Capítulo 6 No.6

Audrey estava sentada na beira da cama, as mãos apertadas no colo, o coração a bater num ritmo frenético. A mente dela era um turbilhão. Ele anda. Ele anda. Porquê fingir? Para evitar a família? Para evitar processos?

A porta abriu-se. Victor entrou com a cadeira de rodas. O zumbido do motor elétrico parecia agora uma zombaria aos ouvidos dela.

Ele parou, virou-se e trancou a porta. O clique da fechadura soou definitivo.

Victor aproximou-se dela. A expressão dele era ilegível. Ele parou a cadeira entre as pernas dela, invadindo o espaço pessoal de Audrey.

- Tira-me a camisa - comandou ele. - As minhas mãos doem hoje. A artrite.

Audrey sabia que era mentira. Ela vira-o segurar o copo com firmeza lá em baixo. Mas ela tinha de jogar o jogo dele até entender as regras.

Ela respirou fundo e estendeu as mãos trêmulas. Os dedos dela roçaram o pescoço dele ao alcançar o primeiro botão. A pele dele estava quente.

Ela desabotoou a camisa devagar. O cheiro dele – aquele cheiro inebriante de homem e perigo – envolveu-a.

Ao abrir a camisa, Audrey viu o tronco dele. Era definido, duro, com músculos que não condiziam com a inatividade. No ombro esquerdo, havia uma cicatriz antiga, feia e irregular.

Sem pensar, movida pela curiosidade e pela tensão do momento, Audrey ergueu a mão e traçou a linha da cicatriz com a ponta do dedo.

- Doeu? - sussurrou ela.

O toque dela foi como uma faísca em gasolina. O corpo de Victor tencionou. Há anos que ninguém o tocava com aquela... suavidade.

Uma onda de desejo e pânico atingiu Victor. A mão dele disparou e agarrou o pulso de Audrey para parar a carícia.

A força foi excessiva. Foi a força bruta de um homem saudável e treinado, um aperto de ferro que quase esmagou os ossos delicados do pulso dela.

Audrey soltou um pequeno gemido de dor, os olhos arregalados de choque.

- Victor, estás a aleijar-me! - exclamou ela, olhando para a mão dele que a prendia como uma morsa. - Como é que tens tanta força?

A pergunta dela quebrou o transe de Victor. Ele percebeu o erro fatal. Um inválido com atrofia muscular não teria aquele aperto.

Ele soltou-a imediatamente, como se ela queimasse, e começou a massajar a própria mão, fingindo um esgar de dor.

- É um espasmo! - mentiu ele, a voz rouca. - Rigidez muscular. Às vezes os músculos travam. Eu não controlo.

Ele recuou a cadeira violentamente, batendo numa mesa de cabeceira.

- Não me toques! - gritou ele, usando a raiva para cobrir o deslize. - Não me toques com essa piedade! Eu disse para não tocares na cicatriz!

Audrey segurou o pulso marcado, observando-o. A desculpa do espasmo era conveniente, mas o medo nos olhos dele... era medo de ser descoberto.

- Eu só... desculpa - disse ela, recuando.

- Sai! - Victor apontou para a porta. - Vai para o quarto de hóspedes! Agora! Não consigo... não consigo olhar para ti.

Audrey pegou no seu travesseiro e saiu rapidamente, sem olhar para trás.

Victor ficou sozinho no escuro, a respirar pesadamente. Ele olhou para a sua mão. Tinha quase estragado tudo. A rapariga era perigosa. Ela fazia-o perder o controlo.

                         

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