Ele parou a poucos passos dela. O smoking preto, a camisa branca de linho impecável e a gravata borboleta levemente afrouxada davam a ele o ar de um aristocrata moderno. Mas eram os olhos dele que detinham o poder. Eles percorreram o corpo de Clarice com uma voracidade que fez o ar dela sumir.
- Você está atrasada três minutos - ele disse, mas a voz não tinha a dureza habitual. Estava carregada de algo mais denso, mais sombrio.
- Eu estava lutando com o fecho do colar - ela respondeu, tentando manter a voz estável enquanto apontava para a gargantilha de diamantes que ele enviara por um mensageiro horas antes.
Bento caminhou até ela. O som de seus sapatos de couro no mármore era o único ruído no quarto. Ele parou atrás dela, a presença física dele sendo como uma parede de calor contra as costas nuas de Clarice. Sem dizer uma palavra, ele afastou o cabelo dela para o lado, deixando o pescoço exposto. Os dedos dele, frios do ar-condicionado, mas carregados de uma energia elétrica, tocaram a pele sensível da nuca dela.
- Deixe-me - ele ordenou.
Clarice fechou os olhos. Sentir as mãos de Bento manipulando a joia em seu pescoço era uma tortura doce. Ele não tinha pressa. Seus dedos roçavam deliberadamente a pele dela, e ela podia ouvir a respiração dele, lenta e controlada, logo acima de sua cabeça.
- Você é minha convidada hoje, Clarice. Minha noiva. Isso significa que nenhum homem naquela festa tem o direito de tocar em você. Nem de olhar para você por mais tempo do que o estritamente educado. Fui claro?
A possessividade na voz dele não era apenas parte da encenação. Havia uma nota de autenticidade que a assustou e a excitou ao mesmo tempo.
- É um contrato, Bento. Eu sei o meu papel - ela sussurrou.
Ele girou-a pela cintura, prendendo-a entre o seu corpo e a penteadeira. A mão dele subiu para o pescoço dela, não para apertar, mas para possuir, o polegar pressionando o ângulo da mandíbula dela, forçando-a a olhar para ele.
- Não é apenas sobre o contrato. É sobre o modo como você está nesse vestido. É sobre o modo como você me olha. - Ele inclinou o rosto, a boca a centímetros da dela. - Se eu vir algum daqueles abutres do conselho se aproximando demais, eu não vou responder por mim. E você... você vai ficar ao meu lado o tempo todo. Entendido?
Clarice apenas assentiu, incapaz de falar. Bento soltou-a abruptamente, ajeitando o próprio paletó.
- Vamos. O espetáculo vai começar.
O salão de festas estava deslumbrante. Milhares de luzes de fada pendiam do teto, criando o efeito de um céu estrelado sobre as mesas decoradas com azevinhos e velas perfumadas. A elite de Gramado e os acionistas de São Paulo estavam todos lá, mas o burburinho cessou quando Bento Cavalcanti entrou no salão com Clarice em seu braço.
Clarice sentia a mão de Bento em sua cintura baixa, os dedos dele pressionando a carne através da seda do vestido de uma forma que gritava propriedade. Ele a apresentava com uma frieza elegante, mas seus olhos nunca se afastavam dela por muito tempo.
- Sr. Cavalcanti, que surpresa deliciosa - disse Marco Valente, um dos acionistas mais jovens e conhecidos por sua reputação de playboy. Ele olhou para Clarice com um brilho de cobiça nada sutil. - E quem seria essa visão de Natal?
- Minha noiva, Clarice - Bento respondeu, a voz como uma lâmina de gelo. O aperto na cintura de Clarice aumentou. - Mas receio que ela não esteja disponível para conversas longas, Marco. Temos muito o que celebrar em particular.
Marco sorriu, desafiador.
- Uma noiva? Bento, você sempre foi um homem de negócios, mas esse é o melhor investimento que já vi. Posso roubá-la para uma dança?
Clarice sentiu o corpo de Bento retesar. A mandíbula dele travou. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Bento se inclinou em direção a Marco, a voz baixa e perigosa.
- Você não vai tocar nela. Nem para uma dança, nem para um cumprimento. Procure outra pessoa para seus jogos, Valente. Clarice é território proibido.
O clima ficou tenso. Clarice interveio, colocando a mão no peito de Bento, sentindo o coração dele batendo forte sob o smoking.
