Esse CEO não é Meu
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Capítulo 5 5

Ron tentou não recuar quando a dor propagava de seu rosto até seu pescoço. Ele tinha visto o tapa vindo, mas ele não tentou detê-lo. Ele mereceu. Verdade seja dita, ele não tinha ideia do que veio sobre ele para acusá-la de algo tão degradante. - Ashley-

- Como você se atreve. - Ela estava respirando com dificuldade, seu amplo peito arfando. - Como você ousa insinuar que eu iria me rebaixar oferecendo o meu corpo para qualquer homem em troca de um favor? - Ela pisou por ele.

Ele agarrou seu braço. - Eu peço desculpas. O que eu disse foi desnecessário e rude. Sinto muito.

- Me solta, - ela retrucou e tentou arrancar o braço livre.

Ele a soltou e levantou os braços em sinal de rendição. - Agora saia.

Ron lançou uma respiração afiada. Isto não era o que ele tinha planejado. Ele precisava de sua ajuda, e sendo jogado para fora não era uma maneira de obtê-la. Por seus olhos brilhantes, um pedido de desculpas não seria suficiente. Ele procurou em seu cérebro uma solução rápida. - Eu posso te dar Carlyle House, Ashley.

Um riso mordaz escapou. - Eu não quero mais.

Seu estômago se apertou. - Por quê?

- Eu mudei de ideia.

Ela deve ter ouvido sua mãe e, apesar de suas afirmações anteriores, não tinha a intenção de pedir a sua ajuda. Na verdade, seu corpo rígido avisou para se afastar. Ele franziu o cenho. Ou talvez isso fosse um ato de manipulá-lo, fazêlo sentir pena dela. Crescendo em torno de sua mãe e suas amigas atrizes havia lhe ensinado a questionar as emoções das mulheres. Ele sabia que era errado e, muitas vezes lutou contra a sua resposta, mas agora... Ele podia confiar em Ashley?

- Nós não temos mais nada para discutir, - disse ela.

E ele não tinha nada a negociar. Ele não deveria ter mencionado a sua investigação na semana passada, ou saltado para conclusões quando a viu com Vaughn. Ron ignorou suas palavras e estudou sua expressão zangada. Ele viu através de sua bravata e raiva a dor que ele causou.

A súbita vontade de levar Ashley em seus braços e lhe oferecer conforto veio do nada. Ele não iria lá. Ele enfiou as mãos nos bolsos da frente da calça jeans ao invés. - Eu não devia ter saltado para conclusões e acusá-la de fazer algo antiético.

Ela olhou desafiadoramente para ele, seus olhos cor de avelã excessivamente brilhantes. Ele tirou as mãos dos bolsos e esfregou o rosto, em seguida, estudou-a com os olhos apertados. Senhor, a mulher era enlouquecedora. Por que não podia aceitar nada graciosamente?

- O que ele queria? - Questionou.

- Eu não lhe devo uma explicação.

- Eu sei. - Os Doyle eram bastardos cruéis, e ele tinha que saber o que eles estavam fazendo. Ele engoliu seu orgulho e acrescentou: - Por favor. Eu preciso saber.

Ashley suspirou, seus ombros flácidos. - Eu estava preocupada depois que eu ouvi as palavras da sua mãe e percebi que ela ainda estava sofrendo com o que aconteceu há dez anos. Eu estacionei e estava pensando em voltar para a sua casa para dizer que eu ia ajudar com a investigação, quando a limusine de Vaughn parou. Eu não sabia quem ele era. Ele me disse que seu nome era Vaughn Ricks, não Doyle. Ele pensou que eu estava tendo problemas com o carro. Eu não tinha ideia de que eu estava do lado de fora da residência Doyle.

Eu não sabia que ele comprou uma casa por lá até o segurança me

dizer. Minha mãe estava preocupada. Os Doyle não são as mais agradáveis das pessoas.

Ela encolheu os ombros. - Eu não sei nada sobre isso. Vaughn teve a gentileza de me oferecer uma mão quando ele pensou que eu precisava.

O monstro verde nele elevou sua cabeça. - Vaughn Doyle é um bastardo cruel, Ashley. Assim como seu pai.

Ela se afastou dele. - Não de onde eu estava. Ele foi um perfeito cavalheiro.

Enquanto ele não era, Ron pensou com um suspiro. Ela não tinha que dizer isso. Ele odiava se explicar, mas, neste caso, ele lhe devia muito. - Ok, o meu comportamento nesta tarde foi inferior a exemplar, admito. Eu não costumo falar ou agir assim. Esta investigação está ficando em mim. E eu não estava espionando você. O segurança estava.

