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- "O segundo dia de feira há de ser melhor, sem brigas, tumultos e com muita fartura!!! Te rogo Santa Sara Kali, Optcha"
D. Alba já começou o dia pedindo em oração, afinal são dias que devem ser de grande fartura realmente.
Com a vinda do inverno tudo fica mais difícil. E a vida no clã segue sua rotina de uma feira já instala. As mulheres se arrumam, os homens expõem os utensílios e peles à venda. E assim as pessoas interessadas nos objetos de venda e na curiosidade de ver de pertos ciganos e as ciganinhas, claro... vão se amontoando em torno das barracas.
Mas discretamente e sorrateiramente as ciganinhas começam a ler as mãos das damas escondidas por de trás de um pano amarrado como uma cortina. Afinal, como deixar-se ver usando de sortilégios e depois ir à missa – aja confissão!
E como bem cedo não há ainda tumultos Sara se aproximou de sua mãe e começou a ajuda-la na arrumação da cesta de legumes. Recebendo um sorriso apenas de satisfação de D. Alba que de nada reparou que estava ali apenas para ter motivos de começar uma conversa.
Espantou o cachorro do bando que pulava fazendo sua festa matinal...até que um pedaço de pão foi jogado ao longe e imediatamente o cão correu para comer.... porque dispensaria o pão gostoso de sua dona Sara?
Retornando a calmaria Sara começa uma conversa aparentemente sem propósito e simpático com sua mãe. Mas, tudo foi planejado a noite toda enquanto perdia o sono de tanto pensar nos acontecimentos estranhos do dia anterior.
Como ter alguém idêntico a você? Seria possível? E sem maldade e entendimento dos fatos que ainda não sabe sobre Ruzena ser sua irmã Rita, apenas pensava em sortilégios, coincidências do universo, que alguma explicação de fato a Santa Sara teria para ter alguém tão parecida com ela, e justamente no dia de comemoração da Santa. Ela de fato teria uma explicação que Sara não consegue ainda enxergar.
Ficou também a noite toda revendo todas as informações do dia e inclusive falas que pareciam vir à mente esperta de Sara como uma iluminação. E uma das frases seria sobre o prenúncio de sua mãe "Não olhe para o reflexo". "Seria esse o reflexo?", pensava Sara.
Mas, sua mãe falou que não seria bom, mas como não ser bom? Ela ficou muito feliz em conhecer Ruzena, uma simpatia imediata, uma vontade de ficar conversando mais, uma empatia que não sabia explicar.
E depois de tantos pensamentos e noite em claro Sara começa a conversa desajeitada com a sua mãe!
- Dai (mãe em romanês) ...
- Diga filha...
- Lembra de ontem a leitura que a senhora me fez? estive pensando... "Não olhe para seu reflexo" será que é para não olhar nunca mais pro espelho d'água? Ou para um vidro? Para um espelho, seria o melhor reflexo.
No clã tinha um espelho pequeno que tinham, muito raro para aquele tempo. Inventado pelo rei Luís XIV e que ganharam em uma visita de comércio feito ainda por Wladmir, o chefe do clã, ainda moço.
E continuou...
- E que não conseguiria ficar sem me olhar o meu reflexo, Dai. Como vou me arrumar, a senhora sabe que gosto!
- Claro que sei Sara....mas realmente não entendi o recado de Santa Sara. Hoje poderemos ver sobre isso e pedir orientação melhor na oração. Mas creio que seja uma forma de explicar. Ela sabe da sua vaidade não se preocupe, não a castigaria, em nunca mais se solhar e se arrumar - e deu uma boa risada sobre isso.
- Que bom, Dai, porque não aguentaria mesmo...e deu uma risada como se aliviada de não ter a possibilidade de ficar feia e sem se arrumar nunca mais.
Mas, imediatamente soltou um pensamento que perceberia algo estranho no ar na hora!
- E se tivesse uma outra Sara, igual a mim, gêmea. Seria isso talvez?
Sua mãe tomou um susto por tamanha assertividade que nem ela tinha lembrado que poderia ser isso o recado de Santa Sara, e como Sara saberia de algo? Será que Samara viu o que tinha na caixinha? Será que a única mulher que sabia de tudo contou a Sara...iria se vingar agora? Um turbilhão de pensamentos lhe passou em segundos na mente e no descuido e na tremedeira que a assolou de repente deu um corte no seu dedo.
Era a faca que usava ao arrumar os legumes na cesta cortando-lhes as raízes e retirando as ervas daninhas que vinham junto. Soltou um grito de dor! Mas, que profundo seria essa dor ao de uma vez várias passagens virem a tona para lhe lembrar de um fato que corrói seu coração. E o dedo sangrou...
- Olhe o que fez Sara, falando bobagens e me distraiu. Presta atenção! Nunca mais fale isso, não quero saber desse assunto. Existe só você e ponto final. Você cale sua boca e não fique falando bobagens por aí.
Sua fúria misturada a dor do corte, a fez exagerar na entonação, mas no fundo era desespero... de retornar aquela história que deveria estar enterrada literalmente, mas que na verdade estava viva. Muito viva. E queria agora retornar ao seu lugar.
Sara, espantou-se com tamanha fúria e foi correndo ajudar sua mãe com o corte que a recusou, e gritou para ela sair dali naquela hora, que já cedo estava a incomodando ...
Boris veio ver que tamanho tumulto, mas D. Alba, não piorou as coisas apenas falou que por falação de Sara se distraiu e se cortou. Ele ainda ordenou a Sara que terminasse para sua mãe a arrumação da cesta para venda e foi buscar um guento pra fechar a ferida do corte. Foi quando ela se vira para Sara e ainda fala.
- Desde ontem você vem com essa história de gêmeas, na fogueira dançando começou com essa história. Deixa eu falar uma coisa Sara. – falando e segurando o corte com o sangue escorrendo pelos dedos. – Você não conhece a maldição da gêmeas? Se soubesse não ficava falando isso a toda hora.
Sara, ficou espantada. Seu olhar arregalou-se na hora. Como ela não sabia dessa maldição? E lembrou-se da sua brincadeira realmente na fogueira e areação da sua mãe. Que maldição seria essa que agora não parava de penar e como poderia descobrir .... porque nas reuniões e ensinamentos que o clã sempre faz nas rodas noturnas sob o luar, nunca teve esse assunto?
Se é uma maldição será que deveria perguntar a Boris ou a Wladmir, nosso mestre? Por certo brigariam também, porque se a mãe que a ama reagiu assim, o que seria dos outros? Teria de descobrir de forma clandestina mesmo. Mas, que descobriria isso estava convicta.
Sua mãe se afastou em direção a Boris pra cuidar do corte e Sara ficou a arrumar os legumes pensativa. Quando terminou entregou o cesto a Yago que levaria para fora na venda, recebeu um sorriso festivo dele que ficou sem reação de Sara.
Naquele momento ela tinha pensamentos fixos sobre isso tudo, e Yago ficou ali com o cesto na mão sem graça e aborrecido com seu ego ferido. Todas se derretem por ele, e Sara acaba de desprezá-lo.
Ela sai correndo e como é de se esperar...
- Pablo cadê você? Corra....quero falar com você!