- Ah, alguns amigos meus! Eles estão apenas começando, então serão super gratos a nós! - ela cantou, alheia ao pânico em minha voz. - E os chips deles são, tipo, totalmente orgânicos e artesanais. Os outros chips provavelmente estavam cheios de produtos químicos. Tão insalubres!
Tentei explicar, argumentar, mas ela apenas fez beicinho e ameaçou chorar.
- Você não confia em mim? Depois que eu salvei sua vida, você ainda duvida do meu julgamento?
A ladainha familiar. A culpa inabalável. Suspirei, passando a mão pelo rosto. Minha cabeça latejava.
- Tudo bem, Isabela. Apenas... tenha cuidado.
Os chips "artesanais" foram um desastre. O primeiro lote, projetado para nosso mais novo smartphone, fez com que os dispositivos superaquecessem e explodissem esporadicamente. Então veio a notícia de que a fábrica "boutique" que os amigos de Isabela possuíam era um armazém dilapidado, operando com mão de obra imigrante ilegal e sem padrões de segurança. Um grande acidente ocorreu, resultando em várias mortes e ferimentos graves.
A tempestade na mídia atingiu como um tsunami. As manchetes gritavam: "O Segredo Mortal da Montenegro Tech", "A Ganância da Namorada do Bilionário Mata". A imagem cuidadosamente cultivada de inovação e fornecimento ético da minha empresa se despedaçou em um milhão de pedaços.
Isabela, em vez de se esconder, piorou as coisas. Ela deu uma coletiva de imprensa improvisada, culpando "as vítimas por não seguirem as instruções" e "a mídia por ter inveja do meu sucesso". Suas palavras alimentaram o fogo, acendendo um clamor nacional contra minha empresa e, por extensão, contra mim.
O mercado de ações reagiu rapidamente. As ações da minha empresa despencaram, eliminando bilhões de sua avaliação em um único dia. Meu império cuidadosamente construído estava desmoronando, tudo por causa da arrogância imprudente de Isabela e da minha própria fraqueza.
Encontrei-a em meu escritório, cantarolando, alheia, navegando nas redes sociais. Cerrei a mandíbula com tanta força que pensei que meus dentes iriam quebrar.
- ISABELA! - Minha voz era um rugido, sacudindo as próprias paredes.
Ela pulou, assustada, seu telefone caindo no chão.
- T-Theo? O que há de errado? - Seu rosto estava pálido, seus olhos arregalados com um medo que eu nunca tinha visto neles antes.
- O que há de errado? - rosnei, caminhando em sua direção, minhas mãos cerradas em punhos. - Você quer saber o que há de errado? Você destruiu tudo! Minha empresa, minha reputação, vidas foram perdidas por causa de suas decisões idiotas e egoístas!
Ela recuou, de repente mansa.
- Mas... mas eu só estava tentando ajudar! Você sempre disse que eu era tão inteligente! Você disse que me amava! - Lágrimas brotaram em seus olhos, seus lábios tremendo, o prelúdio familiar para sua performance manipuladora. Ela alcançou meu braço. - Benzinho, não fique bravo. Lembra do que eu fiz por você? Lembra da montanha? Eu salvei sua vida!
Mas desta vez, as palavras eram um eco frio e morto. A montanha. Não tinha mais poder sobre mim. Tudo que eu via era a destruição que ela havia causado, as vidas arruinadas, a empresa sangrando. Puxei meu braço, enojado.
- Tire suas mãos de mim - grunhi, minha voz baixa e perigosa. Virei-lhe as costas, andando pela sala, tentando recuperar alguma aparência de controle. Minha equipe jurídica já estava se esforçando para mitigar os danos, mas era uma tarefa monumental.
Isabela me observava, um brilho de algo desesperado e feio em seus olhos. Ela tentou novamente, jogando-se em mim, enterrando o rosto em minhas costas.
- Theo, por favor! Não me deixe! Podemos consertar isso! Eu te amo! Prometo que serei boa! - Ela começou a soluçar, um som lamentável e desesperado.
Eu não senti nada. Nenhuma pena, nenhum amor, nenhum traço da gratidão avassaladora que uma vez me acorrentou a ela. Apenas um cansaço profundo e doloroso. Afastei-a, gentil, mas firmemente.
- Não há nada para consertar, Isabela. Não entre nós. - Agora que a via claramente, sua beleza parecia superficial, seu charme um verniz fino sobre um núcleo de puro egoísmo. A visão dela, seu rosto contorcido em uma exibição teatral de tristeza, me encheu de uma nova onda de repulsa.
Ela me encarou, a boca aberta.
- O quê? Você... você não pode! Eu salvei sua vida!
Olhei em seus olhos, olhei de verdade, e vi a alma distorcida e manipuladora sob a fachada bonita. Minha gratidão, meu amor, minha culpa - tudo isso havia evaporado, deixando para trás apenas um gosto amargo. A mulher diante de mim não era uma salvadora; era uma sanguessuga, sugando a vida de tudo que tocava.
- Isso não significa nada agora - eu disse, minha voz monótona. - Não significa absolutamente nada. - Virei-me, caminhando em direção à porta. Havia uma empresa para salvar, uma reputação para reconstruir, uma bagunça para limpar. Uma bagunça que ela havia criado, e uma bagunça que eu havia permitido.
Isabela ficou congelada, seus soluços morrendo na garganta, substituídos por um terror crescente. Pela primeira vez, ela viu o brilho frio e duro do meu verdadeiro eu, despojado de devoção equivocada. E pela primeira vez, ela estava verdadeiramente com medo.