Seus olhos se arregalaram. - Por quê?

- Minha mãe pediu-lhe para ficar de olho na residência do Doyle. O fato de que ele por acaso a viu e Vaughn e relatou isso para mim foi apenas uma coincidência. Ninguém ficou espionando você.

Ela ficou em silêncio, com os braços sobre o peito, os olhos sombreados. Ele não sabia mais o que dizer para recuperar sua confiança. - Por favor, diga que você perdoa meu comportamento deplorável.

Ela deu de ombros, parecendo aceitar o seu pedido de desculpas. Ele suspirou com alívio, em seguida, passou a explicar. - Ryan Doyle tentou cortejar minha mãe depois que meu pai morreu. Eu não sei o que ele fez ou disse, mas ela não gosta ou confia nele. Ela não é o tipo que perdoa.

Ashley assentiu. - Eu sei disso. Eu tinha quinze anos na época, não tinha ideia do que estava acontecendo com os meus pais e agi por puro instinto. - Ela falou baixinho como se falasse para si mesma. Seu olhar deslocou-se para o primeiro botão da camisa dele antes de acrescentar: - Talvez fosse tolice da minha parte pedir-lhe para ajudar os meus pais, mas toda a minha vida estava naquele inferno. - Ela procurou os olhos de Ron. - Agora eu sei que o que ele fez foi heroico. Quando eu soube depois que ele morreu, eu escrevi cartas para sua mãe pedindo-lhe que me perdoasse.

- Ashley-

- Deixe-me explicar. Por favor. Eu não recebi uma resposta dela, mas eu mantive-as por seis meses. Em seguida, ela escreveu de volta, duas vezes. - Ela acenou em direção às caixas no chão. - Eu estava procurando as cartas que me enviou antes de você chegar. Seu perdão me ajudou a lidar com a minha dor, Ron.

Ron não queria decepcioná-la, mas ele duvidava de que sua mãe tenha escrito aquelas cartas. Ele cresceu ouvindo a culpa de Ashley por tudo o que deu errado em sua família. Connie Wilkins, sua assistente, provavelmente escreveu. A mulher tinha estado com sua mãe por quase trinta anos.

- Você... você me culpa, também, Ron? - Ashley interrompeu seus pensamentos.

Sua mãe nunca o deixou esquecer a parte que Ashley desempenhou naquela noite e, sim, ele tinha se ressentido por um tempo. Mas, quando ele amadureceu e foi capaz de ver as coisas de forma realista, ele liberou a raiva. - Não, eu não culpo você.

Pesar e angústia cruzaram seu rosto. - Obrigada. Eu sei que ele ainda

estaria vivo-

- Não. - Ele queria se afastar, mas ele se viu segurando o rosto dela. Lágrimas tremeram em seus cílios. Ele podia sentir seu corpo tremer e, nesse momento, uma conexão que ele não poderia explicar se formou entre eles.

Sua angústia tornou-se dele, e ele estava impotente para impedir que isso queimasse por ele, torcendo o intestino e o lembrando de sua perda. Ele realmente não tinha lamentado o seu pai, nem quando a mãe dele precisava e nem quando as acusação e boatos de traição do seu pai tinham aparecido. Seu pai, a única pessoa que lhe dera o amor incondicional, e ele tinha estado muito irritado e envergonhado para lamentá-lo, até agora. Algo em torno de seu coração fechou e apertou.

Ron?

Seu olhar se desviou para o rosto de Ashley. A raiva e a dor se foram, e em seu lugar estava preocupação. Ressentimento veio do nada, as acusações remanescentes que tinha crescido tão acostumado a substituir a sua dor. Ele não queria piedade dela. Tudo que ele precisava dela era uma descrição do que viu naquela noite.

Ele endureceu, se afastou dela e cruzou os braços sobre o peito. - Meu pai era um bombeiro, Ashley. Ele sabia dos riscos envolvidos na profissão dele. - Seus olhos procuraram os dele, como se ela pudesse ver através de sua fingida indiferença a dor e o pesar dentro dele.

- Eu sinto muito por colocar você em uma posição tão estranha com minhas perguntas. Você perdeu alguém que amava naquela noite, também, e eu não tinha nada que trazer tudo de volta.

