Seu corpo começou a convulsionar, arqueando-se na cama em espasmos violentos e incontroláveis. Um grito estrangulado rasgou sua garganta. Algo estava terrivelmente errado.
O rosto da enfermeira ficou branco de pânico. Ela verificou a seringa vazia, depois o frasco de onde veio. "Isso não é morfina!", ela gritou. "Alguém trocou os frascos!"
A arquiteta desse novo inferno era, claro, Juliana. Deitada em sua própria cama de hospital, ela encontrara uma maneira de infligir uma última e requintada tortura. Ela não queria apenas a medula óssea de Helena; ela queria que ela sofresse por isso.
Enquanto isso, Damião caminhava em direção ao quarto de Juliana. Sua mente era um campo de batalha. Ele tinha o que queria. A medula que salvaria a vida de Juliana estava a caminho do laboratório. Ele deveria se sentir aliviado, até justo.
Em vez disso, tudo o que conseguia ver era o olhar nos olhos de Helena. O ódio puro e inalterado. A maneira como ela se encolhera de seu toque. Era um olhar de finalidade, de uma porta se fechando para sempre.
Ele parou no corredor. Não conseguia ir até Juliana. Ainda não. Um pânico súbito e irracional o dominou. Ele tinha que voltar. Tinha que ver Helena. Tinha que ter certeza de que o analgésico estava funcionando. Tinha que ver se talvez, apenas talvez, houvesse um lampejo de algo além de ódio em seus olhos.
Um médico o interceptou. "Sr. Vasconcelos, precisamos de você. A condição da Sra. Novaes está se desestabilizando."
"Depois", Damião retrucou, passando por ele.
"Mas senhor, é urgente!"
"Helena é mais urgente", ele se ouviu dizer, as palavras surpreendendo até a si mesmo. Ele disse a si mesmo que era apenas culpa, uma necessidade de garantir que a pessoa que ele acabara de brutalizar estivesse confortável. Era o mínimo que podia fazer. Ele esperava encontrá-la dormindo pacificamente, a dor finalmente desaparecida.
Ele abriu a porta dela com um empurrão e congelou.
A cena era de puro horror. Helena se debatia na cama, o corpo contorcido em uma convulsão, um som baixo e agudo de agonia escapando de seus lábios. Seu rosto estava pálido e escorregadio de suor.
"Que diabos está acontecendo?", ele rugiu, correndo para o lado dela.
A enfermeira aterrorizada tentava segurá-la. "O remédio! Foi trocado! Não era um analgésico!"
A verdade desabou sobre Damião. Não apenas ele a submetera a uma dor inimaginável, mas sua ordem de alívio de alguma forma levara a seu envenenamento. Sua tentativa de uma pequena gentileza se tornara outra camada de tortura.
"Lena!", ele gritou, pegando a mão dela. Estava queimando. Ela se agarrou a ele, seu aperto surpreendentemente forte, seus olhos arregalados com um apelo silencioso e desesperado.
Ele se virou para a equipe médica, a voz um berro furioso. "Descubram quem fez isso! Quero que os encontrem agora!"
Ele embalou a cabeça de Helena, tentando acalmá-la, sussurrando desculpas sem sentido.
E então, a enfermeira que estava verificando seus sinais vitais soltou um suspiro horrorizado.
"Sr. Vasconcelos... ela... ela não está respirando."
O primeiro pensamento arrogante de Damião foi que era impossível. Nenhuma dor poderia ser pior que a culpa que o consumia. Ela estava apenas sendo dramática. Mas então ele olhou para o rosto dela.
Seus olhos estavam fechados. Seu peito estava imóvel. O aperto desesperado em sua mão havia afrouxado.