VENENO
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Capítulo 5 QUEIMADA MORTAL

Os primeiros raios de Sol entram no meu quarto e batem no meu rosto como se me dessem um bom dia, meus olhos se abriram por causa da claridade, alguns segundos depois o despertador começou a tocar, é, eu deixei o mesmo tocar todo dia de manhã na hora da minha escola, ele tocou ontem e devia ser por isso que Zack havia acordado para pará-lo.

- Desliga isso daí. É irritante.

- Está na hora de levantar, Veneno... - minha voz sai cansada e longa, como se estivesse sendo arrastada por um trem.

Não sinto meu corpo cansado, mas, ainda tem vestígios de sono nele.

Me levantei da cama, cocei meu olho e vou em direção ao banheiro do meu quarto. Me olhei no espelho, coloquei a pasta na escova e comecei a escovar o dente, pelo menos meus dentes não eram aqueles gigantes que nem o do Veneno. Terminei de escovar o dente e penteio o cabelo. Voltei pro meu quarto e vou até o guarda roupa, olhei para o espelho e olho para baixo envergonhada.

- Já vou sair, já vou sair... - Veneno disse em minha mente.

Sintei a mesma sensação de antes, de um vazio em meu corpo. Veneno se transforma naquela meleca preta e se arrasta para debaixo da cama repetindo o ato de ontem. Sem esperar muito tempo, coloquei uma calça jeans e a blusa da escola, uma gravata, que também era da escola, por cima que nunca combinou com o meu estilo, por fim coloco um tênis preto. Fiquei de joelhos e olho embaixo da cama, estiquei meu braço e o a gosma preta começou a subir, se adentrando em minhas veias. Aquilo era sinistro.

Fui ao banheiro novamente, acabei de me lembrar que iria ter educação física, fiz uma trança bem rápida para não suar no treino. Depois vou até minha mochila, coloquei meus cadernos e livros, sem faltar o estojo. A manhã sempre ficava um pouco fria, então coloquei uma blusa de manga meio azul escuro por cima, não enchi muito de agasalhos, porque a escola tinha aquecedor. Já estava pronta, agora era direto para a cozinha.

- O que vamos comer no café? - perguntou Veneno, ele parecia animado, digamos assim.

- Pão e ovo! - respondi sorrindo, só havia isso na geladeira, sem contar com o bacon e o refrigerante de ontem.

Veneno resmungou alguma coisa que eu não entendi, devia ser porque no cardápio preferido dele, só havia pessoas.

Comecei a preparar o lanche e não demorou muito para comer tudo. A hora passava bem rápido, já eram seis e meia, só faltava apenas três coisas para fazer. Primeira coisa: fui até o quarto do meu padrasto e abri a porta lentamente, Zack dormia que nem um anjo... Missão concluída. Segunda coisa: pegar os documentos e senhas do meu padrasto para pegar dinheiro no banco. Também fiz isso. Terceira coisa e última: pegar a chave e trancar o apartamento depois que eu saísse. Missão final concluída. Já estava fora do apartamento descendo as escadas para chegar lá embaixo, foi nessa que minha mãe faleceu e lembro disso toda hora que passo por ela. Eu não sei muito bem o que aconteceu naquele dia, mas, sei que eles saíram do apartamento brigando sem parar e minha mãe pedindo pra ele ir embora de casa, não sei como ninguém deu queixa contra ele, nem falou nada sobre o ocorrido... Todos sabiam que sempre acontecia isso.

Sai pela porta da frente e tranco a mesma. Era uns oito minutos até eu chegar na escola, já que tinha perdido meu celular pela rua, minhas músicas tinham acabado. Comecei a pensar numa letra de uma música na minha mente, Veneno estava quieto por um momento, mas, logo começou a cantar, fiquei surpreendida com isso.

Já tinha mudado de ideia de que ter meio que um parasita no seu corpo era ruim, pelo contrário, era ótimo e até servia de fone de ouvido. Porém a música só saia com uma voz grossa e monstruosa.

- É, você tem talento... - comentei baixo e meio irônico para que ninguém da rua pudesse ouvir.

[...]

Os corredores da escola pareciam mais medonhos, a ansiedade tomava conta de mim, alunos passavam de um lado para o outro, muito barulho em volta, armários se abrindo e fechando, aquilo estava me dando uma certa agonia e dúvida. Pensei que seria mais um dia normal, mas, Veneno estava dentro de mim, não tinha como ser normal. Esquecia desse detalhe importante.

