Das Cinzas: Uma Segunda Chance
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Capítulo 7

O mundo se tornou um borrão de atividade frenética e culpa sufocante. Damião não saiu do lado de Helena. Ele observou enquanto médicos e enfermeiras se agitavam ao redor dela, conectando-a a soros e monitores. Ele se sentia como um fantasma no quarto, um espectador impotente do dano que causara.

Ele sentou-se ao lado da cama dela por dois dias seguidos, recusando-se a comer ou dormir. Quando a enfermeira trouxe o remédio, um pó amargo que precisava ser misturado com água, Helena estava fraca e inconsciente demais para engolir. Sem pensar, Damião colocou o remédio em sua própria boca e pressionou seus lábios nos dela, fazendo o líquido vital descer por sua garganta. Foi um ato desesperado e íntimo de penitência.

No terceiro dia, ela finalmente acordou. Seus olhos estavam claros, mas vazios. Quando ela olhou para ele, olhou através dele.

Assim que um fio de esperança começou a surgir no coração de Damião, uma nova crise explodiu. Uma enfermeira em pânico correu para dizer que Juliana havia desmaiado. Sua condição era crítica.

Ele foi para o quarto de Juliana. Ela jazia em uma cama de hospital, parecendo ainda mais frágil do que antes. O diagnóstico do médico era uma sentença de morte.

"Os rins dela estão falhando. É uma complicação do... incidente. Ela precisa de um transplante de medula óssea para sobreviver. Imediatamente."

A mente de Damião ficou entorpecida. Ele sentiu uma onda de autorrecriminação o invadir. Isso também era culpa dele. Ele havia pressionado Juliana, prometido mandá-la embora, o que levou ao seu ato desesperado, que levou a isso. Ele estava destruindo as duas mulheres de sua vida.

Ele se viu do lado de fora do quarto de Helena novamente. Olhou para ela através do painel de vidro na porta. Ela estava sentada, olhando pela janela, parecendo tão frágil quanto uma boneca de porcelana.

Ele tinha que fazer isso. Ele tinha que salvar Juliana. Era a única maneira de equilibrar a balança de sua culpa. Ele se convenceu de que Helena devia isso a Juliana. Era uma vida por uma vida - a vida do bebê que Helena, inadvertidamente, fez Juliana perder. A lógica era distorcida, insana, mas era a única coisa que fazia sentido em sua mente fraturada.

Ele entrou no quarto.

Helena não se virou. Ela pareceu sentir sua presença, seus ombros se enrijecendo levemente.

Ele ficou atrás dela, observando seu reflexo no vidro escuro da janela.

"Juliana está morrendo", disse ele, a voz seca.

Helena permaneceu em silêncio.

"Ela precisa de um transplante de medula óssea", continuou ele. "Os médicos dizem que você é uma combinação perfeita."

Ele viu o reflexo dela sorrir, um sorriso amargo e sem humor torcendo seus lábios. "Que coincidência."

"Isso não é uma coincidência, Helena", disse ele, aproximando-se. "Isso é o destino. É a sua chance de consertar as coisas."

"Consertar as coisas?", ela finalmente se virou para encará-lo, os olhos ardendo com um fogo frio. "Deixando você retalhar meu corpo de novo por causa dela?"

"Você deve isso a ela!", ele rosnou, seu controle se quebrando. "Por sua causa, ela perdeu nosso filho! Por sua causa, ela está em seu leito de morte!"

"Você está delirando", disse ela, a voz pingando desprezo.

Ele sabia, em algum nível, que ela estava certa. Ele sabia que Juliana era uma mestra da manipulação. Mas admitir isso significaria admitir que tudo isso - a dor de Helena, o bebê perdido, a doença de Juliana - era culpa dele e somente dele. O peso dessa verdade era demais para suportar. Era mais fácil culpar Helena.

"Você vai fazer isso", disse ele, a voz baixando para um tom perigoso. "Se você se recusar, eu cancelarei a fusão. Usarei todos os recursos que o império Vasconcelos tem para esmagar a empresa da sua família. Destruirei seu pai. Deixarei você sem nada."

Ele estendeu a mão, a mão pairando sobre o ombro dela. "Mas se você fizer isso, eu te perdoarei. Podemos deixar tudo isso para trás. Podemos recomeçar."

Helena se afastou de seu toque como se ele fosse ácido.

"Eu não quero o seu perdão", disse ela. "E não me importo com suas ameaças. O noivado acabou. Nós acabamos."

Seu rosto escureceu. Ele agarrou o braço dela, puxando-a para seus pés. O movimento súbito a fez ofegar de dor.

"Acabou?", ele rosnou, o rosto a centímetros do dela. "Nada acaba até que eu diga que acabou. Você me pertence, Helena. Você sempre me pertenceu. Sua vida, seu corpo, sua própria alma. Eu sou seu dono, e você fará o que eu disser."

A loucura em seus olhos era aterrorizante. Este não era o homem que ela amara. Este era um monstro.

"Ela precisa da sua medula óssea", disse ele novamente, a voz assustadoramente calma agora. "E você vai dar a ela."

"Não", disse ela, a voz trêmula, mas firme.

Ele riu, um som frio e vazio. "Você acha que tem escolha?"

Ele a soltou, e ela tropeçou de volta na cama. Ele caminhou até a porta e a abriu. Dois homens grandes de terno preto estavam do lado de fora, junto com uma enfermeira empurrando um carrinho. No carrinho havia uma coleção de instrumentos médicos reluzentes e amarras de couro.

"Você pode fazer isso de bom grado", disse Damião, a voz suave e terrível. "Ou podemos fazer isso à força. De qualquer forma, Juliana terá o que precisa."

Seus olhos estavam desprovidos de todo calor, todo amor, toda sanidade. Eram os olhos de um homem que havia perdido completamente o rumo, e ele estava determinado a arrastá-la para a escuridão com ele.

            
            

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