Minha respiração falhou. Sua mandíbula estava manchada com hematomas roxos profundos.
"Ele disse que eu era muito barulhenta. Muito opinativa. Ele queria uma muda."
A raiva ferveu em minhas veias, quente e familiar.
"Ele vai pagar", jurei.
"Ele já está pagando", disse ela, um sorriso perverso tocando seus lábios machucados. "Eu esvaziei o cofre antes de sair."
"Mais alguém vem?", perguntei.
"Eu."
Uma voz veio das sombras atrás de um pilar de concreto.
Clara.
Ela parecia um fantasma, sua pele translúcida sob as luzes duras da estação.
Ela tremia, suas mãos agarrando uma pequena bolsa de lona com tanta força que seus nós dos dedos estavam brancos.
"Lucas?", perguntei gentilmente.
"Ele não me bateu", sussurrou Clara, sua voz quase inaudível. "Ele apenas... me apagou. Não falei uma palavra nas últimas três semanas que ele realmente tenha ouvido."
Ela olhou para nós, seus olhos arregalados de terror puro.
"Estamos mesmo fazendo isso?", ela perguntou. "Eles vão nos matar."
"Eles têm que nos encontrar primeiro", eu disse.
"Para onde vamos?", perguntou Giovanna.
"Rio de Janeiro", eu disse.
"Por que o Rio?"
"Porque é território neutro", expliquei. "O Comando não tem jurisdição lá. E porque é barulhento. É brilhante. É tudo o que eles odeiam."
O apito do trem soou.
Era um grito lúgubre e solitário na noite.
"Esta é uma passagem só de ida", eu disse, encontrando seus olhos. "Assim que entrarmos nesse trem, estaremos mortas para eles. Seremos quebradoras da Omertà."
Giovanna cuspiu nos trilhos.
"Ótimo."
Embarcamos no trem.
Encontramos um compartimento e trancamos a porta com um clique decisivo.
Quando o trem deu um solavanco para frente, deixando para trás a cidade que fora nossa prisão, senti uma sensação estranha se expandir em meu peito.
Não era medo.
Era ar.
Pela primeira vez na minha vida, eu finalmente podia respirar.
POV de Dante Carvalho
O silêncio na Fortaleza era ensurdecedor.
Chutei a porta da frente para abri-la.
"Helena!"
Nenhuma resposta.
As luzes estavam apagadas.
O ar estava viciado.
Parecia uma tumba.
Corri escada acima, subindo de dois em dois degraus, o pânico apertando meu peito.
Meu coração batia um ritmo frenético contra minhas costelas.
*Ela está só fazendo birra. Está escondida no quarto de hóspedes.*
Abri a porta do quarto com um empurrão.
Vazio.
A cama estava feita.
Perfeitamente, militarmente feita.
Fui ao armário.
As roupas dela estavam lá.
Exceto pelo terno branco.
E o casaco preto.
Fui ao banheiro.
A escova de dentes dela havia sumido.
Pânico, frio e agudo, arranhou minha garganta.
Corri de volta para a cozinha.
Nada.
Fui para o escritório.
Nada.
Fiquei no centro da sala de estar, girando, procurando por um bilhete, um sinal, qualquer coisa.
Então eu vi.
Na pequena mesa de entrada.
As chaves da casa.
E as chaves do carro dela.
Eu as peguei.
Minhas mãos tremiam.
Meu celular vibrou.
Rocco.
"Chefe", disse ele, a voz estrangulada. "Giovanna sumiu. O cofre está vazio."
Meu sangue gelou.
"Verifique o rastreador do carro dela", lati.
"Eu verifiquei", disse Rocco. "Está na estação de trem."
"Lucas?", perguntei, o pavor se acumulando em meu estômago.
"Clara também sumiu", disse Rocco. "Ela deixou a aliança no cinzeiro."
Três esposas.
Desaparecidas.
Na mesma noite.
Isso não era um chilique.
Isso era um motim.
Olhei para as chaves em minha mão.
Helena não tinha apenas me deixado.
Ela havia liderado uma revolução.
Apertei as chaves até o metal cravar em minha palma.
"Encontrem-nas", sussurrei, minha voz letal.
"Encontrem-nas agora."