- Deixa pra lá, Ashley. - Por que as mulheres insistiam em analisar tudo? Ele estava meio na ponta dos pés em torno dela. Ele tinha que saber se ele poderia contar com ela. - Há algo mais que precisamos discutir que é a razão pela qual eu estou aqui.

Ela abriu a boca como se para discutir, em seguida, fechou. Uma carranca se formou em sua testa. - O que é?

- Eu preciso de sua opinião sobre algo. - Ele puxou um envelope dobrado, marrom do bolso de trás e ofereceu a ela.

Ela fez uma careta em vez de pegá-lo, a desconfiança evidente em seus

olhos.

- Minha mãe recebeu esta manhã. Alguém deixou o envelope em seu portão. Eu estava em uma conferência em San Diego esta semana, mas ela ligou e me pediu para voltar para casa por causa disso. Infelizmente, depois de ler seu conteúdo, ela não estava no estado de espírito certo para discutir qualquer coisa com você. Eu quero que você olhe para as fotos e me diga o que você acha.

O olhar desconfiado de Ashley deslocou-se do envelope para o rosto de Ron, depois de volta para o envelope. - Que fotos?

Só o abra, por favor.

Ela pegou o envelope, abriu a tampa e tirou o conteúdo. Ela arregalou os olhos e um suspiro escapou de seus lábios quando viu a fotografia do topo.

***

- Não pode ser, - Ashley sussurrou. O envelope e as outras fotografias escorregaram de seus dedos inertes e esvoaçaram para o chão, enquanto se sentava no banco mais próximo.

- O que é isso? - Inquietação encheu a voz de Ron. - O que há de errado?

Tudo estava errado. Ela reconheceu a fotografia que tinha tirado há dez anos. Foi a partir de um filme que ela tinha perdido na noite que seus pais tinham morrido. Obviamente, alguém tinha pegado da sua câmera. Mas quem? Por quê?

Ron pairava sobre ela. - Fale comigo. Sabia que não devia ter saltado isto em você assim, - ele repreendeu a si mesmo. - Eu deveria ter avisado. - Quando o olhar dela ficou pregado na fotografia, ele deu um passo para trás, pegou as outras e o envelope do chão e colocou-as no balcão. - Eu pensei que ver a imagem não importasse depois de tanto tempo, mas... Fale comigo, por favor.

Ela ouviu a voz dele, a preocupação atando suas palavras, mas as emoções tinham apreendido sua garganta, dificultando a fala. Seus olhos se recuperaram e se voltavam entre o rosto do seu pai e o da sua mãe. Eles pareciam tão reais, tão... tão vivos. Os olhos brilhantes, os sorrisos cheios e o amor brilhando em seus rostos era tudo inesquecível. Sua mão tremia, enquanto acariciava suavemente o papel frio, brilhante.

- É minha, - ela finalmente sussurrou, sua voz rouca e estranha para os ouvidos.

O quê?

Ela deu a Ron um olhar, e viu a mesma confusão em sua voz espelhada em seus olhos. Mordendo com força o lábio inferior, ela respirou fundo, depois de novo. Quando ela tinha algum mínimo de controle, ela olhou diretamente para ele e disse, devagar e claramente: - Eu tirei essa foto. Ela é minha. Eu quero saber quem a enviou, Ron.

- Não há nenhum endereço de retorno no envelope ou assinatura na carta. O que quer dizer com você tirou a foto? - questionou.

Ela lançou lhe um olhar impaciente. - Eu levantei a câmera, apontei e cliquei. - Sua voz estava nervosa, áspera. - Foi na noite do... - ela engoliu em seco, depois o queixo subiu, - na noite do incêndio.

Ron esfregou a nuca, uma expressão perplexa no rosto. - Como isso é possível? Como é que alguém as obteve? Isso não faz sentido.

- Eu sei. - Nada mais fazia sentido, inclusive por que tudo isso estava acontecendo com ela agora. Ela podia aceitar o ódio da mãe de Ron, contornar a oferta de Ryan Doyle, mas a súbita aparição de uma imagem a partir do rolo de filme que ela pensou estar perdido, a distraiu. Poderia Ron estar certo? Será que alguém iniciou o fogo?

Ela fechou os olhos e apertou a ponte do nariz. Ron estava esperando por uma explicação. Ela não estava pronta para dar uma. Cenas do passado passaram pela sua cabeça. Compras com a mãe, observando-a se preparar para uma performance, ouvindo ambos os pais ensaiar, desenvolvendo maneiras de fugir dos paparazzi, piqueniques privados nos parques... Depois houve aquela noite. Cheiro acre de fumaça negra sufocando os pulmões, queimando seus olhos, chamas famintas escaldantes nas janelas, os sons estridentes dos caminhões de bombeiros...