- Bento, querido... a orquestra está começando uma valsa. Por que você não me leva para a pista?
O olhar que Bento dirigiu a ela era puro fogo. Ele a conduziu para o centro do salão, ignorando a todos. Quando a música começou, ele a puxou para perto - perto demais para uma dança em público. Seus corpos estavam colados, as pernas se entrelaçando a cada passo.
- Você estava com ciúmes? - Clarice provocou, a voz suave contra o ombro dele.
- Eu não sinto ciúmes, Clarice. Eu sinto indignação quando alguém tenta tocar no que me pertence - ele retrucou, girando-a com uma força que a deixou tonta.
- Eu não pertenço a você, Bento. Sou uma prestadora de serviços.
Ele parou de dançar no meio da pista, embora a música continuasse. O mundo ao redor deles desapareceu. Bento a segurou com tanta força que ela podia sentir cada músculo do corpo dele.
- Neste momento, nesta cidade, sob este teto... você é minha - ele disse, a voz rouca, os olhos fixos nos lábios dela. - E se você continuar me desafiando, eu vou mostrar a cada pessoa nesta sala o quão minha você realmente é.
Clarice sentiu um arrepio de antecipação. O desafio dele era um convite ao abismo, e ela estava pronta para pular.
A festa continuou, mas o clima entre os dois só piorava - ou melhorava, dependendo do ponto de vista. A cada taça de champanhe, a tensão sexual se tornava mais insuportável. Quando a farsa finalmente chegou ao fim daquela noite e eles voltaram para a cobertura, o silêncio no elevador era tão espesso que poderia ser cortado com uma faca.
Ao chegarem à porta da suíte de Clarice, ela se virou para se despedir, mas Bento não parou. Ele entrou com ela, fechando a porta com um estrondo e trancando-a.
- Bento, o que... - ela começou, mas as palavras morreram em sua garganta.
Bento atravessou a sala em dois passos e a prensou contra a porta de madeira maciça. Ele não disse nada. Simplesmente mergulhou o rosto no pescoço dela, inalando o perfume de baunilha e pele quente.
- Eu passei a noite inteira querendo fazer isso - ele murmurou contra a pele dela. - Vendo aqueles homens comerem você com os olhos... vendo você sorrir para eles.
- Era o que o contrato pedia, Bento! Eu tinha que ser encantadora - ela tentou argumentar, mas suas mãos já estavam subindo pelos ombros dele, agarrando o tecido do smoking.
- Não para eles - ele rosnou. - Só para mim.
Bento finalmente a beijou. Foi um beijo de posse, faminto e dominante, que não pedia permissão. Clarice soltou um gemido baixo, abrindo a boca para ele, deixando que a língua dele explorasse a sua com uma urgência que ela nunca tinha experimentado. Era o encontro do gelo com o fogo, e o resultado era uma explosão que iluminava toda a escuridão do quarto.
As mãos de Bento desceram para as coxas de Clarice, levantando-a. Ela entrelaçou as pernas na cintura dele, sentindo a rigidez do desejo dele contra si. Ele a carregou em direção à cama de dossel, sem nunca romper o beijo.
Ao caírem nos lençóis de seda branca, Bento se posicionou sobre ela, os olhos azuis agora quase negros de luxúria. Ele retirou a gravata borboleta com um gesto impaciente e começou a desabotoar a camisa, o olhar nunca deixando o dela.
- Você tem ideia do que está fazendo comigo, Clarice? - ele perguntou, a voz saindo como um sussurro gutural. - Você entrou na minha vida com esse seu espírito de Natal e essas luzes... e agora eu só quero apagar todas elas e deixar apenas o calor do seu corpo no meu.
Clarice estendeu a mão e tocou o peito nu de Bento, sentindo a pele firme e quente.
- Então apague, Bento. Eu não quero luzes esta noite. Eu só quero você.
Bento sorriu, um sorriso predatório e ao mesmo tempo rendido. Ele sabia que, a partir daquele momento, o contrato era apenas um pedaço de papel sem valor. O que estava acontecendo entre eles era real, era urgente e era a coisa mais perigosa que qualquer um dos dois já havia sentido.
Ele se inclinou, capturando os lábios dela novamente enquanto suas mãos começavam a explorar cada centímetro de pele que o vestido negro ainda escondia. O Natal em Gramado nunca esteve tão quente.