicação era clara: seu cheiro é tolerável, ao contrário do de todo mundo. Era um elogio disfarçado de insulto.
Ele viu o olhar no rosto dela e seu sorriso desapareceu.
- Laura, precisamos pensar no quadro geral. Esta criança é o nosso futuro. Você precisa me ajudar a cuidar da Kássia. É para o bem de todos.
Ela olhou para ele, para este homem que usava o rosto de seu Lucas, mas era um completo estranho. O menino que ela amava teria morrido antes de pedir isso a ela.
- Tudo bem - disse ela, a voz monótona. - Eu faço a sopa.
Lucas pareceu surpreso, depois aliviado. Ele pensou que ela finalmente estava sendo razoável.
- Bom. Você deveria estar cuidando dela. Este bebê será seu, legalmente. É o seu bilhete para ser oficialmente reconhecida como minha esposa.
Ela encontrou o olhar dele.
- Eu tenho uma condição.
- Qual é?
- Eu quero meu medalhão de volta - disse ela. - Aquele que meus pais me deram.
Ele hesitou, olhando para Kássia. Ele pensou que ela estava apenas sendo mesquinha, mas não queria outra briga.
- Tudo bem - disse ele, tirando-o do bolso. - É só um colar. - Ele não tinha ideia de seu verdadeiro valor, não tinha ideia de que estava devolvendo o último pedaço do coração dela. Uma sensação estranha e inquietante o invadiu, um lampejo de premonição que ele não conseguia nomear.
Ela pegou o medalhão e foi para a cozinha sem outra palavra.
Quando a sopa ficou pronta, ela a trouxe. Lucas estava alimentando Kássia com morangos, sua expressão suave e carinhosa.
Laura colocou a sopa na mesa, pegou o medalhão e subiu.
Enquanto Lucas a observava se afastar, com as costas retas e os passos medidos, aquela sensação estranha e vazia retornou. Parecia que ele estava vendo algo precioso escapar por entre seus dedos, algo que ele nunca poderia recuperar.
No sótão, Laura agarrou o medalhão. Ela o abriu e olhou para a foto desbotada de seus pais.
- Estarei com vocês em breve - ela sussurrou, seus olhos se enchendo de lágrimas.
Ela arrancou a outra foto, a dela e de Lucas quando crianças, e a jogou no lixo. Ela havia terminado com ele. Prendeu a corrente em volta do pescoço, o metal frio um pequeno conforto contra sua pele.
De repente, a porta do sótão foi arrombada com um estrondo ensurdecedor.
Dois seguranças invadiram. Eles a agarraram, suas mãos como tornos em seus braços, e a arrastaram escada abaixo. Eles a jogaram no chão aos pés de Lucas.
Ele ficou sobre ela, seu rosto uma máscara de pura fúria. Ele agarrou seu queixo, forçando-a a olhá-lo.
- Por que você fez isso? - ele rosnou.
A dor atravessou sua mandíbula.
- Do que você está falando? - ela ofegou.
- Não se faça de inocente comigo! - ele rugiu, seus olhos selvagens. - A Kássia está no hospital! Você colocou vinho na sopa dela! Você sabe que ela é alérgica a álcool! Você sabe que ela está grávida! Você estava tentando matá-los?