Capítulo 5 A bruxa má

Antes que Carina pudesse levantar da cadeira e desaparecer dali, Ryan finalmente falou:

- Veronica.

A noiva dele parou, a colher suspensa no ar.

- Isso é desnecessário. - Ele continuou, sem levantar os olhos da xícara de café.

Estranhando, Carina arqueou levemente as sobrancelhas. O ex-marido raramente a defendia. Talvez, estivesse tentando manter a compostura diante do pequeno Ryan.C

Suprimindo a irritação, Veronica soltou uma risadinha forçada.

- Ora... só estou brincando, querido. Você sabe como eu sou.

- Papa!

A voz infantil atraiu a atenção do homem que largou a xícara sobre o pires com um estrondo controlado.

- Sim, campeão... - Afagou os fios lisos do garotinho.

- Manda a bruxa embora.

- Não tem bruxa aqui, meu filho.

- Sua mãe devia parar de te contar esses contos estúpidos.

Erguendo a mão comprida no ar, Ryan pediu silêncio.

- A Bruxa má não gosta de mim, papai.

- Coma mais um pedacinho do pão... - Nervosa, Carina tentou fazer com que o filho comesse e parasse de falar demais.

Levantou-se, ajeitou o paletó, e pegou o filho no colo enquanto seus olhos passavam por Carina mais uma vez.

"Dio mio!" Aflita, ela exclamou em pensamentos. Fitou o blazer que se ajustava perfeitamente às costas em formato de V do homem que caminhou até a enorme janela.

- A Bruxa está lá fora... - Ryan começou a falar. - Eu mandei os seguranças tirarem ela da casa.

Giulio balançou a cabeça. Aqueles olhinhos assustados, vez ou outra, miravam na direção da mesa sobre o ombro do pai.

- Ela tá aqui. - Inocentemente, o garotinho insistiu.

- Por que está dizendo essas coisas, Giulio.

Para Ryan, o relato da criança era inverossímil. O pai não conseguia compreender o que a criança queria lhe dizer.

- A bruxa maltrata a mamãe. Manda ela embora, papai.

Carina engoliu em seco, abaixando o olhar. Ainda se sentia mal pelo filho ter assistido a maneira como Verônica a humilhou na cozinha.

Do outro lado da mesa, a noiva de Ryan sentiu que a situação estava começando a sair do controle. Ela empurrou a cadeira com o próprio antes de ficar em pé.

- Já sei o que está acontecendo... isso é culpa da sua ex. - Verônica apontou o dedo acusador na direção de Carina. - Ela está enchendo a cabeça do seu filho, dizendo que sou uma bruxa e inventando essas mentiras só para o seu o filho me odiar... - soluçou e não demorou muito, para começar a chorar. - Não se preocupe, vou embora dessa casa! - Manteve a encenação digna de um Oscar.

- Verônica... - Ryan a chamou, mas ela já tinha cruzado a porta.

O belo rosto assumiu uma máscara sombria e seus olhos escureceram ao encarar a ex-esposa.

- Fique com sua mãe! - Colocou o menino na cadeira ao lado. - Eu te proíbo de contar essas histórias e envenenar a mente do meu filho contra a minha noiva.

- Ryan, eu não...

- Já basta. - Esbravejou irritado.

Saiu dali, sussurrando o piso de madeira com a sola do calçado.

- Maldito acordou! - Falou entre dentes quando já estava no corredor.

Mãe e filho ficaram sentados na enorme mesa farta. Don Gambino e Marie raramente paravam em casa, só surgiam em ocasiões especiais. Bella estava muito ocupada se dedicando ao trabalho como curadora de um museu em Florença. Se dividia entre a profissão e a criação do filho Maximus e dos gêmeos que tinham nascido há sete meses. Carina até estranhou o fato dela ter aparecido no jantar de família na noite anterior.

"Se bem que a insistência dela em falar comigo foi inesperada"... pensativa, Carina tentava dar de comer ao filho.

- A bruxa má foi embora, mamãe!

- Shiu, não diga mais isso... - repreendeu o filho com suavidade.

O coração bateu ferozmente no segundo em que alguém entrou. Carina respirou aliviada ao ver que era Carmela.

- O patrão está impedindo aquela vadia magrela de ir embora.

- Por favor, não diga essas coisas perto do meu filho.

- Perdão, querida. - A funcionária pediu.

- Vadia... - Giulio repetiu.

- Amorzinho, essa é uma palavra feia... não repita outra vez.

- Mas eu não gosto da bruxa, mamãe...

- Nem eu, - disse Carmela, risonha, enquanto tirava as louças.

- Por favor, vamos evitar de falar esse tipo de coisa na frente do Giulio... - Conforme cochichava, Carina ficava atenta na porta. - Ele chamou a mulher de bruxa na frente do pai. - Teceu o comentário após tapar os ouvidos de Giulio com as mãos.

- Madonna mia! - Os pratos quase caíram da mão da senhora robusta. - Ah, não... por isso, ele está tão irritado.

- Por favor, mande uma mensagem pra Bella e veja se existe alguma possibilidade dela entrar em contato comigo...

- Claro! - Gentilmente, Carmela afirmou.

- Vou passar o resto do dia no quarto com o Giulio. - Tirou as mãos do ouvido do filho. - Que tal assistir a Hora do Justin?

- Oba, eu quero! - O garotinho levantou os braços.

Carina achou que, ao menos, Ryan não implicaria se espiasse nas câmeras e visse o filho distraído com desenho educativo com foco em desenvolvimento infantil e atividades diárias.

Naquele dia, Ryan não apareceu e Carina também não ouviu os passos dele no corredor.

De vez em quando, uma funcionária vinha para trazer refeições, mas o estranho era que sua única amiga naquela casa não apareceu para trazer o jantar.

- Onde está a Carmela?

- Não vejo ela desde de manhã, signorita! - Disse a jovem funcionária depois que deixou a bandeja com a refeição daquela noite.

"Ah não!" Olhou para a câmera que se moveu no alto da parede de seu quarto e então, recordou do pedido que fez a sua aliada mais cedo.

Do escritório, o jovem de vinte e sete anos tomou todo o uísque e largou o copo na mesa. Seu olhar estava preso na tela que exibia a imagem da cuidadosa mãe que se sentava para jantar com o pequeno Giulio no quarto.