VENENO
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Capítulo 2 ESTOU COM FOME

Continuação...

"- O que nós vamos fazer com ele?"

Uma voz grossa e grave ecoou pela minha cabeça. Simplesmente tomei um susto daqueles e cai da cadeira, batendo com tudo no chão, até pensei que o cadáver iria acordar de cima da minha cama de tão barulhento que foi o tombo.

- Quem está aí? - olhei para o meu quarto inteiro procurando quem tinha dito aquilo, mas não via ninguém, estava tudo meio escuro, pois não havia ligado a luz, deixando o clima ainda mais assustador.

- Agora somos só um, Lucy. - responde a voz rouca e ecoante, a mesma de antes. Parecia que ela estava dentro da minha mente como se fosse meu pensamento. Que aterrorizante! - Sim, estou mesmo dentro da sua mente...

Logo pensei naquele bicho feio dentro de mim e o desespero começou a tomar conta, meu corpo novamente começou a suar frio. Como isso era possível?

- Ah! Como esse bicho entrou dentro de mim? - gritei e comecei a me levantar, minhas costas doíam, mas, em questão de segundos a dor parou como se não tivesse acontecido nada comigo.

- Bicho?! - a voz pareceu ficar com raiva e nervosa, soou mais alta e grossa, até doeu minha cabeça como se fosse explodir. - Eu sou Veneno! Não sou um bicho, Lucy, agora pare de resistir, deixa eu te corromper por completo.

- O que você quer dizer com isso?

- Juntos nós podemos ser mais fortes e se você não cooperar vai morrer. - disse a voz novamente em um tom sério, o que fez meu corpo estremecer. - Pode confiar em mim, Lucy. - a voz se acalmou, mas eu não.

- Você pode me explicar o que está acontecendo? - perguntei, era até engraçado porque parecia que estava falando sozinha em meu quarto e parecia uma louca que acabou de fugir de um hospício.

Não demorou muito até a voz me responder novamente.

- Estava procurando um hospedeiro bom o suficiente para usar. - começou a contar, arrumei a cadeira e voltei a me sentar novamente aceitando o fato de que eu tinha uma coisa dentro de mim e que não era fantasia, nem pesadelo, muito menos sonho. - Estou aqui para dominar a terra, viemos para cá sem querer em um foguete, esses seus amiguinhos daqui gostam muito de se meter em encrenca e são bastante curiosos pelo visto... Dois de nós foram libertados. Agora estamos aqui para acabar com o seu planeta, enviando mais de nós. E você vai me ajudar com isso, Lucy.

Meu corpo estava tremendo por inteiro, eu não sabia o que fazer. Apenas fiquei em silêncio, pensando em várias maneiras de acabar com isso, mas, não tinha como, ele estava dentro de mim, aliás, nem sei como entrou, deve ter sido na hora que eu apaguei, mas como?

As perguntas não paravam de triplicar na minha mente, tinha tanta coisa que queria perguntar, mas, isso me dava medo, ter uma coisa dentro de você era muito esquisita, isso é normal? Minha barriga roncava de fome, não sei por que tanta fome numa hora dessas. A coisa deve estar fazendo isso com minha mente, quer dizer esse Veneno.

- Você sabe o que estou pesando? - a pergunta sai naturalmente.

- Sei de tudo sobre você, Lucy. - responde imediatamente, engulo em seco ao ouvir a resposta. Então ele sabe tudo que penso também... - E estou com fome.

Ouço o barulho de uma porta se fechando pelo apartamento logo após Veneno terminar de falar em minha cabeça, um silêncio percorreu tudo. Minha mente esquece-se das coisas e logo se foca em meu padrasto, ele havia chegado. Como eu ainda consigo morar com uma pessoa dessas? Já eram duas horas da manhã e ele chegou assim do nada, como se fosse ele que mandava em tudo... Meu medo começa a aumentar ao ouvir os passos dele andando pelo apartamento.

- Me deixa comer ele? - a voz ecoou de novo dentro da minha cabeça, me arrepiei da cabeça aos pés.

- Você não pode fazer isso... - respondi arregalando os olhos, imaginando aquele bicho enorme comendo alguém com aquela boca cheia de dentes enfileirados e pontudos, prontos para matar qualquer um.

- Se você me deixar no comando, isso tudo logo acaba!

- Veneno, ele é meu padrasto... - falo logo em seguida e olho para baixo um pouco entristecida.

Mesmo que supostamente tivesse matado minha mãe e fosse o principal suspeito, ninguém merecia morrer, era isso que eu pensava. Afinal, ele pagava o apartamento e as contas até o dia que eu pudesse morar sozinha.

- Ele matou sua mãe. - respondeu friamente. - Quer mesmo deixa-lo vivo sabendo disso, Lucy?

- Esse é o certo a se fazer, não precisamos matar ninguém. - respondi o mesmo.

Mas, logo fui surpreendia por batidas fortes na porta. Era meu padrasto bêbado de novo.

- Luuucy, com quem está falando a essa hora da noite? - disse em tom irônico e riu em deboche. - Sabe que eu não gosto que fique acordada até muito tarde, não é querida? - meu coração acelerou de repente.

Ele me dava nojo às vezes.

- Rick, vai dormir, você está bêbado! - gritei para que ele pudesse ouvir e parar de me perturbar.

