Victor estava de pé.
Ele caminhava de um lado para o outro da sala, com uma passada firme e poderosa, gesticulando com uma mão enquanto segurava um copo na outra. Não havia qualquer sinal de atrofia ou fraqueza nas suas pernas.
Audrey sentiu o mundo girar. Ele anda. É tudo uma mentira.
No sofá de couro, um homem estava sentado nas sombras, longe da luz direta do candeeiro de mesa. Audrey não conseguia ver bem o rosto dele, apenas a silhueta de um fato caro.
- Quanto tempo vais manter este teatro com a esposa, Victor? - perguntou o homem no sofá.
Victor parou, virando-se para a janela.
- Até saber se ela é leal. Ela voltou ao apartamento do ex hoje. Isso mostra fraqueza.
- Ou coragem - contrapôs o homem. - Ela enfrentou-o.
- Talvez. Mas preciso de ter certeza.
O chão rangeu sob os pés de Audrey.
Victor virou-se instantaneamente, os reflexos aguçados como os de um predador.
- Quem está aí?
Com uma velocidade impressionante, Victor atirou-se para a cadeira de rodas que estava estrategicamente colocada perto da mesa. Ele sentou-se e puxou uma manta sobre as pernas num movimento fluido, transformando-se de volta no inválido em segundos.
Audrey, percebendo que não podia fugir, empurrou a porta. O coração dela batia tão forte que doía. Ela tinha de fingir. Se ele soubesse que ela vira... o que ele faria?
Ela esfregou os olhos, fingindo sonolência.
- Victor? Ouvi vozes... achei que precisavas de ajuda.
Victor olhou para ela, tenso. Ele procurava qualquer sinal de que ela tivesse visto o milagre da sua caminhada.
- Estou numa reunião, Audrey. Não sabes bater?
Audrey olhou para o homem no sofá. Ele manteve-se nas sombras, inclinando a cabeça levemente.
- Ah, desculpe. Não sabia que tinhas visitas a esta hora.
O homem levantou-se, mas manteve-se longe da luz.
- Sra. Sterling. - A voz dele era polida, profissional. - Sou Arthur Vale. Sou... o consultor jurídico da massa falida do Victor. Estamos a discutir os credores.
- Advogado? - Audrey olhou para as pilhas de papel na mesa. - A situação é assim tão grave?
- Crítica - disse Arthur, mentindo suavemente. - Os credores estão impacientes.
Audrey assentiu, forçando um ar de preocupação para esconder o choque da descoberta sobre as pernas de Victor.
- Entendo. Vou deixar-vos trabalhar.
Ela virou-se para sair, mas Victor chamou-a. A voz dele estava carregada de uma tensão estranha, talvez para testá-la, talvez para afastá-la.
- Já que estás aqui - disse Victor, cruelmente -, cumpre o teu dever de esposa.
Audrey congelou na porta.
- Como?
Victor apontou para o teto.
- Vai-me esperar na cama. O Arthur está de saída. E não durmas.
Arthur tossiu, desconfortável com a ordem bruta.
- Victor, isso é desnecessário...
Audrey sentiu o rosto arder. A humilhação de receber tal ordem à frente de um estranho era palpável. Mas ela estava demasiado assustada com o segredo que descobrira para discutir.
- Sim, Victor.
Ela saiu e fechou a porta. Assim que o trinco estalou, ela encostou-se à parede do corredor, a respirar ofegante. Ele anda. Ele mente sobre tudo. Quem é este homem?
Dentro do escritório, Victor passou a mão pelo rosto.
- És um bastardo, Victor - disse Arthur, saindo das sombras.
- É o único jeito de ela ir embora ou manter a distância - respondeu Victor, a voz sombria. - Se ela se aproximar demais, vai descobrir a verdade. E eu não posso arrastá-la para a guerra que vem aí.