- Será que você consegue sobreviver sem mim durante a manhã inteira? - perguntei com uma expressão não muito boa.

- Tá brincando, né!? - Veneno rosna dentro de mim, aquilo só piora as coisas. - Tenta relaxar, não vou fazer nada demais... - começo a caminhar em direção ao meu armário. - Se bem que seus colegas parecem muito apetitosos. Hmmm!

- Veneno! - reviro os olhos.

Cheguei em meu armário e começo a colocar os livros e cadernos que estavam em minha casa, retiro apenas os que irei precisar para as próximas aulas e coloquei em minha mochila. Meus adesivos estavam na porta do armário como sempre, meu caderno de anotação também estava lá dentro junto com a foto que estava eu e minha mãe, olhei por alguns segundos e pego a mesma.

- Você não era nada parecida com ela. - logo que ouço Veneno dizendo aquilo, solto uma risada baixa.

- O que você quer dizer com isso, seu monstrinho? - pergunto ainda rindo um pouco.

- Ah, deixa pra lá...

Como eu estava muito distraída com a foto e a conversa com Veneno, nem vi que Mary havia chegado ao meu lado.

- Fiquei preocupada, você não veio na aula ontem, não atendeu minhas ligações... Onde você estava? - ela disse parecendo estar suspeitando de alguma coisa.

Mary é minha amiga desde que eu mudei para essa escola, não sei como começar a explicar o jeito dela, porque ela é imprevisível, nunca sei o que está pensando... Agora, de aparência física, sei falar de tudo. Cabelos castanhos, olhos incrivelmente lindos de um tom azul esverdeado ou verde azulado, como você preferir e a boca pequena com um tom rosado, ela passava maquiagem todos os dias.

- Meu celular caiu no vaso, é. Quebrou... - disse tentando inventar uma desculpa, esperava que ela não ficasse fazendo muitas perguntas, não era boa em contar mentiras. - E eu meio que passei mal, de... Diarreia!

- Nossa! Amiga, o que você comeu? - ela perguntou horrorizada, parece que tinha caído direitinho na minha história.

- Tinha uma coisa estragada no meu lanche que foi pra dentro do meu corpo, é insuportável às vezes...

- Não gostei disso!

- E você já está melhor? - fez uma cara de preocupação, apenas ri com aquilo, mentalmente, é claro...

- Claro, estou muito bem. - disse.

Com Veneno dentro de mim, meu padrasto morreu porque foi comido, tinha um garoto morando na minha casa junto comigo, uma fundação que quer matar as pessoas preparando elas pro apocalipse, vou viajar pra Manhattan... Uhum, tô bem legal.

Após conversamos sobre assuntos aleatórios da escola, o sinal bate e isso significa que tenho que procurar minha sala para começar a aula, Mary vai caminhando do meu lado, ela é da mesma turma que eu. Entramos na sala, escolhi uma carteira para sentar, perto da janela, sinto que as pessoas bem clichês de séries de super-heróis sentam perto da janela porque são os principais.

- Não somos heróis.

Quase que mandei Veneno calar a boca bem alto, mas, lembrei que já estava dentro da sala sentada direitinho em minha carteira, retirando meu material da mochila e esperando que o professor entre para começar a aula.

"Cala a boca."; pensei. Veneno bufou em minha cabeça, aquilo me deu ainda mais raiva, mas, eu permanecia imóvel na carteira e com um sorrisinho no rosto para despistar totalmente o quanto eu estava me sentindo estranha e esquisita naquele momento.

O professor chegou na sala, alto, gordinho e barbudo, já começou explicando matéria, mas, o "bom dia turma" não podia faltar, né. Às vezes fico até aliviada, os professores nem ligam direito pros alunos, então não tinha aquela coisa de "fulano faltou aula?", "vou falar com a diretora para ligar pros pais...", "porque você faltou aula ontem, aconteceu algo?". Depois de alguns minutos de aula, o quadro já estava todo escrito, era sempre assim, se você não copiasse rápido e prestasse atenção perdia a matéria inteira.

- Então é o seguinte, se você pegar x e dividir com... - o professor começa a explicar.

- Esse cara é engraçado, ele fala que nem o meu chefe, hmm, falar nisso, Lucy, temos que conversar uma coisa que ainda não te falei, é sobre dominar o seu planeta... Acho que estou gostando daqui, posso fazer tudo que eu quiser neste lugar. - Veneno começou a falar sem parar e tirar toda minha atenção do que o professor estava falando. - Eu sou o maioral, o grande Ven-

- Dá pra você parar de falar!? - digo em voz alta intrometendo Veneno. Quando percebo, todos os alunos estão me encarando, o professor que estava de costas, olha na minha direção, dou um sorrisinho forçado.