Seus olhos se abriram com surpresa, e ela focou na mão de Ron em cima da dela. Ela recebeu seu calor, o conforto oferecido em seu gesto. Irracionalmente, ela desejou que estivessem em qualquer lugar, mas não em seu loft discutindo o passado. Ela pensou que nunca teria que revisitar aquela noite.

Ron puxou a mão dela para chamar sua atenção. - Sei que isso não é fácil para você, - disse ele. - Se você não quiser fazer isso, está tudo bem comigo.

- Não, não. Eu estou bem. - Sua voz soava rouca aos seus ouvidos. Quem poderia culpá-la? Ron estava acariciando gentilmente a parte de trás da sua mão com as pontas dos dedos. Sensações subiram pelo braço dela, enchendo-a com o desejo de buscar o conforto que ele estava oferecendo, distraindo-a do que era importante. Ela deslizou a mão por baixo da dele.

- Eu não iria colocá-la no meio disto, se não fosse importante, - disse ele suavemente.

O baixo timbre de sua voz caiu sobre ela, aliviando e encapsulando seus nervos crus. Sim, isso era importante. Se isso estava amarrado a um incendiário, era importante. - Eu sei.

- Bom. - Ele chegou sob o envelope marrom e tirou as fotos que ela tinha deixado cair mais cedo. Ele passou-lhe uma, seus olhos vigilantes.

Ashley franziu os lábios para a imagem deles três juntos. Sua mãe e seu pai estavam em cada lado dela. - Papai... meu pai tinha me mostrado como configurar a câmera em um timer. Veja? - Ela indicou o fundo. - É o mesmo quarto que na primeira fotografia.

Ron lhe deu a terceira fotografia. Ela estudou a impressão brilhante. - Tirei esta fora da Carlyle House... Quero dizer, o Carlyle Clube, como era chamado então. Foi a primeira vez que eu vi. Parecia tão grande, magnífico, como um castelo saído de um conto de fadas.

- Um clube exclusivo para uma lista de estrelas era mais parecido com isso, - ele corrigiu ironicamente. - Um primo de minha mãe tentou na época. Você foi, provavelmente, a única filha que conseguiu entrar durante a noite. Eu tinha estado dentro dele várias vezes, mas sempre durante o dia, quando as famílias usavam a piscina e o restaurante.

Se ela pudesse se lembrar de ir para dentro. Era frustrante, mas, ao mesmo tempo, confortável. Sabia que era covardia dela, mas poucas lembranças daquela noite em particular lhe convinham muito bem.

Houve um breve silêncio tenso. Da expressão expectante de Ron, ela sabia que ele estava esperando por ela para dizer algo. Ela não queria discutir o que aconteceu, mas algo sobre a presença calmante do homem lhe pediu para ir adiante.

- Era meu aniversário, - ela finalmente disse, decidindo ir nas pontas dos pés, em vez de mergulhar no horror.

As sobrancelhas de Ron dispararam. - O dia do fogo?

Ela lhe deu um sorriso fraco e assentiu. - Torna uma maravilha o que o grandalhão no andar de cima estava pensando.

- Droga, - ele disse em voz baixa.

Uma droga era exatamente como ela se sentia em seus aniversários. Celebrando, e ao mesmo tempo de luto, era o suficiente para lançar uma torção na psique de qualquer um. Mas, para uma criança, era pura tortura. Sem sua querida e amorosa tia Estelle, ela não sabia se ela poderia ter suportado.

Ela franziu a testa quando ela pegou a expressão de Ron. Era pena ou compaixão? Pena era a emoção que ela se recusava a aceitar a partir de qualquer um. Ela apertou sua mão.

- Aprendi a viver com isso. - Seu tom saiu defensivo. - Minha tia tornou tudo melhor.

Ron balançou a cabeça. - Mas você se lembra de sua perda em seus aniversários. Como pode alguém tornar tudo melhor?

Ela encolheu os ombros. - Ao fazer-me ter duas festas de aniversário - uma na parte da manhã com os meus primos e amigos, e outra na parte da tarde no cemitério. Eu ia pegar flores do jardim, tirava pedaços de bolo e bebidas da festa, um leitor de cassetes e uma gravação de uma versão da canção de feliz aniversário que meus pais fizeram enquanto eles ainda estavam vivos. Minha tia e meu tio iam comigo, esperavam por mim, enquanto eu conversava com meus pais.

