Capítulo 7 Dopada

Carina desceu as escadas com o coração acelerado. Achava que Giulio estava em algum canto sozinho e só queria encontrar o filho para abraçá-lo. Mas, como sempre, um segurança já o escoltava a mando de Ryan. O grandalhão a segurou antes que ela rolasse pela escada a baixo.

- Por favor... - Ela segurou o braço do segurança ao praticamente implorar. - Me ajude a encontrar o meu filho.

- Não posso, signorita - O guarda-costas apenas balançou a cabeça, sem expressão, seguindo as ordens do chefe.

- Essa casa é muito grande... o meu filho deve estar perdido, sozinho e chorando. - Com a voz embargada, ela dizia.

Só conseguia pensar no rostinho de Giulio e naqueles olhinhos grandes e assustados. Carina encostou-se à parede, entregando-se ao choro.

- Preciso encontrar o meu filho.

- Ele está com o pai, Carina. - No primeiro andar, Don Gambino engrossou a voz ao contar. - Ryan levou Giulio pra Lombardia.

- Não! - Carina soluçava.

Não pode evitar de sentir a mesma dor como na vez em que despertou do coma em Atenas e descobriu que Eros Velentzas tinha entregado o seu filho pra família Gambino.

- Por favor, deixe-me ir pra Lombardia. - Carina se afastou da parede e começou a descer os degraus com o apoio do segurança.

- Não vai a lugar algum. - O ex-sogro vociferou. - Já arrumou muitos problemas ao dizer que a noiva do meu filho é uma bruxa.

O som do salto atraiu a atenção de Lorenzo. A mulher de meia idade, e de cabelos platinados na altura dos ombros, parou, fuzilando-o com o olhar.

- O que está acontecendo? - Marie olhou do marido para a ex-nora que descia com o apoio do segurança.

- Essa garota está dopada de calmantes e gritando pela casa.

Por breves segundos, Marie fechou os olhos, respirando fundo, como se contasse até dez antes de abrir e encarar o marido.

- Lorenzo, diga que você e Ryan não fizeram o que estou pensando?

- Não vou discutir com você. - Vincando a testa, ele deu a resposta grosseira.

- Custo a acreditar que nisso. - Revoltada, Marie se distanciou do marido. - Não vou permitir que sua ambição e a prepotência de Ryan separem mãe e filho.

A mente de Marie flutuou para a época em que seu primeiro marido a impediu de chegar perto de Bella quando a filha era apenas uma menina. Na época, não houve um só dia em que não chorasse por sentir falta da filha.

- Venha, querida! - Marie segurou o outro braço de Carina quando o guarda-costas a ajudou a chegar em segurança no primeiro piso.

- Carina não pode mais ficar aqui Marie! Ela tem que sair da minha casa. - Num tom autoritário, Lorenzo deu o ultimato.

- Pois bem! - Parando, Marie projetou o queixo ao sustentar o olhar de seu marido. - Se Carina for, eu também vou.

Quase trinta anos de casados e Marie ainda afrontava o homem a quem todos temiam.

Ao longo dos anos, ela conheceu o pior e o melhor lado de Lorenzo Gambino... mas a ambição do marido estava ultrapassando todos os limites. Já tinha aturado quando Lorenzo surrou Bryan Harrison, esposo de Bella, há cerca de sete anos. Por sorte, Bryan Harrison não desistiu de casar com Bella e construir uma linda família longe da Villa dos Gambino.

Mas o filho caçula de Lorenzo e Marie ainda estava sedento pela aprovação dos pais.

Depois de seu término com a modelo Giovanna Harrison, Ryan tinha se casado com Carina para esquecer Giovanna, mas tudo acabou quando descobriu que, na época, a esposa tinha ajudado Eros Velentzas a levar Giovanna para longe.

