Capítulo 9 Missa do Padre Tone

Praga é uma cidade tipicamente católica, as missas acontecem em poucos espaços privilegiados e basílicas de pura arte. Mas, a família Karlovy tradicionalmente gostam de ir à igreja pequena do Santo Adalberto, um santo da própria história da Boêmia, canonizado ainda no século II.

Com sua tradicional ajuda aos pobres como fora ensinado pelo sofrido Santo Adalberto, o padre Tone segue a tradicional doação aos mendigos e os tem junto na missa uma vez por semana.

Claro, que famílias mais nobres como os Karlovy, ficam sempre em seu espaço mais arejado da igreja. Mesmo querendo aparentar uma família que se preocupa com os pobres não chegariam tão perto devido até ao mau cheiro que vinha dos mendigos.

Mas, o padre Tone tinha uma calma aparente e uma devoção aos rituais eclesiásticos, que faz gosto de ver. Sempre o fazia com calma e rotineira ordem. Jovem disciplinado em todas as suas tarefas e aliás jovem mesmo para ser um padre.... e bonito.

Como era um homem bonito. Sua beleza atrai fiéis e pedintes, como se a beleza fosse sinônimo de bondade.

E nessa conquista o padre "Apolo" conquistava suas súditas, mas tinha em Ruzena sua maior atenção. E ela por sua vez estava sempre ali, disposta a ajudar o próximo, junto, organizar, limpar o altar e muitas outras atividades que de fato nem precisariam ser feitos por ela. Mas, como não ficar do lado do sedutor padre Tone.

Sim, sedutor, pois a sedução também parece vir das palavras doce da boca de alguém que o que se presta atenção é apenas o mexer dos lábios enquanto sua voz nem é ouvida.

Ruzena ficava rubra toda vez que ia pegar a hóstia, era pecado, como não haveria de ser. Ela ficava quente só de abrir a boca e deixar que a abençoasse com o corpo de Cristo. Inferno....pensava na hora que iria pro inferno. Quando ele então colocava a mão em sua cabeça para lhe dar as bençãos, ele sentia pulsar o coração em baixo de sua saia. Sua barriga congelava só de beijar a mão do padre num longo e suave tocar de lábios em suas mãos.

E ele sabia disso tudo, e parecia provocar, pois só em Ruzena esticava suas mãos para receber o toque de seus lábios, toda hora a tocava na cabeça. Ele de certo tinha um prazer naquelas situações que só ele percebia, de virar de olhos e respiração ofegante de Ruzena. Seria uma maldade que não poderia ser normal para um eclesiástico ou ego, pois debaixo daquela batina de certo tem um homem.

E naquela missa Ruzena está especialmente linda, feliz com os acontecimentos das últimas vinte e quatro horas. E todas as suas peripécias. Tudo a renovou, estava em um despertar em flor exatamente como a primavera em Praga naquele ano. Especial...

E padre Tone reparou...e como reparou. Tanto que naquela missa se atrapalhou todos, com os utensílios que sempre usa. Pediu desculpas falando que dormira pouco devido ao barulho da festa.

Mas, era Ruzena seu foco de atenção. E pela primeira vez ela se sentiu com a autoestima elevada. Porque percebeu algumas trocas de olhares, como se ele a olhasse e olhasse novamente e sentindo algo diferente naquela menina.

E a igreja naquela manhã estava quente.... ou era o calor dos pensamentos que com certeza não eram santos em ambos.

Ao terminar a missa como de costume o padre fez as doações aos mendigos em gestos nobres onde toda a igreja o idolatrava como se fosse ele o santo. Por certo seria lindo ver tamanha generosidade vindo de tanta beleza em um corpo esguio relativamente alto e magro e nas poucas partes que dá para ver seu corpo escondido naquela batina preta, tinha seu pescoço largo e com barba preta que nasciam desesperadamente de um dia pro outro deixando a marca de barba por fazendo-o ter um semblante másculo naquela pela alva. Seu cabelo cortado e farto era convite a passadas de mão como em uma manta suave de pelo de urso.

Depois de encerrado as doações a família Karlovy se dispôs a ir junto do padre para mostrar que era a família mais bastada dali. Sempre com seus dízimos fartos e uma certa oferta também de sua filha para ajudar na igreja e nas causas.

Nesse dia Sr. Wil exigiu que Ruzena ficasse para se confessar para o dia seguinte da missa, já que não fora antes pois todos achavam que ela estava ainda convalescendo do dia anterior e a deixaram dormir um pouco mais. Mas, de fato não poderia passar mais um dia sem a confissão.

E com toda a coragem que nascia em Ruzena depois do encontro com Sara, algo a despertou como mulher repentinamente. E ela estava quase confessando sua paixão pelo padre. Será que tinha tamanha coragem nessa possibilidade obscena? Iria pro inferno! Só eram esses seus pensamentos...