Será que ele achava que ela era maluca, porque ela falava com os mortos? Ela lhe lançou um olhar com o canto do olho, esperando ver choque ou zombaria. Alívio e algo próximo à gratidão passaram por ela quando ela o viu acenar.

- Nos primeiros anos, eu sempre falava sobre a mesma coisa - a minha festa de aniversário e os presentes que recebi naquela manhã. Então eu tocava a fita e organizava os bolos e bebidas em seus túmulos e saia.

- Isso deve ter sido difícil. - Sua voz era suave, incentivando.

- No começo, sim. Quando fiquei mais velha, tornou-se mais fácil. Sei que é ilógico, mas eu acreditava que podiam me ouvir. Eu continuo a fazer. Eu sempre vejo as coisas claramente depois de falar com eles. - Quando ela viu a expressão fascinada no rosto de Ron, ela corou. - Bobagem, né?

Ron cobriu a mão dela com a sua novamente. - Não, não é. Minha avó costumava falar com o meu avô o tempo todo. Ela me disse uma vez que quando você realmente ama alguém, você compartilha um vínculo que transcende o mundo físico. Eu acredito nela.

Hmm, interessante. Havia mais neste homem do que um corpo sexy, uma boca sensual, hipnotizantes olhos azuis elétricos... ela poderia continuar para sempre. Ela olhou furtivamente para as suas mãos unidas. Era natural, mas sua mão grande engoliu a sua menor. Ele estava acariciando sua pele novamente, desencadeando uma tempestade de emoções dentro dela.

Ela arrancou seu olhar. Isto era bobagem. Encontrar um homem totalmente fascinante que era tão diferente dela. E o que eles estavam discutindo antes que eles mudaram para "falar com os mortos"?

Desta vez, Ashley lentamente soltou sua mão de embaixo da dele e colocou-a no colo. Um arrepio tomou conta dela com a perda de seu calor. Seu olhar procurou uma distração. Qualquer coisa. As fotos vieram em seu socorro.

- De qualquer forma, nesse dia, - ela continuou, - eu tive o que eu sempre quis, uma câmera Nikon e uma oportunidade para celebrar o meu aniversário com os meus primos. Nós estávamos na casa da tia Estelle, mas quase todos os meus primos estavam lá. Foi uma bela festa. - Ela fez uma pausa e sorriu. - Eu não sabia que nós estávamos comemorando muito mais do que o meu aniversário, até mais tarde. Meus pais tinham guardado o melhor presente para o final.

Como se lendo sua mente, Ron disse, - Carlyle House?

- Sim.

- Um presente incomum para uma criança, - ele murmurou.

- Não quando você considera o que isso significava para mim. Eu passei os primeiros 15 anos da minha vida viajando com os meus pais e a banda em todo o mundo. Comprar Carlyle House ia mudar tudo isso. Significava estabilidade, não que eu soubesse disso, no momento. Eu só sabia que meus primos estariam a 30 minutos de distância e que eu podia fazer coisas com eles, ter amigos e festas do pijama. Eles me disseram sobre os papéis que estavam assinando naquela noite, seu plano para parar de fazer turnês e começar a trabalhar com talentos locais.

Lentamente, ela acariciou as impressões brilhantes, um sorriso nostálgico nos lábios. O choque de ver as fotos que haviam ido embora, mas ela ainda precisava saber de onde elas vieram. - Eu me lembro de tudo o que aconteceu antes de partirmos para o Carlyle Clube. O perfume da minha mãe suave, floral. - Ah, as lembranças, tão doces que eu posso ver e sentir o cheiro deles. - Rosas. Ela sempre cheirava a rosas. Nós duas estávamos dançando e cantando a letra de uma balada que tinham produzido, quando meu pai entrou. - Seus olhos embaçaram e ela teve que engolir após um nó na garganta para continuar. - Ele me deu um abraço e um beijo após a música terminar, me chamou de sua preciosa. Eu estava tão feliz que eu tinha que capturar o momento. Esta é a foto.

- Ela bateu na primeira foto.

Ron fez uma careta. - E o filme?

- Ele desapareceu. Minha tia me disse que não estava na câmera após o incêndio. Acho que perdi naquela noite. - A expressão pensativa preencheu seu rosto. - Na época, eu estava confusa demais para fazer perguntas, mas agora eu não posso deixar de pensar quem removeu o filme e por quê.

- Você poderia ter deixado cair? - perguntou Ron.