Após o divórcio, Ryan não ouviu mais falar da ex-esposa depois que ela foi embora. Um ano depois, recebeu a notícia de que Carina estava em coma na UTI de um hospital em Atenas depois que foi atacada. Foi Eros Velentzas quem avisou sobre o filho que Carina escondia dele.

Desde que conseguiu a guarda total do filho, Ryan se esforçava para ser um bom pai e seguia cada sugestão que Lorenzo lhe dava. Era por isso que estava indo embora para a fazenda em Castello di Brianza, onde cuidaria dos negócios escusos dos Gambinos e da vinícola em Lombardia.

Apesar de tudo, Marie não gostou de saber que o filho foi capaz de fazer tal coisa com a ex.

- Onde já se viu fazer uma coisa dessas? - Marie gritou a todo pulmão assim que entrou no escritório do marido.

- Onde está Carina?

- Está descansando no quarto dela... a garota está dopada, Lorenzo.

- Não é problema meu.

- Como não? - Indignada, Marie sacudiu as mãos no ar. - Você usou nosso filho para fazer um acordo com aqueles maledetos.

- Chega! - Dando um soco na mesa, Lorenzo mandou.

Marie cruzou os braços diante do rompante do marido. Já estava habituada ao mau-humor infernal de Don Gambino.

- Não vou desfazer a aliança com a família Martini... Ryan tem que casar com a Verônica.

- Ótimo, se nosso filho quer isso, então que ele case. Mas o nosso neto precisa da mãe. - Marie mudou a postura e se aproximou da mesa ao falar com doçura.

Tocou nos ombros largos do marido, sentindo a tensão em cada nó conforme massageava.

- Deixe-me conversar com nosso filho...

- Pra quê, Marie? - Tentou afastar a mão dela.

- Relaxa. - Ela insistiu com a massagem.

- A Verônica quer mandar meu neto para um colégio interno depois do casamento. Não vou permitir. - Ao enfatizar, ela apertou com força os músculos dos ombros fortes.

- Hum, isso é bom... - O homem durão moveu o pescoço, apreciando a massagem.

- Preciso convencer o Ryan a ceder a guarda do filho pra Carina. - Enquanto falava, ela começou a esfregar o cotovelo direito na coluna cervical de Lorenzo.

Ficando em pé, ele a segurou pelo pulso enquanto saia de trás da mesa.

- Que está fazendo?

- Vamos terminar essa conversa no quarto. - Disse ao levá-la para a porta.

- Por quê?

- Gosto de massagem com final feliz.

Apesar da idade, Don Gambino ainda era um amante vigoroso. E depois de todo aquele estresse, precisava relaxar e sentir o corpo quente e macio de Marie.

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Na manhã seguinte, Carina tinha se recuperado do torpor da dose cavalar do calmante que haviam colocado em sua refeição.

Parou diante da janela do quarto que agora ocupava, o mesmo cômodo que lhe fora destinado, assim que retornou à Itália. O sol iluminava as paredes em tons pastéis, o carpete era macio sob os pés descalços, e o mobiliário... bem, o mobiliário era suntuoso, elegante, escolhido a dedo por Marie que fazia questão de controlar até os mínimos detalhes daquela casa.

Ela respirou fundo, cruzando os braços sobre o peito. O olhar pousou no jardim lá embaixo, onde Giulio costumava brincar algumas vezes.

Depois do coma, da recuperação dolorosa, da revolta ao descobrir que o filho havia sido levado... não restou escolha. Carina ficou atordoada quando os advogados informaram que o ex-marido obteve a guarda total de Giulio enquanto ela estava em coma. Carina mordiscou o lábio inferior com força, tentando expulsar aquele pensamento.

- Maledetto! - Ela resmungou ao recordar que o ex-marido foi capaz de dopá-la com tranquilizantes pra tirar o filho dela outra vez.

- Não tem coragem de falar isso na minha cara?

Sobressaltada com a voz do ex, ela se virou.

- Onde está o meu filho? - Carina arregalou os olhos ao interrogar.