Ele não é meu pai!
img img Ele não é meu pai! img Capítulo 2 Surpresas Que Eu Não Esperava
2
Capítulo 8 Garota Insolente img
Capítulo 9 Provocação Matinal img
Capítulo 10 Minha Casa, Minhas Regras img
Capítulo 11 Consequências dos meus Atos img
Capítulo 13 Ciúmes! img
Capítulo 14 Você vai aprender quem é que manda! img
Capítulo 15 Perdendo o controle img
Capítulo 16 Eu Não Vou Me Render img
Capítulo 17 No Limite img
Capítulo 18 Entre o Passado e a Ruína img
Capítulo 19 Pecado sem Perdão img
Capítulo 20 Linha Tênue img
Capítulo 21 Mulher Ferida img
Capítulo 22 Sentimento que Destrói img
Capítulo 23 O Gosto da Humilhação img
Capítulo 24 O Sabor Amargo da Rejeição img
Capítulo 25 A Sombra de Danuza img
Capítulo 26 Segredos img
Capítulo 27 As Joias da Memória img
Capítulo 28 O Peso da Verdade img
Capítulo 29 Depois do Silêncio img
Capítulo 30  Buscando sentido img
Capítulo 31 O Delicioso Risco img
Capítulo 32 O Silêncio de Lara img
Capítulo 33 O Silêncio Esmagador img
Capítulo 34 Segredos e Confissões img
Capítulo 35 Olhares que Queimam img
Capítulo 36 O Silêncio que Me Desarma img
Capítulo 37 Feridas Abertas img
Capítulo 38 O Peso da Insônia img
Capítulo 39  O Sabor do Café Amargo img
Capítulo 40 O Fogo do Ciúme img
Capítulo 41 A Esposa e o Don Juan img
Capítulo 42 A Toalha, a Ira e o Silêncio img
Capítulo 43 Cego de Ciúmes img
Capítulo 44 Entre Olhares e Silêncios img
Capítulo 45 A Panela de Pressão img
Capítulo 46 O Silêncio e o Pecado img
Capítulo 47 Desejo Profano img
Capítulo 48 A Armadilha Silenciosa img
Capítulo 49 O Medo e o Desejo img
Capítulo 50 Manchada de Desejo img
img
  /  1
img

Capítulo 2 Surpresas Que Eu Não Esperava

Marlon Shert

O silêncio da noite na mansão quase me sufoca. Refugio-me na área externa, diante da piscina iluminada, tentando encontrar algum alívio no copo pesado de uísque que seguro entre os dedos. O líquido âmbar queima minha garganta, mas não aplaca a confusão que me corrói por dentro.

O casamento foi uma farsa bem encenada, todos sorriram, todos acreditaram na ilusão. E, no meio daquela mentira cuidadosamente construída, estava Lara, a única herdeira de James Sinclair.

De repente, sinto sua presença. Antes mesmo de ouvir sua voz, percebo a mudança no ar. O perfume dela chega primeiro, doce, inebriante, como se carregasse uma promessa silenciosa, com os olhos que insistem em me atravessar como se quisessem arrancar algo que não posso dar. Quando ergo os olhos, vejo que ela se aproxima com passos firmes, os cabelos soltos caem sobre os ombros, e um sorriso discreto surge no canto da boca. Isso não é a postura de uma menina assustada com o destino que lhe impuseram, é a ousadia de alguém que quer ser vista.

- Aceito uma dose, diz ela, sem hesitar, como se estivesse em terreno seguro, como se não fosse sua noite de núpcias com um homem que mal olhou para seus lábios durante a cerimônia.

Ergo-me, surpreso. Ela estende a mão para o copo, e por um instante nossos dedos quase se tocam. Deveria afastar-me, impor limites, mas permaneço imóvel, observando-a se servir sem pedir licença, sem medo.

Ela leva o copo aos lábios, e acompanho o movimento, incapaz de desviar os olhos. O líquido brilha contra sua boca, e é nesse instante que ela solta as palavras que me desarmam:

- Pois é... tem muita coisa sobre mim que você ainda não conhece.

Isso me atinge como um soco invisível. Não pela frase em si, mas pelo modo como ela a diz com firmeza, com um desafio velado, com brilho nos olhos que mistura mágoa e provocação.

Sempre fui um homem metódico e centrado, vivo em prol da realização profissional e pensando no futuro. Jamais idealizei me casar, seja por amor ou obrigação. Depois do que passei ficou claro que criar laços afetivos é fraqueza. Mas meu melhor amigo, meu parceiro, meu sócio, desesperado, me faz o pedido:

"Cuide da minha princesa... ela é o meu maior amor, tudo o que tenho na vida."