- Só se a tampa da câmera estava com defeito, mas isso teria exposto o filme. - Ela esfregou as têmporas. A dor de cabeça estava se formando lá rapidamente. - Um monte de coisas aconteceu naquela noite que ainda não faz sentido. Eu preciso te mostrar uma coisa.

Levantou-se e trabalhou seu caminho através das caixas no chão para chegar à caixa de metal enorme no canto da sala. Dentro dela estavam folhas de música, registros, uma vitrola antiga, recortes de jornal sobre seus pais, e álbuns de fotos da família. Ela abriu um estojo de couro preto, sacou uma câmera e começou a agitá-la.

- O que você está fazendo? - Perguntou Ron.

- Verificando se a câmera está com defeito. - Ela repetidamente abriu e fechou a tampa da câmera, enquanto caminhava de volta para onde ela o deixou no balcão da cozinha. A câmera mecânica mais robusta e versátil de todos os tempos. Mesmo se o filme tivesse caído alguém deve ter rebobinado primeiro. - O filme não poderia ter caído. Alguém removeu.

Ron foi para ficar ao lado dela. - Você está me dizendo que essa é a mesma câmera que você usou 10 anos atrás?

- Sim.

Ele indicou a câmera. - Posso?

Ashley deu a ele, em seguida, apoiou os cotovelos no balcão, segurou seu queixo e estudou-o - o nariz audaz, as sobrancelhas arqueadas, os olhos azuis intensos que aqueciam-se com malícia, mas tornavam-se frios em uma batida. O que tinha sobre esse homem que a fez se sentir confortável o suficiente para discutir o passado? Era porque eles tinham perdido tanto naquela noite? Era verdade que ela achava que ele tinha uma presença calmante, mas por baixo de tudo, ele estava nervoso. Foi esse nervosismo que ela achou emocionante e enervante.

Ron de repente olhou para cima e pegou-a encarando. O ar alojou em seu peito enquanto ela esperou para ver o que ele faria em seguida. Seu coração batia forte de emoção. Como se ele soubesse o efeito que tinha sobre ela, deu-lhe um sorriso lento e matador. Calor subiu o rosto, as pernas. Isto era uma loucura. Ela não poderia mesmo chamar a força de vontade para desviar o olhar. Quando ele finalmente olhou para o lado, Ashley lançou seu fôlego em jorros. Esta atração estava além dela.

- Está em muito boa forma para algo tão velho, - disse Ron com calma. - Parece quase nova.

Ashley franziu o cenho. Como ele podia estar tão calmo quando ela ainda estava recuperando o fôlego? Quando ela não respondeu de imediato, ele lançou um olhar em sua direção. A câmera veio em seu socorro. Seu olhar deslocou-se para ela e ficou trancado nela. Concentre-se.

A câmera parecia nova, mas ela tinha estado com ela durante o incêndio.

Ela lembrou a sujeira em seu vestido, suas mãos...

Sujeira?

O corpo dela estremeceu. Onde é que isso veio? O Carlyle Club era um clube exclusivo com serviço de classe mundial, no momento do incêndio, mas a palavra sujeira tinha cruzado sua mente. Ela mordeu o lábio e tentou se concentrar, mas a memória lhe fugia.

Ela olhou para cima e pegou o olhar de Ron sobre ela. - Eu nunca a usei depois daquela noite. Eu não podia, então meu tio me comprou uma nova em vez disso, um modelo diferente. - Sujeira... O que isso significava? - Pelo menos agora eu tenho três fotos que eu tinha tirado naquela noite.

Ron fez uma careta. - Três? Há um total de seis fotos aqui.

- Seis? Isso é estranho.

- Pode ter certeza que é. - Ambos chegaram para as imagens restantes, ao mesmo tempo. - Então você não tirou essas?

Ashley deu as fotos um olhar arrebatador. A primeira mostrava seus pais em uma sala ricamente decorada – um escritório privado, talvez. Cadeiras de couro pretas, bancos de bar em torno de um bar ornamentado e letras musicais adornavam as paredes. Uma vaga lembrança esvoaçou em sua mente, em seguida, desapareceu, deixando-a instável. Ela bateu na foto. - Onde é isso?

Ron lhe lançou um olhar intrigado. - Esse era o salão no subsolo. Você não se lembra?

Não, ela não lembrava. Não importa o quão duro ela olhou para ele, a memória lhe escapou. Suspirando com a frustração, ela mudou-se para a próxima imagem. Nela, seus pais estavam com a mãe de Ron e outros três homens. De seus rostos animados, óculos levantados e o redemoinho de ondulação de fumaça de charuto, eles estavam comemorando.

