- Eu não fiz isso - disse Laura, a voz trêmula.
A fúria de Lucas transbordou. Ele arrancou o medalhão do pescoço dela, a delicada corrente se partindo. Ele o jogou no chão e pisou com o calcanhar, esmagando o coração de prata. Ele nem percebeu que a foto dele não estava mais lá dentro.
Ele a levantou e a empurrou em direção à mesa de jantar, apontando para a panela de sopa.
- Olhe para isso! Cheira a vinho!
Seu rosto estava contorcido de decepção e fúria.
- Eu não acredito em você, Laura. Eu continuo te dando chances, e você continua tentando machucá-la. - Ele se inclinou, sua voz um sussurro venenoso. - Estou te avisando. Se algo acontecer com a Kássia ou com aquele bebê, eu vou fazer você pagar.
Laura olhou de seu rosto furioso para o medalhão quebrado no chão, as imagens de seus pais agora mutiladas e destruídas. Uma risada selvagem e descontrolada borbulhou de seu peito.
Ela riu até as lágrimas escorrerem por seu rosto. Ela olhou para ele, seus olhos vermelhos e feridos.
- Por quê? - ela gritou, a voz rachando. - Depois de tudo, por que você me trata assim? - Sua compostura finalmente se quebrou. - Tudo bem! Fui eu! Eu coloquei o vinho na sopa! O que você vai fazer a respeito, Lucas? Vai me matar? Vá em frente, faça! Eu te desafio!
Ele nunca a tinha visto assim. A dor crua e desesperada em seus olhos o fez hesitar por um momento. Seu coração se apertou com uma emoção que ele se recusou a nomear.
Mas ele a reprimiu. Ela estava sendo irracional. Histérica.
Ele se virou para seus guardas.
- Façam-na beber - ele ordenou, sua voz como gelo. - Tudo.
Ele saiu da sala, incapaz de assistir.
Os guardas a agarraram, forçando-a a sentar em uma cadeira. Um abriu sua boca à força enquanto o outro começava a derramar a sopa por sua garganta. O cheiro forte e inegável de álcool a atingiu. Alguém havia adulterado a sopa depois que ela saiu da cozinha.
Eles forçaram a panela inteira de sopa por sua garganta. Quando acabou, começaram com uma garrafa de vinho branco, o líquido queimando um caminho de fogo por seu esôfago e em seu estômago.
Seu corpo convulsionou. Uma dor aguda e cegante a rasgou. Ela começou a vomitar, mas não era apenas sopa que saía. Era sangue. Sangue vermelho vivo, salpicando a toalha de mesa branca e imaculada.
O mundo ficou preto.
Ela acordou no hospital. De novo.
O rosto do médico era uma máscara de finalidade sombria.
- Insuficiência renal aguda e sangramento gástrico severo - disse ele, sua voz pesada de pena. - Sinto muito, Senhorita Santos. Não há mais nada que possamos fazer.
Enquanto ele saía, Lucas e Kássia entraram correndo. Kássia estava pálida, mas de resto bem. Lucas, no entanto, parecia frenético.
Ele viu Laura, pálida e imóvel na cama, e sua raiva pareceu derreter, substituída por uma preocupação crua e dolorosa. Ele correu para o lado dela, pegando sua mão. A dele tremia.
- Laura - disse ele, a voz embargada de emoção. - O médico... o que ele disse?
Ela olhou para ele, seu olhar vazio. Não havia mais nada a perder.
- Eu estou morrendo, Lucas - disse ela, a voz um sussurro fraco. - Cinco anos atrás, eu te dei meu rim. E agora, o outro falhou. Eu estou morrendo.
As palavras pairaram no ar, pesadas e inacreditáveis. Lucas a encarou, seu rosto uma tela de confusão. Kássia, de pé atrás dele, ficou mortalmente pálida.