"Justiça," respondi, minha voz firme. "Carla Salles enfrentará toda a extensão da lei por seus crimes. Por tentar assassinar meu irmão. Por espionagem corporativa. Por mentir, manipular e destruir vidas."
Carla, que estava agarrada ao braço de Eduardo, soltou um soluço engasgado. "Eduardo, não a deixe! Ela só está tentando se livrar de mim!"
Ele a ignorou, seus olhos ainda fixos em mim. "Eu posso puni-la eu mesmo, Laura. Posso cortá-la. Exilá-la da minha vida. Garantir que ela nunca mais trabalhe nesta cidade. Posso até providenciar uma rescisão silenciosa e confortável. Sem prisão." Ele deu um passo mais perto, sua voz caindo para um murmúrio persuasivo. "E para você... eu vou consertar as coisas. O que você quiser. Um acordo generoso. Um pedido público de desculpas meu. Podemos até... recomeçar. Sair em um encontro. Tentar fazer este casamento... real."
Eu quase ri. Suas palavras eram uma paródia cruel dos sonhos que eu um dia nutri. Recomeçar? Um encontro? O pensamento era tão repulsivo que revirou meu estômago. Ele estava me oferecendo migalhas, anos tarde demais, depois de ter queimado meu mundo até o chão.
"Você está me oferecendo um encontro?" perguntei, um sorriso amargo brincando em meus lábios. "Depois de me envergonhar publicamente, aleijar meu irmão e celebrar com sua amante? Você acha que um 'encontro' pode consertar isso, Eduardo?" A pura arrogância, a total falta de noção, era de tirar o fôlego.
Seu rosto escureceu. "Então o que você quer? Diga seu preço, Laura. Mas saiba disso: Carla nunca verá o interior de uma cela de prisão. Não se eu tiver algo a dizer sobre isso."
"Ela verá," afirmei, minha voz firme. "Porque ela merece. Justiça não é negociável. E sua proteção a ela apenas prova sua culpa."
"Ela está com medo, Laura! Ela cometeu erros! Mas ela é apenas uma garota!" Sua voz se elevou, tingida de desespero.
"Uma garota que tentou assassinar meu irmão," contrapus, meus olhos ardendo. "E uma garota que traiu sua confiança, roubou os segredos da sua empresa e te alimentou com uma dieta de mentiras até você ficar cego."
Ele recuou ligeiramente, a verdade de minhas palavras o atingindo, mesmo que ele se recusasse a reconhecê-la. Ele cerrou a mandíbula. "Tudo bem. Então vou garantir que as Empresas Moreno nunca vejam outro dia. Usarei todas as brechas legais, todas as conexões poderosas. Comprarei seus fornecedores, cortarei sua distribuição. Vou te enterrar." Ele olhou para mim, um brilho cruel em seus olhos. "E então, Beto Pena enfrentará acusações federais por espionagem corporativa. Com sua empresa em ruínas, você não terá recursos para lutar contra mim. Você perderá tudo."
Meu coração batia forte. Beto, ainda se recuperando, ainda frágil. As Empresas Moreno, finalmente no caminho da recuperação graças a Otávio. Ele arruinaria tudo, apenas para protegê-la.
Beto, que insistiu em estar presente, apesar de sua perna, bateu com a bengala no chão. "Você não ousaria, Eduardo! Você estaria destruindo os esforços do seu avô! Ele garantiu a sobrevivência da empresa de Laura!"
Eduardo apenas zombou. "O sentimentalismo do meu avô é sua fraqueza. Eu sou pragmático. Minha lealdade é para com aqueles que a merecem. E Carla merece minha proteção." Ele olhou para mim, seu olhar frio e resoluto. "Então, Laura. O que vai ser? Justiça para Carla e a aniquilação completa de sua família? Ou um acordo?"
Meus olhos arderam com lágrimas não derramadas. Acordo. Era sempre acordo com ele. Meus sonhos, minha dignidade, minha vida inteira. Sempre um acordo. O peso de sua ameaça, a realidade cruel da vulnerabilidade do meu irmão e do precário estado financeiro da minha família, pesaram sobre meus ombros.
"Você não tem o direito," sussurrei, minha voz embargada de emoção. "Você não tem o direito de nos tratar assim. De nos pisotear continuamente, de nos negar a decência humana básica, tudo por causa de uma... uma mentira."
Ele não respondeu. Ele simplesmente ficou lá, seu rosto uma máscara de determinação fria, pronto para executar sua ameaça.
Fechei os olhos, uma única lágrima escapando, traçando um caminho pela mancha de sangue seco e hematomas em minha bochecha. "Tudo bem," engasguei, a palavra rasgando de minha alma. "Eu farei isso. Vou parar o processo contra Carla Salles."
Um sorriso triunfante tocou os lábios de Eduardo. Carla soltou um suspiro de alívio, agarrando-se a ele com mais força.