Carlota ficou à espera de sua daminha, enquanto o padre se preparava para essa ação de sua rotina de padre a pedido do Sr. Wil.

A família retornou ao seu lar e a igreja esvaziou-se. Carlota para não ficar sozinha se pôs a esperar Ruzena na porta. Sempre com o olhar curioso, pois Ruzena nunca confessou seu amor pelo padre, mas ela já havia reparado nas reações quando o assunto era ele.

Ruzena ficou ali de pé, nervosa, sozinha, vendo o padre calmamente realizar todos os protocolos e rituais para ir ao confessionário. E depois calmamente lavou suas mãos que antes ajudaram os mendigos, passou uma água que naquele tempo de primavera era comum fazer com as flores e com as mãos devidamente limpas só para Ruzena, se aproximou e a esticou em sua direção.

Ela calmamente segurou e foi abaixando sua cabeça e com o olhar fixo em seus olhos beijou sua mão suave de lábios antecipadamente molhados pelo passar discreto da língua. Dessa vez o padre Tone imaginou algo de pecaminoso, pois foi ele quem ficou sem graça dessa vez. Ela estava seduzindo-o em apenas um beijo de mão.... como podia isso? Ele sempre detinha a situação e controle e as coisas se inverteram naquele segundo.

Ele foi correndo para sua cabine de confissão e aguardou suando que Ruzena começasse. E ela começou tímida, falando que nada de diferente a assolava, apenas que se sentia rejeitada na família, que horas tinha raiva de uma hora de outro. E o padre lhe falou como uma provocação ou exigindo uma confissão para seu ego.

- Ruzena, me fale do seu íntimo. Conte para Deus o que você tem pensado que antes não pensava que venha a ser pecado?

Para que uma pergunta dessas? O suspiro que antecede sua fala foi quase um gemido que fez o padre se postar em seu assento e quase foi derretendo ao escutar as confissões da moça.

- Eu tenho tido desejos padre, sonhos, que me fazem acordar molhada de suor. Meu corpo ferve como o próprio diabo me assolasse, mas não sinto nada de ruim ...ao contrário sinto uma sensação boa. Sinto cheiros que me fazem rir e morder meus lábios, meu coração fica pulsando fortemente em partes do meu corpo que não teria coragem de falar.

O padre na hora percebeu como aquela menina estava pronta pra ser mulher, o pecado da carne de certo seria um dos males piores para as mulheres. Pensou na hora que deveria sugerir casar logo Ruzena antes de alguma bobagem acontecesse. Mas um ciúme o assolou que ele nem sabia o que falar e nem sabia o que fazer, muito menos o eu pensar!.

Mas, tinha como responsabilidade falar a moça o que deveria fazer, que era conversar com seu pai para seu pronto casamento, além das penitências que nem pareciam assustar a moça. E fez a Ruzena uma pergunta que não era de sua alçada e nem precisaria para aquele ato de confissão. Mas, no fundo queria ouvri!

- Quem a faz assim? Você já percebeu se isso acontece sempre quando chega perto de uma determinada pessoa?

- Sim. Padre.

Agora com medo das consequências. Afinal tudo estava sendo dito agora. E seria perigoso.

Uma resposta ambígua. Seria um sim e direcionado ao padre? ou a resposta certeira, era o padre o seu motivo? Perguntou novamente o Padre Tone.

- Quem minha filha?

Como que quisesse se afastar de respostas que poderiam fazer ter reações que nem sabia quais ao colocar a irmandade em uma única palavra "filha".

- Sei sim, padre. Só acontece em momentos que eu deveria ir aos céus, mas acho que vou pro inferno. Ele é proibido a mim, pois já tem compromisso com suas missões. Creio que eu deva nunca mais vir aqui padre. Mas, meu pai vai desconfiar.

- Eu sonho com ele, desejo cada fala dele pra mim, me contento com pouco que me dá, pois tudo mais seria proibido. Mas, em meus sonhos não.... minhas mãos ficam procurando acalmar minha pulsação, mas quando mais levo minha mão, mas meu corpo reage. Eu tenho molhado minhas roupas quando penso. Tem horas que nem entendo o que está acontecendo....me ajude! Só você pode me ajudar!

Naquele momento o homem Tone e não o padre, começou a ter reações em seu corpo e em seu coração. Sentiu que mexeu com fogo e se queimou. Seria outro que iria pro inferno. Seu corpo não poderia tão rigidamente reagir daquela forma.

E encerrou a confissão naquela hora com um seco e breve

- Penitência dada, vá cumprir.

E saiu desesperadamente para dentro dos aposentos da igreja.

E Ruzena, ficou ali se recompondo de sua coragem e folgazo de seu corpo para sair serena da igreja como se nada tivesse acontecido. Afinal o confessionário seria segredo eterno de seus desejos e de sua coragem.

            
            

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