Sua voz era desprovida de emoção. Era uma oferenda transacional. Um tratado de paz frio.
Olhei para a caixa. "O que é?"
"Um vestido", ele respondeu. "Para o Baile de Gala no sábado."
O baile de caridade anual do Comando. A noite em que assassinos brincavam de filantropos.
"Eu não vou", eu disse.
"Você vai", disse Dante, seu tom não deixando espaço para discussão. "Você é a esposa do Chefe. Você estará ao meu lado."
*Ela tem que ir. Isso mantém os rumores afastados.*
Rumores de que seu casamento estava falhando. Rumores de que ele estava dormindo com Sofia.
Levantei-me, mancando um pouco, e caminhei até a cama.
Abri a caixa.
O vestido era deslumbrante. Seda verde-esmeralda, com as costas nuas e uma fenda que mostraria minha perna boa. Era exatamente do meu tamanho. Era exatamente do meu estilo.
Estendi a mão para tocar o tecido.
E então senti o cheiro.
Baunilha. Baunilha barata e enjoativa.
Minha mão congelou no ar. Inclinei-me para mais perto, inalando bruscamente. Não estava apenas no tecido. Estava impregnado nas fibras.
Alguém havia usado isso. Alguém havia borrifado perfume no pescoço enquanto usava este vestido.
Sofia.
A imagem brilhou em minha mente. Sofia, girando na frente de um espelho. Dante a observando.
*Serve?*
*Como uma luva, Dante. Você gosta?*
*Tire. É para a Helena.*
Ele a deixou experimentar. Ele comprou um vestido para sua esposa e deixou sua amante modelá-lo primeiro. Eu estava recebendo as sobras. Eu estava vestindo a pele que ela havia trocado.
A náusea subiu pela minha garganta, violenta e ácida. Bati a tampa da caixa com força.
"Ela ficou bem nele?", perguntei.
Minha voz estava mortalmente calma.
Dante enrijeceu. "O quê?"
"Sofia", eu disse, olhando para ele. "Ela ficou bem no meu vestido?"
Os olhos de Dante se desviaram. Um movimento microscópico. Mas eu vi.
*Como ela sabe?*
"Ela estava na butique", disse Dante, a voz tensa. "Ela me ajudou a escolher. Ela o segurou para verificar o comprimento."
"Mentiroso", sussurrei.
"Eu não estou mentindo!", Dante rosnou. "Por que você é tão obcecada por ela?"
"Porque você cheira a ela!", gritei. "Meu vestido cheira a ela! Minha casa cheira a ela! Minha vida inteira fede a ela!"
Peguei a caixa e a empurrei da cama. Ela caiu no chão com um baque surdo.
"Eu não vou usar isso", eu disse. "E não vou ao seu baile."
Dante deu um passo à frente, o rosto sombrio de fúria. "Você vai usar", ele rosnou. "E você vai sorrir. E vai fingir ser uma esposa obediente. Ou, por Deus, Helena..."
"Ou o quê?", o desafiei. "Você vai me matar? Vá em frente. Seria uma misericórdia."
Dante me encarou. Seu peito arfava. Ele parecia querer me sacudir. Ou me beijar. Ou me estrangular.
*Eu só quero paz. Por que ela não pode simplesmente me dar paz?*
"Se você quer paz", eu disse, respondendo ao seu pensamento não dito, "então me deixe ir."
Dante congelou. "O quê?"
"Uma anulação", eu disse. "Me deixe ir. Você pode ter a Sofia. Você pode ter a cobertura. Você pode ter a paz."
O rosto de Dante ficou em branco. Frio. A máscara estava de volta.
"Não", disse ele.
"Por quê?"
"Porque você é minha", disse ele. "Até a morte."
Ele se virou e saiu do quarto. Ele não bateu a porta. Ele a fechou suavemente. Como se estivesse fechando um caixão.
Fiquei ali, encarando a porta fechada. Ele não me deixaria ir. Ele me manteria aqui, atormentada e humilhada, até que eu definhasse.
Olhei para a caixa do vestido no chão.
Eu não ia definhar.
Fui até o armário e peguei uma mala. Não coloquei roupas. Coloquei dinheiro. Coloquei meu passaporte.
Coloquei o pequeno revólver que meu pai me deu no meu aniversário de dezoito anos.
Eu não ia para o Baile. Eu ia para o único lugar onde o diabo não poderia me encontrar. Ou assim eu esperava.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Giovanna.
*Hoje à noite. Estação da Luz. 1 da manhã.*
A resposta veio dez segundos depois.
*Tô dentro.*
Olhei para a aliança no meu dedo. O diamante era enorme, impecável e frio. Eu a tirei.
Coloquei-a na mesa de cabeceira, bem ao lado do vestido com cheiro de baunilha.
"Até a morte", sussurrei para o quarto vazio.
Peguei minha bolsa.
"Eu escolho a vida."