Céus, o que faço? Ela acredita que não a enxergo? Eu enxergo mais do que deveria.

Recordo-me de como me confrontou horas antes, no quarto, quando riu de nervoso ao ouvir que dormiríamos em cômodos separados. A ironia na voz, os lábios entreabertos de raiva, o rubor, tudo volta latejando na memória. Quando me aproximei para ajudá-la com o zíper do vestido, o calor que emanava de sua pele subia como fogo pela minha mão. O perfume dela impregnou em mim.

As palavras do meu amigo ecoam ainda:

"Cuide da minha princesa... ela é o meu maior amor, tudo o que tenho na vida."

Ele me disse isso com lágrimas nos olhos, quando a entregava no altar. Jurei que a protegeria, jurei que nada lhe faltaria.

Agora me amaldiçoo, confuso. Não posso olhar para Lara dessa maneira. Ela é apenas uma garota e a filha do meu melhor amigo. Mas a forma como me encara, como me desafia, mexe comigo mais do que gostaria.

Bato o copo vazio sobre a mesa, como se isso pudesse arrancar a confusão que ela coloca em mim.

- Você prometeu cuidar dela, Marlon. Prometer não significa desejar.

Mas o que faço?

O corpo se arrepia só de imaginar que ela está no quarto ao lado. Será que já se banha? Será que me espera?

- Marlon, seu pervertido enlouquece? Você sempre foi um homem guiado pela razão, não deixava que o desejo sobrepujasse o intelecto.

Até ontem ela era apenas uma garota. O que mudou de ontem para hoje? O olhar? O sorriso audacioso? O modo de beber o uísque?

- Céus, preciso arrumar uma maneira de não deixar que Lara me confunda. Ela é apenas uma criança, apenas isso! Mas por que algo em mim grita que não será tão simples assim?

E como se não bastasse, Danuza chegou exigindo algo que jamais prometi. Nossa relação foi apenas uma troca de favores. Dava prazer, ela me proporcionava 0rgasmos. Nunca idealizei algo além, sobretudo porque ela não pertence ao mesmo convívio social. Um homem como eu não pode ter ao lado uma mulher como Danuza.

Fervo de raiva pelo que ela faz.

Recordo-me do confronto imediato, quando as palavras de Lara ecoam em minha mente e a noite é cortada por um grito estridente:

- Então é isso?!

Levanto a cabeça de imediato, e lá está Danuza. O rosto deformado de ódio, os olhos injetados. A fúria dela atravessa cada metro da mansão, como se não bastasse o escândalo armado no casamento.

- Marlon! Grita, avançando como fera.

- Como você pôde? Eu aqui, vendo essa palhaçada... e você com essa garotinha mimada!

O sangue ferve. Não só pelas palavras contra Lara, mas pelo atrevimento de invadir minha casa, minha noite. Danuza sempre soube onde pisa, mas agora ultrapassa todos os limites.

Lara está ao meu lado, o choque estampado no rosto. Deveria conter a situação, mas antes que possa reagir, ela avança:

- ELE NÃO É MEU PAI!!!

- Cala essa boca! Dispara, firme, quase selvagem.

E então o estalo ecoa. O tapa faz Danuza cair na piscina. A água explode, respingos se espalham, e a cena fica gravada em mim como em câmera lenta.

Danuza emerge, gritando, cuspindo água e veneno, enquanto me encara. Lara arfa, os olhos faiscando, como se tivesse vencido uma guerra.

E é aí que a ira me domina.

- Maldita seja, Danuza! rosno, dando um passo à frente.

- Você perdeu todo o senso do ridículo? Invade minha casa? Ataca minha esposa na nossa primeira noite?

Ela tenta retrucar, mas avanço de novo, o olhar duro.

- Saia daqui agora! ordeno, com a firmeza que uso nos negócios.

- Ou juro por Deus que será a última vez que ousar cruzar minha porta.

O silêncio toma conta, quebrado apenas pelo som da água e pelo resfolegar de Danuza. Ela me olha como se eu a tivesse apunhalado, mas não recuo.

Por dentro, entretanto, ardo. Entre a necessidade de impor respeito e o peso de estar diante da filha do homem que confiou em mim, corroi-me.

E, ainda no meio do caos, não consigo apagar da mente o perfume de Lara, nem o modo como os lábios dela se entreabrem ao me desafiar.

Amaldiçoo-me de novo.

Não posso misturar as coisas. Não posso deixar que desejos enterrados se sobreponham ao dever.

Ela é a filha do meu melhor amigo. Apenas isso. E tenho a obrigação de protegê-la.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022