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Depois de mais um dia de trabalho, eu me despedi do Freddie que ficou para fechar o pub e voltei para a pensão.
Tinha sido um dia bem cansativo. Eu estava muito cansada.
Subi as escadas de madeira que levava para os quartos e entrei no meu, logo fechando a porta e tirando meu sobretudo, colocando-o em um cabine que havia do lado da porta.
Parada, eu respirei fundo, pensando em tudo que tinha presenciado desde que coloquei meus pés em Birmigham.
De repente, levei um susto com o telefone tocando.
Fui até a escrivaninha, onde o mesmo estava e atendi.
- Ava, sou eu. - o meu pai falou do outro lado da linha, me fazendo levantar as sobrancelhas. - Como você está, querida? - perguntou um tempo depois.
Ele era tão bom em fingir preocupação!
- Estou bem. - eu respondi, sem ao menos fazê-lo a mesma pergunta. - E minha mãe? Espero que você esteja...
- Ela está bem. - ele disse antes mesmo que eu pudesse terminar de falar. - Bom, além de estar ligando para saber como você está, também estou ligando para informá-la sobre algo.
Alguns minutos depois, nos encerramos a ligação.
Pelo o que meu pai me disse, alguns Peaky Blinders roubaram armas do exército inglês e eu tinha que descobrir algo que pudesse ajudar a descobrir o paradeiro delas.
- Não fode, Thomas. - eu sussurrei, fechando os olhos com força.
Com certeza demoraria um bom tempo para que eu conseguisse algo sobre isso e então, minha estadia na cidade se prolongaria ainda mais.
Eu precisava agir rápido. Precisava dar passos maiores ou demoraria muito para finalizar a missão.
Eu, que ainda segurava o telefone, o coloquei de volta em sua base e depois de negar com a cabeça, peguei uma roupa confortável e uma toalha e saí do quarto, indo para o banheiro que ficava no mesmo corredor.
Depois de tomar um banho rápido, pois outras pessoas queriam usar o banheiro, eu me vesti e voltei para o quarto.
No dia seguinte, o barulho de passos firmes nos corredores me acordaram.
Com uma expressão irritada, me sentei na cama, esfregando os olhos com as costas das mãos e logo depois me levantei, me aproximando da janela.
Observei a rua, que como sempre, estava cheia de gente.
Depois de alguns minutos, já estando apresentável para começar o dia, deixei a pensão, indo dar uma volta pela cidade, já que naquele dia meu turno só começaria de noite.
- Bom dia. - eu cumprimentei um grupo de mulheres que estavam conversando em frente à algumas casas.
Elas sorriam, pelo menos algumas delas. Outras me olharam de cima a baixo, me analisando, provavelmente por eu nunca ter estado na cidade antes.
Continuei andando enquanto segurava meu guarda-chuva, está chuviscando um pouco.
Isso não era muito bom, pois deixava as duas ainda mais fedorentas.
Cheguei no canal de Birmigham, onde alguns barcos estavam indo e voltando. Era por ele que a maioria das pessoas, principalmente as de poucas condições financeiras chegavam à cidade.
E claro, havia o trem, que vi pelo jornal que também era muito usado.
- Isso é coisa pra homem, Finn. - ouvi uma voz familiar. - Você ainda é um garoto. Quando crescer, você finalmente vai se juntar a nós, os seus irmãos.
Me aproximei de algumas caixas que estavam no meio da estrada de terra escura e úmida por causa da chuva.
Meus olhos se fixaram nas duas pessoas que estavam na beira do canal. Era o John Hartman e um garoto.
Então este era o irmão adolescente de quem Freddie falou assim que cheguei à cidade?
- Vocês não me deixam fazer nada importante. Eu não me sinto um Peaky Blinder. - o garoto disse, abaixando a cabeça.
- Você é um Peaky Blinder, porra! - o John disse, dando um tapa na nuca do mais novo, fazendo-o abaixar a cabeça por um momento e rir um pouco. - Só precisa esperar. Só esperar, moleque!
O garoto chamado Finn olhou para seu irmão e depois de um tempo, virou a cabeça para frente novamente e encarou o chão.
- Falou o sem paciência. - ele disse em tom de brincadeira e os dois riram.
John tirou uma carteira de cigarro de seu sobretudo e depois de pegar um cigarro, acendeu, logo tragando e expulsando a fumaça de sua boca.
Eu fiquei observando os dois por mais uns minutos, esperando que eles falassem sobre algo de meu interesse, mas isso não aconteceu então decidi sair da área do canal.
Enquanto caminhava, voltando para a rua, de fato, eu olhei para a vista do resto da cidade.
Era possível ver a fumaça das fábricas, que ficavam um pouco distante, saindo pelas enormes chaminés.
Depois de parar em frente à Igreja, eu engoli em seco e resolvi entrar.
Fazia tempo que não havia entrado em uma. Não era muito religiosa.
Estava vazia, bom, pelo menos era o que eu achava até ver dois homens sentados em um dos bancos.
Era Thomas e seu irmão Arthur.
Me sentei em um dos bancos e abaixei um pouco a cabeça, fingindo estar rezando para poder ficar e escutar o que os dois estavam falando.
- As pessoas fazem perguntas e eu não sei responder. "É verdade que sua irmã Ada casou?" Eu digo: "Eu não sei." "Ela vai se mudar para Nova York com o marido?" E eu digo: "Não sei."
Ada?
Lembrei-me imediatamente das duas mulheres que estavam na loja.
Tudo estava se encaixando.
As duas fazem parte da família.
- Irmão... - o Thomas tenta falar, mas seu irmão continua:
- "Arthur, quem matou o irlandês do The Black Swan?" Eu digo: "Que irlandês?" Eles perguntam: "Foram vocês, os Peaky Blinders, que roubaram as armas do exército inglês?" - os dois ficam em silêncio por um momento. - Que armas, Tommy? - gritou.
Levantei a cabeça para observá-los com mais atenção.
A igreja era um pouco escura, talvez eles não me vissem ali.
- Eu ia te contar... - o Thomas colocou suas mãos nos ombros de seu irmão.
- Você ia me contar? - o Arthur gritou irritado, tentando se livrar do toque do homem à sua frente.
- Arthur, me escute. Os últimos anos foram duros para você. Você precisa de descanso. - os dois se encararam. - Nós tivemos sorte. Uma puta sorte. Caíram no nosso colo. E tudo que você precisa saber é que quem tem as metralhadoras somos nós. E eles que estão na lama. - ele fez uma pausa e se levantou. - Vamos, eu tenho uma surpresa pra você.
Os dois saíram da igreja e eu suspirei aliviada por não ter sido vista por eles.