- Como é que é, Srta. Walle? - ele cruza os braços e franze o cenho, parecendo estar com raiva de mim.

- Não é nada, me desculpe, pode continuar a aula... - meu rosto ficou vermelho igual um camarão e eu abaixo a cabeça envergonhada.

Eu só queria me enfiar num buraco e ficar lá para sempre.

Começo a xingar Veneno em meus pensamentos, sei que o mesmo está escutando tudo, mas, ele não diz nenhuma palavra, digo para ele não se intrometer nas minhas tarefas escolares e outras coisas a mais também. Foco novamente na matéria e no professor explicando, parece que o meu sermão em Veneno havia funcionado, ele ficou quieto até o fim da aula.

[...]

A aula acabou, era hora do almoço, fiquei na fila esperando minha vez, montei meu prato e sentei junto com Mary no refeitório, numa mesa bem grande e larga. Nós comíamos enquanto ela ficava me falando sobre o namorado dela Matheus, fiquei pensando se eu também acharia uma pessoa tão importante assim na minha vida para ficar junto, por enquanto não havia ninguém tão especial pra eu amar e não ficava pensando nisso, muito menos agora que havia tantas coisas acontecendo na minha vida sem parar.

O intervalo acabou e o sinal bateu, voltamos para sala e tivemos mais e mais aulas. Até que chegou a última, educação física. O professor nos libera, junto minhas coisas e sai da sala, estava indo direto para o vestuário das meninas, Mary estava andando ao meu lado. A educação física iria começar, precisávamos vestir legging, aquilo não ficava bem em mim nem pintado de ouro, mas, eram as regras da escola.

Chegamos ao vestuário e nem sinal de Veneno aparecer para falar alguma besteira, então nem me importei muito. Retirei meu tênis e coloquei no armário, logo depois a calça jeans, só que dessa vez bem mais rápido, peguei a legging e vesti. Tirei a blusa de manga que estava por cima, fiquei apenas com a camisa de uniforme e a gravata.

Calcei meu tênis novamente e arrumei a trança do meu cabelo que estava bagunçada. Eu não era muito boa em educação física, na verdade, eu não gostava de nenhum esporte, porque não sabia jogar nada.

- Vamos lá... Mais uma educação física cheia de bolada na cara. - Mary disse ao meu lado, nós duas rimos.

Começamos a caminhar até a quadra, as outras meninas que também ficaram prontas estavam vindo atrás. Enquanto estava andando, senti alguém bater em meu ombro e passar na minha frente.

- Pronta pra perder mais uma, Walle? - era sempre assim, ela só me chamava pelo sobrenome.

Seus cabelos ruivos e longos passaram sobre mim, Samantha me odiava, nem sabia o por que... Ela era a garota mais popular da escola e blá blá blá, todo mundo gostava dela e por incrível que pareça, era inteligente e bonita. A amiga dela, Louise, andava junto com ela como se fossem carne e unha, só que chamava menos atenção.

Mary revirou os olhos ao meu lado, eu apenas fiz em negativa com a cabeça.

A quadra era imensa, tinha até arquibancada. O professor nos mandou fazer uma fila de lado, pediu para que Samantha e Diane, uma garota que também era da minha sala, escolherem o time. Acabei ficando no time de Diane junto com Mary, Samantha não nos escolheria nem se pagasse pra ela. Os times ficaram um de cada lado, era queimada. Pra quem não sabe o que significa, é basicamente lançar a bola no outro e se acertar, você sai do jogo, mas, também pode segurar quando alguém arremessar em sua direção, o que não é o meu caso, porque eu nunca consigo.

O professor apitou, o jogo começou.

O time da Samantha começou com a bola, queimando uma garota do meu time. O tempo passava e a Samantha ia queimando todo mundo com uma brutalidade total, já estávamos acostumados com aquilo, até ela querer focar em mim, todas vezes que ela jogava, eu desviava do jeito que eu podia, porque vinha com muita força, não sabia de onde aquela menina tirava tanta força daquele bracinho mixuruca.

Haviam só três pessoas no meu time: eu, Mary e uma outra menina que eu nem conhecia direito...

Samantha pegou a bola novamente e parou em cima da linha, me encarou e deu um sorriso maléfico.

