"Oh, Eduardo," Carla choramingou, sua voz mal um sussurro. Ela piscou os cílios, uma performance que eu conhecia de cor. "Ainda dói tanto. E os pesadelos... Beto Pena foi tão violento."
A mão de Eduardo, geralmente tão contida, acariciou suavemente o cabelo dela, afastando uma mecha perdida de sua testa. "Shhh, querida. Você está segura agora. Eu prometo. Ninguém nunca mais vai te machucar." Sua voz era suave, entrelaçada com uma ternura que eu nunca tinha ouvido dirigida a mim. Meu coração doeu, uma dor profunda e oca.
Carla se aninhou em seu toque, seus olhos sutilmente se voltando para mim, um brilho triunfante em suas profundezas. Eduardo então olhou para mim, seu olhar afiado, um aviso claro. "Laura. Você está aqui." Seu tom era monótono, desprovido de qualquer calor.
Agarrei minha bolsa, meus nós dos dedos brancos. Minha garganta parecia apertada, como se um punho tivesse se fechado em torno dela. A imagem de Beto, pálido e quebrado em sua cama de hospital, brilhou diante dos meus olhos. Isso era por ele.
"Sim, estou," consegui dizer, minha voz surpreendentemente firme. "Vim pedir desculpas, como você pediu."
Carla fez um som suave e ferido. "Oh, Laura, você não precisa. Eu sei que você está apenas chateada com seu irmão. Está tudo bem." Suas palavras eram sacarinas, pingando falsa preocupação, fazendo minha pele arrepiar.
"Não, não está tudo bem, Carla," eu disse, meus olhos se fixando nos dela. Por uma fração de segundo, sua fachada vacilou, um flash de pura malícia em seus olhos. "Meu irmão, Beto, causou-lhe grande angústia, e por isso, sinto muito de verdade." As palavras tinham gosto de cinzas. Eu as forcei para fora, cada sílaba uma lâmina torcendo em minhas entranhas. "Ele não deveria ter colocado as mãos em você, independentemente das circunstâncias."
Os lábios de Carla se curvaram em um sorriso presunçoso. "Viu, Eduardo? Ela entende." Ela apertou a mão dele. "Honestamente, Laura, sinto muito por você. Ser casada com o Eduardo deve ser tão difícil. Ele é tão... particular. E você é tão... normal." Ela riu, um som minúsculo e tilintante que irritou meus nervos. "Ele sempre reclama de como seu casamento é chato, sabe. Diz que você nunca o entende, nunca o vê de verdade."
Meu olhar se voltou para Eduardo. Sua expressão era indecifrável, mas ele não a contradisse. Ele simplesmente continuou a acariciar o cabelo dela, seus olhos fixos em seu rosto. Era uma confirmação. Tudo o que ela disse, tudo o que eu suspeitava, era verdade. Ele provavelmente reclamou de mim para ela, me pintou como a esposa fria e insensível. A percepção foi uma pílula amarga de engolir. A humilhação foi tão profunda que me roubou o fôlego.
Nesse momento, o celular de Eduardo vibrou. Ele olhou para a tela, uma ruga vincando sua testa. "Ligação de trabalho. Urgente." Ele se levantou, relutantemente, afastando a mão de Carla.
"Mas Eduardo," Carla fez beicinho, puxando sua manga. "Não vá. Fique comigo. Estou com medo."
"Eu tenho que ir, querida," ele disse, sua voz ainda gentil. "É sobre uma grande falha de segurança. Voltarei assim que puder. Apenas descanse." Ele se inclinou e beijou sua testa novamente. "E você," ele disse, voltando seu olhar para mim, seus olhos endurecendo. "Não tente nada. Beto ainda está sob minha custódia. Qualquer coisa que aconteça com a Carla, e ele paga o preço. Entendido?"
Eu assenti, minha mandíbula cerrada. Ele se virou e saiu do quarto, deixando a porta entreaberta.
