Das Cinzas: Uma Segunda Chance
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Capítulo 8

Helena não lutou. Quando os dois homens se aproximaram dela, ela simplesmente fechou os olhos e os deixou fazer seu trabalho. Uma estranha sensação de resignação a invadiu. Era o mesmo sentimento que tivera no incêndio, um momento de terrível clareza quando você sabe que o fim chegou.

Eles amarraram seus pulsos e tornozelos na cama com grossas algemas de couro. O couro frio contra sua pele era um contraste brutal com a memória que surgiu em sua mente. Damião, anos atrás, traçando as veias de seu pulso com o polegar. "Eu sempre vou te proteger", ele sussurrara.

A ironia era tão afiada que era quase engraçada. O homem que prometera protegê-la era agora quem a amarrava, preparando-se para violá-la da maneira mais profunda.

Ele ficou sobre ela, o rosto uma máscara fria e indecifrável. "Uma última chance, Helena. Concorde em fazer isso, e eu mandarei que tirem as amarras."

Ela pensou em uma vida inteira disso. Uma vida inteira de seu amor obsessivo, sua paranoia, sua crueldade. Uma vida inteira sendo prisioneira de seus caprichos, sendo punida pelos pecados de Juliana.

"Eu prefiro morrer", ela sussurrou, as palavras claras e firmes na sala silenciosa.

Seu rosto endureceu. O último lampejo de humanidade em seus olhos morreu.

"Ótimo", ele retrucou. Ele se virou para o médico que entrara no quarto. "Comece."

O procedimento foi uma violação envolta em terminologia médica. Foi uma agonia que foi além da dor física. A agulha era grossa e longa. Ela a sentiu perfurar a pele da parte inferior de suas costas, uma pressão aguda e esmagadora enquanto empurrava através de tecido e músculo para alcançar o osso.

Ela não gritou. Mordeu o lábio até sentir o gosto de sangue, concentrando toda a sua energia no único pensamento ardente que se repetia em sua mente como um mantra: Este é o fim. Este é o fim do meu amor por ele.

Seu corpo se arqueou contra as amarras, um grito silencioso próprio. Seus músculos tiveram espasmos, sua visão embranquecendo nas bordas pela intensidade pura e ofuscante da dor.

Através da névoa, ela viu Damião. Ele estava aos pés da cama, observando tudo, sua expressão sombria e inabalável. Ele estava testemunhando sua agonia, a própria agonia que ele estava infligindo, e ele nem sequer vacilou. Ele era o mesmo homem que uma vez chorou quando ela se cortou com papel. O garoto que ela amava estava verdadeira e irrevogavelmente morto.

Quando acabou, ela jazia mole e encharcada de suor, seu corpo tremendo com os tremores da dor. O mundo era um cinza opaco e pulsante.

O médico e seus assistentes saíram. Damião se aproximou da cama. Ele estendeu um pano para enxugar o suor de sua testa. Seu toque, que uma vez fora seu maior conforto, agora parecia uma marca de ferro em brasa.

Ela recuou, um som fraco e gutural de repulsa escapando de sua garganta.

"Não... me toque", ela sussurrou.

Ele congelou, a mão pairando no ar.

Ela reuniu o resto de sua força e olhou para ele, os olhos cheios de um desprezo tão puro que era aterrorizante.

"Saia", ela sussurrou.

Sua voz era quase inaudível, mas o comando o atingiu como um golpe físico. Ele ficou lá por um longo momento, o rosto uma tela de emoções conflitantes. Então, sem uma palavra, ele se virou e saiu do quarto.

Ele parou na porta. "Enfermeira", disse ele para a mulher que esperava do lado de fora, a voz tensa. "Dê a ela o analgésico mais forte que você tiver."

Ele não olhou para trás. A porta se fechou com um clique, deixando Helena sozinha no silêncio ecoante, uma prisioneira em seu próprio corpo violado.

            
            

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