- Dessa você não escapa! - jogou o cabelo ruivo para o lado antes de fazer força para arremessar a bola.

Aquilo parecia um míssil vindo na minha direção pronto para explodir quando batesse em meu corpo. Aceitei o fato de que eu iria ser queimada, abaixo meu rosto e fecho meus olhos pronta para receber a bolada. Sinto uma energia estranha em meu corpo e algo atingir minha mão com muita força. Veneno. Levanto a cabeça, minha mão está estendida para frente segurando a bola de um jeito mais impossível de todos, arregalo os olhos de surpresa. Encaro Samantha que está me olhando incrédula e parada no meio da quadra como se tivesse visto uma assombração.

- Acaba com ela logo, molenga - Veneno falou no fundo da minha mente, ele havia voltado na hora certa. Rio logo em seguida, segurando a bola com as duas mãos.

- Pode deixar... - começo a correr sem pensar em direção à Samantha, a mesma arregala os olhos. Logico que eu não iria fazer o que Veneno queria logo no começo.

Arremessei em Louise que foi queimada na barriga. Logo Samantha pega a bola indignada e joga em mim novamente, seguro com as duas mãos e vou pra cima, queimando mais uma do time delas. Samantha jogava em mim em todas as vezes e eu desviava ou segurava e queimava mais e mais garotas de sua equipe, até que no final, sobrou apenas ela. Pela última vez, ela arremessa a bola em mim e eu seguro.

Veneno estava realmente animado com a brincadeira, mas, animado demais. Sinto a força aumentar em meu braço enquanto vou andando em direção à linha para poder arremessar.

"Veneno, vai com mais calma, não quero machuca-la." - pensei para o mesmo poder me ouvir.

- Relaxa Lucy, não vai machucar nadinha... - respondeu Veneno.

Me preparo para jogar a bola, encaro Samantha, parece estar com medo do que vai acontecer. Meu braço se mexe involuntariamente para trás, era Veneno o controlando, sem pensar duas vezes, meu braço vai para frente, arremessando a bola em alta velocidade.

A bola atinge o corpo de Samantha a jogando para trás, fazendo a mesma ficar desacordada no chão, o professor corre até ela para socorrer. O outro time estava todo dolorido, por ter recebido uma bolada tão forte daquele jeito. Sinto minha respiração ficar pesada, meu corpo amolecer, mas, Veneno fazia tudo melhorar de pouco a pouco.

"Você não matou ela, matou?" - perguntei à Veneno.

- Ela vai sobreviver...

Viro para as meninas do meu time, algumas estão com cara de espanto, outras surpreendidas demais para falar algo. Ninguém sabia o que tinha acabado de acontecer, nem como eu venci o jogo tão rápido desse jeito, estava um clima muito estranho, até que Mary gritou.

- Ganhamos!

As garotas de repente voltaram em si e começaram a comemorar, vieram até mim e me levantaram lá em cima, começaram a gritar meu nome em coro. Aquilo iria ficar na minha mente pra sempre, graças a Veneno.

No final de tudo, Samantha acordou.

[...]

Eu havia me despedido de Mary, já era hora de ir embora. Peguei todas minhas coisas no armário, coloquei na mochila, iria ficar um bom tempo sem voltar naquele lugar, mesmo que eu precisasse. Caminhei pelo corredor, não havia ouvido nada sobre o que tinha acontecido com Samantha, só que ela acordou depois de alguns minutos.

Sai da escola com pressa e fui parar no banco, já tinha decidido que iria ficar tudo para aquele dia. Pensei muito sobre pegar esse dinheiro, parte de mim achava errado, mas era a única forma de chegar em Manhattan e salvar as pessoas inocentes daquela fundação.

Acessei o cartão do meu padrasto, digitei a senha e coloquei o valor da quantia que eu queria, não era muita coisa, afinal, era só pegar um táxi para chegar na estação de trem e chegar em Manhattan, depois pegar um táxi de novo e deixar o Zack na casa dele e conversar um pouco com a família, tentar explicar o que aconteceu com ele... E por fim, destruir a fundação. Quando eu terminei de pegar o dinheiro, guardei tudo na mochila e sai.

Demorou apenas alguns minutos para chegar ao meu apartamento. Subi as escadas rapidamente, cheguei e destranquei a porta. Estava muito ansiosa. Zack estava no sofá assistindo TV, caminhei até a sala, o mesmo me olhou curioso.

- Vamos pra Manhattan! - falei animada.

            
            

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