No momento em que os passos de Eduardo desapareceram, a doce fachada de Carla desmoronou. Seus olhos, não mais inocentes, brilhavam com um triunfo malicioso. Ela se ergueu um pouco, sua voz caindo para um sussurro venenoso. "Finalmente. Ele se foi. Isso foi exaustivo." Ela arrancou a bandagem da testa, revelando uma pele perfeitamente clara. Nenhum ferimento. Nem mesmo um arranhão.
Meus olhos se arregalaram. "Você... você fingiu tudo?"
Ela riu, um som áspero e irritante. "Claro. Você realmente achou que seu precioso Eduardo acreditaria em você em vez de mim? Ele é totalmente devotado. Você não passa de um tapa-buraco, Laura. Uma governanta glorificada." Ela zombou. "E quanto mais cedo você perceber isso, melhor para todos."
Meu sangue gelou. A profundidade de sua manipulação, a audácia de suas mentiras, era impressionante. "Você é uma mulher doente, Carla."
"Ah, eu sou doente?" Ela zombou, seus olhos ardendo com uma fúria súbita e descontrolada. "Você é quem está se agarrando a um casamento morto, fingindo que ele se importa. Ele te odeia, Laura. Ele sempre odiou. Ele só se casou com você por causa de alguma dívida arcaica. Você é uma muleta financeira, nada mais." Ela balançou as pernas para fora da cama, seus movimentos fluidos e sem ferimentos. "Agora, saia da minha frente. Sua presença me dá vontade de vomitar."
"Eu sou a esposa dele," afirmei, minha voz perigosamente calma, a verdade um gosto amargo em minha boca. "Legalmente. Você é apenas uma amante."
Seu rosto se contorceu em um rosnado. Ela se lançou contra mim, sua mão boa voando. Suas unhas, longas e afiadas, rasparam minha bochecha, deixando um rastro ardente. "Como você ousa! Eu vou ser a esposa dele! Você não é nada!"
Eu tropecei para trás, segurando minha bochecha sangrando. A dor era aguda, mas o choque foi maior. Essa mulher era uma víbora.
Antes que eu pudesse reagir, Carla soltou um grito agudo. Ela se jogou de volta na cama, se debatendo descontroladamente. Ela arranhou o próprio braço, rasgando a bandagem branca imaculada, deixando arranhões frescos em sua pele. "Eduardo! Eduardo! Ela me atacou! Laura me atacou!"
Nesse momento, a porta se abriu com um estrondo. Eduardo estava lá, seu rosto furioso, seus olhos ardendo com uma raiva aterrorizante. Ele viu Carla, seu cabelo desgrenhado novamente, seu rosto contorcido de medo, sangue fresco brotando de seu braço. Ele me viu, parada a alguns metros de distância, minha mão pressionada contra minha própria bochecha sangrando.
Ele correu para o lado de Carla, me empurrando rudemente para o lado. Minha cabeça bateu na parede com um baque surdo, fazendo estrelas dançarem diante dos meus olhos. Caí no chão, minha visão embaçando. Ele nem olhou para mim. Todo o seu foco estava em Carla.
"Carla! O que aconteceu? Você está bem?" Ele embalou a cabeça dela, seus olhos cheios de preocupação agonizante.
Carla soluçou, apontando um dedo trêmulo para mim. "Ela... ela entrou aqui... e me atacou! Ela me xingou... ela me arranhou!" Sua voz estava carregada de terror, uma performance perfeita.
Os olhos de Eduardo, mais frios que gelo, se voltaram para mim. "Laura. O que você fez?" Sua voz era baixa, ameaçadora, uma tempestade se formando sob a superfície.
Eu balancei a cabeça, lágrimas finalmente transbordando, misturando-se com o sangue em minha bochecha. "Ela está mentindo, Eduardo! Ela se arranhou! Ela me atacou!" Tentei me levantar, mas meu corpo parecia pesado, machucado.