- Porque você não destranca a porta para que possamos conversar, minha querida? - a voz dele estava embriagada, muito lenta por sinal, tinha bebido mais do que nos outros dias. - Você não quer que eu pegue a chave reserva e entre, não é?

- Não abra! - a voz de dentro da minha mente falou outra vez, mas, eu não liguei.

Era melhor eu abrir e dizer para meu padrasto ir dormir do que ele pegar a chave, entrar no meu quarto e ver o corpo do garoto desacordado em minha cama.

Fui até a escrivaninha pegar a chave com dificuldade porque parecia que meu corpo não queria ir, devia ser por causa de Veneno me controlando, depois me dirigi até a porta e abri a mesma, meu padrasto sorriu malicioso, o mesmo queria ver o que estava em meu quarto, mas, eu tranquei a porta atrás de mim na mesma hora, passando para o outro cômodo.

O mesmo aproveitou a oportunidade que eu estava de costas, para segurar minha cintura e encostar seu corpo no meu. Aquele corpo nojento e com cheiro de bebida.

- Você parece muito com sua mãe... Sabia? - o mesmo começou a movimentar suas mãos pelo meu corpo.

Meu corpo congelou, já era a segunda vez que minha respiração ficava pesada naquela noite, meu coração acelerou de medo e não sabia o que fazer. Ele estava me assediando, não era a primeira vez que isso acontecia quando estava bebado.

Me virei rapidamente tentando me soltar de suas mãos fortes, o mesmo me prensa contra a parede, encostando seu corpo nojento contra mim.

- Você não vai querer fazer isso... - comentei, já sabendo a confusão que iria causar.

- Fica quietinha se não vai ser pior, Lucy. - fecho meus olhos arrasada com a situação e com a maldita frase do meu padrasto, alguns segundos depois, lágrimas começam a escorrer sobre minhas bochechas, eu era tão inútil.

Veneno, faça o que for preciso...

- Já estava na hora, Lucy!

Sem demorar muito, sinto meu corpo começar a se deformar, mas isso não doía nada do que eu havia pensado. A sensação era como se um escudo gigante começasse a se formar sobre mim, eu já não sentia mais o corpo do meu padrasto colado no meu, ele havia caído para trás e estava se arrastando para longe, com medo. Começo a ver o mundo de outra forma, como se eu estivesse dentro de uma pessoa, dentro de Veneno. Apenas fecho meus olhos e deixo o mesmo fazer seu trabalho.

VENENO POV

Rick, Rick, chegou a sua hora. Minha boca salivava, como seria sentir um gostinho de um homem embriagado que matou a própria mulher? Era o que os pensamentos de Lucy me diziam, pobre garota... Com medo de um ser humano tão repugnante como todos os outros que já matei antes de chegar aqui. Pelo menos ele iria encher minha pança. Eles se achavam tão poderosos, mas, não sabiam o que faziam, tinha muita pena.

Vejo o homem se arrastar para longe de mim, isso me dá mais prazer de mata-lo, solto minhas garras e vou em sua direção. Seus olhos estão quase pulando para fora, adorava dar essa sensação de medo para eles. Seguro seu ombro com minha outra mão e lhe olho.

- Vai me empurrar da escada agora, Rick?

Ouço as falas do mesmo pedindo para não morrer, suplicando, pedindo perdão e falando de um Deus por aí, não conhecia nenhuma dessas coisas. Seres humanos eram tão interessantes. Em questão de segundos, rasguei seu peito com minhas garras, aquele sangue saindo de sua barriga e seu corpo perdendo a vida lentamente me pareciam tão suculentos. Minha boca se abre para começar a engoli-lo.

Hmmm, hora da refeição!

[...]

Não sabia o que tinha acontecido, só ouvi gritos de dor e frases soltas pedindo perdão e falando para Veneno parar com aquilo, foi a coisa mais assustadora que já ouvi em toda minha vida. Quando Veneno havia terminado, ele apenas voltou a ser uma voz na minha cabeça. Eu sabia que ele havia se transformado naquela coisa que eu não sei explicar, essa era a forma real dele, um monstro. Olhei para o chão do apartamento e havia muito sangue, não tinha tempo para pensar nisso agora, mas, eu estava realmente triste com tudo o que aconteceu.

- Não chore, Lucy... Não gosto de te ver chorar. - disse Veneno em minha mente, aquilo soou bem carinhoso para um bicho que havia matado e comido o meu padrasto agora a pouco. Ele estava me consolando, pelo menos isso não era assustador. - Será que você consegue descansar um pouco?

- Não sei, V. - me sento encostada na parede, olhando para o nada, meus pensamentos acabam dessa vez, não sei mais nem o que pensar.

Me sinto cansada, mas a fome passou... Deve ser porque eu comi meu padrasto inteiro.

- V?

- É, V de Veneno... - respondo novamente, me sentindo cansada e fecho meus olhos. Logo depois disso, lembro que eu peguei no sono totalmente e o Veneno não me incomodou mais dentro dos meus pesadelos, nem nos meus sonhos enquanto eu dormia.

Mas uma coisa me atrapalhava mais do que ele e do que tudo, como iria ficar vivendo sozinha a partir de agora? Será que vou ter que sair a procura do meu pai biológico?

            
            

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