"Mas com uma condição," continuei, meus olhos se abrindo de repente, um fogo frio queimando dentro deles. "Você me transferirá todas as suas ações nas Empresas Moreno. Você injetará capital suficiente para garantir sua completa estabilidade financeira pelos próximos cinco anos. E você nunca, jamais, interferirá com minha família ou minha empresa novamente." Encontrei seu olhar, minha voz inabalável. "Em troca, assinarei a declaração para retirar as acusações de Carla."
Eduardo me encarou, surpreso. Eu havia pedido suas ações, não apenas dinheiro. Foi um movimento ousado, uma retomada simbólica do poder da minha família. Ele pesou suas opções. O escândalo público, o dano potencial à sua própria empresa pela espionagem de Carla, versus perder algumas ações em uma empresa que ele via como insignificante. E a liberdade de Carla.
Ele olhou para Carla, depois de volta para mim. "Concordo."
Minha respiração falhou. Ele havia concordado. Ele estava disposto a sacrificar suas ações, seu capital, por ela. Foi uma confirmação final e brutal de suas prioridades.
As semanas seguintes foram um turbilhão. Assumi as Empresas Moreno, implementando imediatamente mudanças radicais. Minha inteligência, minha resiliência, a acentuada capacidade de decisão aprimorada por anos de sofrimento, agora focada na reconstrução. Despejei toda a minha energia, toda a minha dor, na empresa. Beto, apesar de seus ferimentos, era meu braço direito, suas habilidades de hacking inestimáveis para fortalecer nossos sistemas contra quaisquer ataques futuros de Eduardo ou seus rivais.
Lenta e arduamente, as Empresas Moreno começaram a ressurgir das cinzas. Diversificamos, inovamos e lutamos cada batalha com uma tenacidade recém-descoberta. O público, vendo minha determinação, começou a se unir em torno de nós. A narrativa mudou novamente, desta vez a nosso favor.
Eduardo, fiel à sua palavra, transferiu suas ações e o capital. Assinei a declaração, selando o destino de Carla à liberdade, mas condenando Eduardo a um futuro entrelaçado com uma mulher que o havia traído repetidamente. A ironia não passou despercebida por mim.
A última papelada, o decreto final de divórcio, chegou. Assinei com um floreio, um gosto amargo na boca, mas uma sensação de profunda libertação me invadindo. Embalei a certidão de divórcio assinada, junto com uma nota breve e formal, e a enviei para o escritório de Eduardo.
Eu estava partindo. Não apenas da cidade, mas do país. A Universidade de Stanford havia aceitado minha inscrição. Uma nova vida me aguardava. Uma chance de me reinventar, longe das sombras tóxicas de Eduardo Monteiro e seu amor destrutivo.
No dia do meu voo, parei na delegacia para completar as formalidades finais para a retirada das acusações de Carla. Ao sair, meu coração mais leve do que em anos, ouvi a voz de Eduardo atrás de mim.
"Laura!"
Congelei, depois me virei lentamente. Ele estava lá, parecendo abatido, seus olhos sombreados. Ele tinha corrido até aqui, percebi.
"Está feito, Eduardo," eu disse, minha voz desprovida de emoção. "Carla está livre."
Ele deu um passo em minha direção, sua mão estendida, depois hesitou, deixando-a cair. "Laura... eu... eu queria dizer... obrigado. Por retirar as acusações. Por... tudo." Sua voz era áspera, incomum. "Eu sei que estive... eu sei que cometi erros. Quero fazer as pazes. Ainda posso te compensar. Financeiramente. O que você precisar."
"Você já fez, Eduardo," eu disse, minha voz monótona. "Você me deu suas ações. Você me deu minha liberdade." Olhei para ele, realmente olhei para ele, pela primeira vez em anos. E não vi nada. Nenhuma raiva. Nenhuma dor. Apenas vazio. "Não há mais nada a consertar."
Virei-me para ir embora.
"Laura, espere!" ele chamou, sua voz tingida de desespero. "Você está realmente partindo? Para sempre?"
Eu não olhei para trás. "Adeus, Eduardo."
Ao sair da delegacia, eu os vi. O carro de Eduardo, elegante e preto, estava estacionado na calçada. Carla Salles esperava lá dentro, seu rosto iluminado por um sorriso triunfante. Quando passei, ela se inclinou, pressionando um beijo demorado na bochecha de Eduardo. Ele sorriu de volta, um flash da ternura que eu um dia desejei.
Meu estômago revirou. Um final amargo e irônico para meu pesadelo de três anos. Eu estava livre. Mas ele ainda estava preso, agarrado às mesmas correntes que quase o destruíram.
Afastei-me, meu coração uma dor oca, mas minha resolução solidificada. Eu nunca o perdoaria. Eu nunca esqueceria. E eu nunca, jamais, olharia para trás. Meu voo estava esperando. Minha nova vida estava esperando.
Mais tarde naquela noite, enquanto eu voava alto acima das nuvens, deixando para trás os pedaços estilhaçados do meu passado, Eduardo Monteiro estava em seu escritório, seu rosto pálido, encarando um pequeno e despretensioso pacote que acabara de ser entregue. Meu nome, em caligrafia elegante, estava no endereço do remetente. Ele ainda não sabia, mas meu adeus final acabara de chegar.