Ashley apontou para o homem alto e desengonçado em um terno de três peças e óculos de aros escuros. - Esse é Jeremy Kirkland, advogado dos meus pais. - Agora dela desde que seus pais morreram. Tio Jerry não tinha mudado muito em dez anos. Ele ainda preferia ternos listrados e óculos de armação escura. A única diferença era o cabelo dele - ele não tinha nenhum agora. - Quem é o outro homem?

- Advogado de minha mãe. Dave Hogan. Ele está aposentado agora, vive em Orcas Island. E esse é o meu pai. - Ron apontou para o homem mais alto vestido de preto. - Ele estava lá brevemente, mas saiu mais cedo. Agora, isso não faz sentido.

Ashley estudou a última foto. Era um rosto borrado de um homem tirado em uma curta distância. A única coisa visível na fotografia eram os pinos de ouro em suas orelhas. Eles refletiram o flash da câmera. Um arrepio passou seu corpo, sem motivo aparente.

- Por que enviar esta? É impossível identificar o homem da foto.

- Como você pode dizer que é um homem?

Ashley deu de ombros. Seus olhos artísticos viam coisas que as pessoas comuns não viam. - A forma de seu rosto, a linha da mandíbula e até mesmo os lábios são masculinos.

Uma carranca estabeleceu na testa de Ron, enquanto seu olhar mudou da foto para ela. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa e, em seguida, pareceu mudar de ideia. Ele voltou a franzir a testa para as fotos. Finalmente, ele olhou para cima e disse: - Você disse que só disparou as primeiras três fotos, certo?

Como você pode explicar estas últimas?

Ela ouviu a suspeita em sua voz e não podia culpá-lo. - Eu não posso. Tudo que eu sei é que eu não as tirei. - Eu acho. Não, eu espero.

O olhar de Ron estava firme em seu rosto. - Talvez você colocou a câmera para baixo e alguém a pegou.

- Não é provável. - Ela estava muito animada com isso para deixar alguém tocá-la, o que significava que ela tirou as fotos. As fotos foram definitivamente tiradas no mesmo filme. Aos quinze anos, ela não tinha muito conhecimento sobre a câmera. Ela não se preocupou em limpar a lente antes de tirar as fotos, e um pedaço de fio estava exatamente na mesma posição em todas as fotografias. - Além disso, meus pais me deixaram lá em cima com, uh, Sally... Sheila... a mulher que dirigia o restaurante no andar de cima. Eu não consigo lembrar o nome dela agora.

- Sherry McKinney, - disse Ron.

- Sim, Sherry. Eu nunca saí do seu lado à noite inteira, nunca fui para o porão ou o clube, que estava fechado naquela noite. - Ela parecia um papagaio, o que não era muito longe da verdade. Ela só repetiu a declaração que Sherry tinha dito a ela e sua tia. - Talvez eu precise encontrar Sherry e falar sobre o que aconteceu naquela noite.

- Sherry morreu um mês após o incêndio, Ashley. Seu carro derrapou em uma estrada coberta de gelo perto das Montanhas Tehachapi e capotou.

- Oh, não. Que terrível. - Onde que isso a deixava? Falar com Nina Noble? Sim, ela estaria pulando sobre brasas para me encontrar. Seu advogado Jeremy Kirkland era uma aposta mais segura. O homem a tratava como a filha que nunca teve e nunca escondeu nada dela. Em seguida, tinha a pessoa misteriosa que tinha enviado as fotos para os Noble.

Ashley inclinou-se para Ron. - Eu falaria com a pessoa que enviou essas fotos, Ron.

Ele acenou com a cabeça. - Eu também. Infelizmente, não sabemos quem

é. Como eu disse, as fotos ficaram no nosso portão junto com uma carta.

- Uma carta? Posso vê-la?

Ele balançou a cabeça, seus olhos ardendo com uma intensidade que deixou todas as suas antenas internas em alerta total. Ela não ficou surpresa quando ele disse: - Vamos deixar isso para outro dia. Nós cobrimos o suficiente hoje.

Os olhos de Ashley se estreitaram. - Ron, você não está sendo justo.

- Eu sei que isso não foi agradável. - Ele rigidamente se afastou do balcão. Toda a sua atitude mudou, tornando-se distante, mais frio.

