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Thomas se virou, fazendo nossos olhos se encontrarem. Ele como sempre estava com uma expressão calma, o que me deixava impressionada
Ele parecia sempre manter a calma e isso me assustava um pouco. Desse jeito nunca saberia de seus movimentos.
Frio e calculista.
Com certeza essas duas palavras estavam entre suas características.
- Eu vim aqui te fazer uma proposta, Hanna. - ele disse em um tom suave.
Me aproximei de uma mesa que ficava no canto do quarto e coloquei minha bolsa em cima da mesma, logo cruzando os braços e voltando a encarar o homem que me fitava com os olhos.
- Uma proposta? - eu perguntei, franzindo a testa, demonstrando interesse em ouvi-lo. - E que proposta seria essa, Thomas? Posso chamá-lo assim? - ele sorriu de lado. - É que pelo visto a maioria aqui te chama de "senhor".
- Me chame do que quiser, eu não me importo. - ele respondeu, tirando sua atenção de mim e começando a mexer em seu sobretudo.
Ele pegou uma carteira de cigarro e um isqueiro e depois deu passos calmos até mim. Depois de parar na minha frente, me ofereceu um cigarro.
Eu hesitei por um momento, mas decidi aceitar. Peguei o mesmo de sua mão e sem quebrar o contato visual, coloquei na minha boca, esperando o homem a alguns centímetros de distância acender.
Ele acendeu e logo depois pegou um para ele, não demorando muito para começar a fumar.
Pela primeira desde que havia entrado no quarto, desviei os olhos dos dele e me sentei em uma das cadeiras próximas à mesa.
Ele fez o mesmo um tempo depois.
Antes mesmo que ele pudesse começar a falar, eu fui mais rápida:
- Por que você comprou o The Garrison? - eu indaguei, logo depois dando uma tragada no cigarro. Ele não se mostrou surpreso com minha pergunta repentina, não demostrou nenhum tipo de expressão ao ouvi-la.
Ele demorou para me responder, ficou me encarando intensamente.
- Um presente para o meu irmão. - ele finalmente respondeu.
Eu levantei as sobrancelhas e assenti, fingindo acreditar em suas palavras. Mas como eu poderia acreditar? Ele era a porra de um gângster, era óbvio que tinha algo a mais.
•PONTO DE VISTA DO TOMMY:
ALGUMAS HORAS ATRÁS...
Eu e Arthur saímos da Igreja, indo na direção do The Garrison, o pub que nós costumávamos frequentar. Haviam muitos pubs em Birmigham, mas esse era o melhor e também mais bem perto de Small Heath, a rua onde morávamos.
Meu irmão tinha acabado de ter um surto, como a maioria dos homens que foram para a guerra. Aquela maldita guerra!
Nós lutamos na França pelos britânicos.
Assim como não foi nada fácil a luta para sobreviver, não era nada fácil lidar com os traumas pós guerra.
Eu sofria durante a noite com pesadelos no campo de batalha. Sonhava coisas terríveis acontecendo comigo, meus irmãos e nossos amigos.
- Senhores. - um homem que passava pela rua nos cumprimentou.
Fizemos um gesto com a cabeça, cumprimentando-o de volta e depois de andar um pouco, nós finalmente chegamos no The Garrison. Entramos no mesmo, onde alguns homens estavam bebendo.
Não importava o horário, sempre tinha alguém bebendo.
- Uma surpresa? Cadê ela? - Arthur perguntou olhando ao redor.
Eu suspirei e tirei minha boina com cuidado para não se ferir com a navalha que a mesma tinha nas partes internas e passei a mão pelo cabelo, logo depois a colocando de volta.
- O que você sempre quis? - eu perguntei. - Quando estávamos na França, você costumava dizer: "Quando eu voltar à Inglaterra, quero ter meu próprio pub." - ele me encarou depois de pegar uma garrafa de cerveja. - Bem... - eu levantei as mãos enquanto observava o lugar.
Arthur se aproximou e começou a bater a garrafa no meu peito de forma suave.
- Agora você ficou sentimental. Ficou sentimental, Tommy. - ele disse rindo e eu sorri de lado. - Como sabemos que está á venda?
Andamos juntos até o bar.
- Tudo está á venda, Arthur. - eu respondi, observando tudo com atenção. - Estamos ganhando muito dinheiro atualmente. Precisamos de um negócio legítimo para lavar o dinheiro das apostas.
- Eu não saberia o que fazer.
- Você passou dois terços da sua vida em pubs. Apenas sirva em vez de beber. - eu respondi, encostando minhas costas no bar.
- Mas ainda posso beber, certo? - meu irmão perguntou em tom de brincadeira.
- O pub é seu, faça o que quiser.
- Me desculpem, cavalheiros, não escutei vocês entrando. - o Freddie apareceu, me fazendo virar para encará-lo. - O que vão querer beber? - ele nos perguntou .
Dei um sorrisinho e olhei para o Arthur.
•PONTO DE VISTA DA AVA:
- Bom, Thomas, qual sua proposta? - eu perguntei depois do clima tenso que surgiu após ele responder minha pergunta anterior.
Ele levantou a cabeça, olhando para o teto e expulsou a fumaça do cigarro de sua boca.
- Pelo que eu descobri, você sabe fazer contas, ler e escrever perfeitamente e...
- Como sabe de tudo isso? - eu perguntei, interrompendo-o.
- Os homens que frequentam o pub são bons observadores. - ele disse e eu engoli em seco.
Além de ajudar o Freddie com a limpeza, eu atendia os clientes, servia e as vezes recebia os pagamentos pelas bebidas.
- Entendi.
- Eu preciso de alguém que me ajude na minha casa de apostas. Tem algumas mulheres trabalhando lá, incluindo minha tia Polly e minha irmã Ada. Mesmo assim, ainda preciso de mais funcionários. - ele disse depois de um tempo.
- Casa apostas? - eu perguntei.
- Eu sei que você sabe quem eu sou. Todos aqui sabem. Não finja surpresa. - ele disse ironicamente. - Você disse que veio para Birmingham à procura de um emprego. Conseguiu um no The Garrison, mas já que agora é do Arthur e ele está no comando... De qualquer forma, eu só estou oferecendo isso porque você não teve culpa de começar a trabalhar em lugar que, em breve, eu compraria.
Eu fiquei calada.
- Bom, o que me diz? - ele perguntou.
...
AUTORA: se quiserem ver as fotos dos personagens, tem no meu Instagram "Livrosdaclr" 🥰