Ele não acreditou em mim. Eu vi em seus olhos. Ele nunca acreditaria.
Carla fungou, puxando a manga de Eduardo. "Ela... ela disse que ia garantir que eu nunca mais te visse. Ela disse que arruinaria minha vida. Ela disse... ela disse que desejava que eu tivesse morrido no incêndio."
Meu queixo caiu. A pura audácia de suas mentiras roubou minha voz.
O aperto de Eduardo em Carla se intensificou. Ele olhou para minha bochecha sangrando, depois para o braço recém-arranhado de Carla. Ele nem registrou o corte no meu rosto. Sua atenção estava exclusivamente no sofrimento dela. Minha dor era invisível para ele.
"Isso é verdade, Laura?" Sua voz era mortalmente silenciosa, um tremor de pura fúria percorrendo-a. "Você a ameaçou?"
"Não! Ela está mentindo! Ela me atacou!" gritei, apontando para minha própria bochecha ferida. "Olhe para o meu rosto! Ela fez isso!"
Eduardo apenas olhou para minha bochecha, depois recuou, um olhar de repulsa cruzando seu rosto. "Você está sangrando, Laura. Afaste-se dela. Você é uma contaminação." Ele se afastou de mim, movendo-se para mais longe de minha mão estendida. Seus olhos se estreitaram. "Chame a segurança. Tire-a daqui. E certifique-se de que ela pague por isso."
"Pagar pelo quê?" gritei, a injustiça um fogo ardente em minhas veias. "Por ser sua esposa? Por te amar? Por existir?"
Ele ignorou minhas perguntas, sua atenção já de volta a Carla, murmurando palavras de consolo. "Não se preocupe, querida. Ela não vai te tocar de novo. Eu prometo."
Meu coração, já em pedaços, parecia estar sendo moído até virar pó. Três anos de devoção, de suportar sua crueldade, de acreditar em algum amor distante e inatingível. E tudo terminava aqui, com ele acreditando em uma mentirosa manipuladora em vez de sua própria esposa, simplesmente porque ele amava mais as mentiras do que a verdade.
"Eduardo," sussurrei, minha voz rouca com a dor de mil esperanças esquecidas. "Depois de tudo... depois de tudo que eu fiz... como você pode ser tão cruel?"
Ele não olhou para mim. Seu olhar estava fixo em Carla, seu mundo girando em torno dela.
"Eu protegi seu nome, sua família, seus segredos," continuei, minha voz ganhando um tom desesperado. "Eu fiquei ao seu lado, mesmo quando você me tratava como lixo. Eu acreditei em você. E é assim... é assim que você me paga?"
Ele finalmente se virou, seus olhos me perfurando. "Você quer falar sobre pagamento?" Ele se levantou, pairando sobre mim. "Você causou uma cena. Você atacou a Carla. Você é uma desgraça. A simples visão de você me enoja. Saia da minha frente. Agora." Ele latiu para os guardas que acabavam de chegar. "Levem-na. E certifiquem-se de que ela aprenda a lição."
Os guardas, de rosto sombrio, me levantaram. Meu braço torceu dolorosamente atrás das minhas costas. Um estalo agudo ecoou na sala. Uma dor lancinante subiu pelo meu braço. Minha visão nadou.
"Meu braço!" engasguei, a dor momentaneamente eclipsando minha agonia emocional.
Eduardo apenas olhou para o ângulo torcido do meu braço, depois desviou rapidamente o olhar, um lampejo de nojo pelo sangue em meu rosto e roupas. "Tirem-na daqui. Certifiquem-se de que ela não contamine mais um centímetro deste hospital."
Os guardas me arrastaram para fora do quarto, meus pés mal tocando o chão. A última coisa que vi foi Eduardo, curvado sobre Carla, sua mão acariciando suavemente o cabelo dela, seu rosto uma máscara de devoção. E então, tudo ficou preto.