Capítulo 3 3

Abri a porta de casa ansiosa por um banho demorado, louca para devorar um jantar e depois, simplesmente cair na minha cama. Mas ao ver Mila em pé na minha sala, com um olhar de pena, minhas energias se renovaram e corri para o segundo quarto, do pequeno corredor. Parei estática ao ver minha mãe sentada na ponta da sua cama, balançando seu corpo para frente e para trás, e com o olhar perdido.

- Ela não está nada bem hoje. - Mila comentou, parando ao meu lado.

- O que houve? - Ela solta um suspiro audível.

- Eu não sei. Blanca simplesmente se recusou a tomar seus remédios e começou a dizer estar vendo seu pai no quarto. Eu quis acalmá-la, mas ela não parava de gritar e quando parou, ficou assim.

- Droga, Mila! Por que não me ligou?

- E atrapalhar o seu segundo dia de trabalho?

- Mila, ela é a minha mãe!

- Sim. E você precisa desse emprego para poder ajudá-la. - Soltei uma respiração alta e fui para perto dela. Pus as mãos em seus ombros, mas ela não me olhou. Seus olhos continuavam fixos na parede atrás de mim.

- Oi, querida! - sussurro, forçando um sorriso para ela. Nada! Blanca simplesmente parecia não estar aqui. - Desculpa ter demorado tanto, mas já cheguei, está vendo? - Forço uma animação que não tenho no momento.

- Luna, Blanca precisa de ajuda. - Mila insiste. Fecho os meus olhos e seguro as lágrimas. Ela tem razão, não posso ajudá-la se não consigo estar perto dela o tempo todo. - A Marisa não pode viver roubando calmantes do hospital, ela pode perder o emprego.

- Eu sei! - respondi baixinho e com desânimo.

- Andei pesquisando algumas casas de repouso que tem uma mensalidade razoável. E eles cuidarão direto dela para você. Deixei alguns contatos e panfletos em cima da mesa, para você analisar.

- Obrigada, Mila! - Ergui o meu corpo e caminhei para fora do quarto.

Na sala, me despedi da nossa vizinha, fechei a porta e sentei-me sem forças em uma cadeira, da mesa de quatro lugares. Observei alguns papéis e cartas no tampo, e com um suspiro cansado, peguei um panfleto com o nome San Tiago Nursing Home - Casa de Repouso São Tiago - e me pus a ler, deixando que as lágrimas viessem à tona.

- Desculpa, mãe! - Baixei a cabeça e me entreguei ao momento doloroso.

****

Alguns dias...

O lugar não é de todo ruim e as mensalidades cabem direitinho no meu bolso, e ainda me sobrará tempo para fazer alguns extras, se precisar. Penso, enquanto caminho pelos cômodos da casa de repouso, ao lado de Larissa Krill, a administradora do lugar. Um quarto só para ela, com banheiro, um guarda-roupa pequeno e uma cama de solteiro, próximo a uma janela larga, de onde poderá apreciar um belo e convidativo jardim. O quarto não é muito espaçoso, porém, é bem iluminado e o contato com a natureza poderá ajudá-la. Larissa me garante um acompanhamento com psicólogo e outros profissionais, contudo, separar-me da minha única família está me matando por dentro.

- E então? - A mulher me encara em expectativa, através dos óculos de grau e antes de lhe responder, olho mais uma vez o pequeno e aconchegante cômodo.

- Eu gostei! - digo por fim. Ela me abre um meio sorriso. - Quando posso trazê-la?

- Primeiro, precisa preencher alguns documentos e uma ficha com todos os dados de sua mãe. É necessário sabermos os mínimos detalhes sobre ela, Luna. Depois, é necessário pagar a primeira mensalidade adiantada, é só uma forma que encontramos de arcar com alguns gastos iniciais e então, poderá trazê-la.

- Está bem, farei isso o mais rápido possível. Obrigada, Larissa!

Saio da casa de repouso satisfeita, porém, com o coração apertado no peito, mas com a consciência de que será o melhor para ela. Agora precisarei de mais um emprego para garantir a minha sobrevivência e quitar a hipoteca da nossa casa, e quem sabe poderemos voltar a morar nela?

Ao chegar em casa, dediquei-me a lhe fazer companhia, pois a terei por perto por poucos dias, então quero aproveitar o máximo de tempo que teremos juntas. À noite, preenchi uma longa ficha, tendo o cuidado de não esquecer alguma informação e jantei sozinha como tenho feito nos últimos dias. Dona Blanca passou o dia inteiro divagando e isso é preocupante. O adiantamento da mensalidade foi a coisa mais fácil de se conseguir e acredite, fiquei surpresa com isso, mas o meu chefe facilitou bastante esse quesito. Preciso lembrar-me de agradecê-lo na segunda. O início da semana foi a parte mais difícil da minha vida. Após deixá-la na casa de repouso, e de ter a certeza de que ficaria bem, fui direto para a Stanford, e como imaginei, minha cabeça estava o tempo todo focada em minha última decisão. Até pensei em voltar atrás e ir tirá-la de lá, mas... e depois?

- O que você fez dessa vez?! - Calebe perguntou com um tom preocupante, assim que entrou na copa. Eu simplesmente o fitei sem uma reação alguma, afinal, eu não sabia se tinha feito algo de errado realmente. Provavelmente sim, mas não tenho certeza.

- Eu... não sei - gaguejei desnorteada.

Deus, eu não posso me dar ao luxo de perder esse emprego! Roguei, pois agora eu tinha uma responsabilidade a mais.

- Por que a pergunta? - Forcei-me a perguntar. O homem soltou uma respiração alta e se aproximou um pouco mais.

- O senhor Stanford deseja vê-la em sua sala. Agora - disse com um tom sério demais. Merda! Agora tenho certeza que fiz algo errado, mas foi tão grave ao ponto do chefão pedir para me ver?

NOTAS DO AUTOR:

É DE CORTAR O CORAÇÃO TER QE DEIXAR A MÃE ASSIM, NÃO É, MAS SABEMOS QUE É PRECISO.

E, NOSSA, LUNA! PRIMEIRA MANCADA E JÁ FOI CHAMADA A ATENÇÃO?

SERÁ? TENHO AS MINHAS DÚVIDAS. CORRE PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO E VAMOS CONHECER UM POUCO DESSE CEO. MAS NÃO SE APAIXONEM GAROTAS, O HOMEM NÃO ACREDITA NESSA HISTÓRIA DE AMOR. SÓ UM AVISO, HEIN! VAMOS LÁ?