- Deixe-me decidir o quanto eu posso suportar. - Ashley endireitou-se e olhou para ele. O que estava na carta que ele não queria que ela visse? Odiava fazer isso, mas não havia alternativa. Ela pensou sobre a dor de perder seus pais e lágrimas agruparam na profundidade de seus olhos. Então, com apenas a pressão certa, ela permitiu enormes gotas rolarem pelo seu rosto. Ela notou a mudança nele. Ele tornou-se mais nervoso. Agora, ao ataque.

- Por favor, Ron. Eu não vou descansar até que eu saiba o que está naquela carta. Desde que você me mostrou as fotos, por que não me deixa ler a carta também. - Sua voz tremeu com a quantidade certa de aflição. Ele fez uma careta para ela, como se tentando decidir se as lágrimas eram reais ou não. Eita, o que o fez tão desconfiado das pessoas? - Por favor.

- Ok, ok. - Ele parecia exasperado. - Basta parar de chorar. Não posso suportar. - Ele tirou a carta e meteu-a na mão dela.

- Obrigada. - Ashley deu-lhe um breve sorriso e abriu a carta. Algumas das letras eram grandes, outras pequenas e várias palavras foram mal escritas. Quem mais enviava notas como estas? Ele poderia facilmente ter digitado.

A primeira parte saltou para ela... não um acidente. O incêndio na casa não foi um acidente. Seus pais foram assassinados e alguém lá fora, sabia disso. A última parte ela teve que recuperar o fôlego, pânico torpedeando através dela. Ela levantou a cabeça, e seu olhar conectou com Ron.

- Eu? O que ele quer dizer que eu tenho as respostas? - Sua voz saiu esganiçada.

- É possível que você-

- Ele está insinuando que eu tenha algo a ver com o fogo? - Ela terminou, cortando Ron.

Ele olhou para ela com um olhar firme, sua expressão cautelosa. - Por que você acha isso?

Porque ela não conseguia se lembrar de uma coisa. E se ela começou? Foi por isso que ela bloqueou as memórias? Ela tinha matado seus pais? Um gemido escapou dela.

Ron agarrou seus braços e a sacudiu. - Hey. Pare. A carta indica que você testemunhou alguma coisa, não começou o fogo.

- Você não sabe disso. - Uma onda de raiva passou por ela em seu desamparo. Ela arrancou os braços livres e agarrou sua cabeça. - Você não sabe disso, e nem eu.

Ron fez uma careta. - O que quer dizer com nem você? Você estava lá, não estava? - Ele esperou que ela respondesse. - Você não estava? - ele perguntou, mais uma vez, quando ela não respondeu.

Ela levantou a cabeça para sussurrar: - Sim, eu estava lá. Mas, - ela balançou a cabeça: - Eu não me lembro de nada.

Os olhos de Ron se estreitaram com a confusão, então se arregalaram quando a realização bateu nele. - Você perdeu sua memória?

- Sim, - ela continuou com os dentes cerrados, uma tentativa de parar o queixo tremendo e as lágrimas que ameaçavam cair. Ela odiava se sentir assim, fraca e indefesa. - Ela mentiu para mim, Ron. Ela mentiu para mim, para minha tia e meu tio, à polícia. Ela mentiu para todos. Por quê?

A testa de Ron franziu. - Quem mentiu?

- Sherry - a gerente do restaurante. Ela disse a eles que eu nunca saí do seu lado. Que eu nunca fui para o porão. - Ela acenou com a mão para as fotos. - Essas fotos provam que eu fui. Eu sei o que aconteceu naquela noite, mas é... isso é.... - Ela tocou suas têmporas, com as mãos tremendo tanto que ela deixou-as cair para o lado dela e fez punhos. - Eu não consigo me lembrar de nada.

Tendo confessado, a necessidade de fugir a invadiu. Ela lançou um olhar a Ron com o canto do olho dela e pegou sua expressão atordoada. Seus olhos escuros estavam cheios de perguntas. Por favor, sem mais o interrogatório. Suas emoções esfarrapadas não aguentavam mais.

- Você sabe o quê? Você estava certo. Este não é o momento para discutir isso. - Ela respirou fundo para acalmar a voz trêmula. - Por que não vamos acabar com isso mais tarde, uh-mm, no sábado?

Ela levantou-se e caminhou até a área repleta de caixas e suas recordações de infância. Caindo de joelhos, começou a colocá-las de volta nas caixas. Ela esperou ouvir a porta abrir e fechar quando Ron saísse, mas tudo o que ouviu foi o bater do sangue passando em seus ouvidos.

            
            

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