Capítulo 4 A vida...

- Certo. - Suspirei. - Tem horário para as faxineiras entrarem na sua sala?

- Sim. Bem lembrado. - Murmurou, anotando mais alguma coisa em sua folha misteriosa. - A faxineira precisa passar por uma barreira de objetos metálicos e de raio-x.

Ok, esse cara tomava bastante cuidado com o que trabalhava. Engoli em seco, esperando ele falar que eu teria que olhar o trabalho da faxineira.

- Quero você junto com ela, - Levantou o olhar, estreitando os olhos. - Não costumo confiar de cara nas pessoas que trabalho, mas contando que você não tocou nem na tomada para ligar a luz, tenho certeza que não iria roubar nada daqui.

Me senti um pouco ofendida, com as palavras dele, mas fechei meu bico, apenas cerrando os dentes. Eu prometi a Agnes que não ia falar besteira. Esse cara era mesmo um cara frio e insensível.

- Alguns dias, precisarei que me acompanhe em algumas reuniões. - Informou, enquanto eu apenas assenti. Isso aqui não era uma entrevista de emprego, ele só estava informando as exigências dele, como O chefe. - Eu costumo pedir a ajuda de uma mulher para comprar presentes para minha mãe, se importaria de sair comigo ao shopping?

- Não, senhor. - Respondi, sabendo que se eu realmente dissesse o que eu pensava, seria demitida sem ao menos ter sido contratada. Me pergunto se esse cara não sabia do gosto da própria mãe, mas me lembrei que nem todos os filhos têm uma relação boa com os pais e permaneci quieta.

- Ótimo. - Suspirou, escrevendo algo. - Assine aqui, e me dê sua carteira de trabalho, por favor.

Em silêncio, estendi minha carteira de trabalho e li superficialmente do que se tratava aquela folha que ele tanto anotava algo. Ele estava assinando um acordo, o qual os assuntos das reuniões, permaneceriam entre nós. Aquilo parecia ser importante para ele, já que ele havia assinado mais de sete folhas.

Passei os olhos em todas, e vi que era apenas termos, e assinei. Não iria fazer nada daquilo mesmo. Sempre fui muito calma em todos meus empregos. Talvez porque eu sempre precisei deles para sustentar minha mãe.

Coloquei as folhas e a caneta na mesa, e esperei o próximo passo. Ele folheou com atenção os papéis, para verificar que eu tinha assinado todos. Hello, querido, preciso desse emprego urgente.

- Seu salário vai ser de sete mil. - Murmurou, enquanto estendia minha carteira de trabalho. Eu arregalei levemente os olhos. - Com vale alimentação e refeição.

- Ok... - Eu ia falar besteira, e aquilo custaria meu salário. Ok foi a única resposta que me sobrou naquele momento. - Obrigada.

- Você começa amanhã. - Aquela notícia tinha me pegado de surpresa. Eu não pensava que Agnes ia sair tão rápido. - Tenho uma reunião muito complicada amanhã às 07:30, precisarei de você. É bom pra você ir se acostumando também.

- Certo. - Me levantei. - Que horas a empresa abre?

- Ela fica aberta desde as cinco. - Franziu o cenho, parecia que queria perguntar algo, mas logo o semblante inexpressivo estava de volta. - Está liberada.

A vontade de revirar os olhos e murmurar um eu sei, foi grande, mas me contive. Precisava me acostumar com a postura prepotente dele, o qual devia estar acostumado com pessoas esperando ordens dele.

Toquei na fechadura com a ponta dos dedos, tomando o maior cuidado do mundo. Percebi que ele seguia cada movimento meu, e fechei a porta com delicadeza, sem emitir nenhum som. Eu era expert em ocultar qualquer som que viesse de mim, disso, ninguém poderia reclamar.

Avistei Agnes colocando suas coisas em caixas e me aproximei devagar, me sentindo triste vendo aquela cena. Ela, ao contrário de mim, parecia animada guardando suas coisas.

- Ag... - Chamei, vendo ela tomando um susto com minha presença. - Você...

- Que susto! - Colocou as mãos em cima do coração, mas logo suspirou e sorriu. - Sim! Eu estou fora desse emprego e estou indo realizar meu sonho.

Sorri junto a sua empolgação. Saber que ela estaria fazendo o que amava, me deixava aliviada de um jeito diferente. A questão era, querendo ou não, eu sentiria falta dela no meu dia-a-dia.

- Quando você vai pra europa? - Indaguei, me apoiando na bancada dela, a fazendo sorrir contida. Saber que íamos nos separar, deixava meu coração acelerado.

- Meu voo está marcado para amanhã às quinze horas. - Foi um baque. O tempo pareceu parar, enquanto as contas em minha mente não batiam. - Eu não queria te contar antes. - Murmurou, vendo meu estado de choque. Eu não soube em que momento e nem como ela tinha chegado ao meu lado e me abraçado. - Eu sei o quanto a situação da sua mãe já afetou e ainda afeta seu psicológico. - Afagou meus cabelos com carinho. - Sei que nossa ligação é muito maior que meras irmãs de consideração. - Assenti, entendo onde ela queria chegar. - Eu sei que não ia suportar ver eu arrumando minha mala duas semanas antes, nem me olhando sabendo que os dias estavam contados.

- Sim... - E era verdade. Eu não aguentava tanta coisa assim na minha mente. Meu psicológico já não era o mesmo há anos. Parecia que eu tinha dedicado a minha vida para cuidar da minha mãe, e eu não reclamaria, mãe era só uma. Ela sempre esteve lá para me apoiar, agora era minha vez. - Bom, espero que você faça uma boa viagem.

Agnes me fitou com um sorriso caloroso, me abraçando, e retribui. Ela sabia que eu não estaria lá, e estava nítido, já que não reclamou.

- Boa sorte amanhã. - Murmurou, batendo na bancada. - Vou te ensinar tudo logo, vem.

Me puxando pela mão, ela me guiou até o outro lado, onde só ela poderia ficar. Me explicou tudo, e em geral, não era tão difícil. Anotei em um caderninho, como eu deveria falar ao atender os telefonemas. Cada empresa tem uma forma de tratamento, e eu anotei todas.

Agnes sempre pontuava para eu não me envolver com o grande chefão, e nem ficar bajulando muito. Pelo visto, as outras mulheres que trabalhavam ali não gostavam de ninguém rondando o território imaginário delas.

- Viu? Não é tão difícil. - Agnes colocou as mãos nos meus ombros, fitando a tela do computador. - Ele sempre vai te chamar por esse interfone aqui. - Apontou para um botão com vários furinhos, onde sairia a voz do dito cujo. - Você já sabe o pronome de tratamento dele.

- Uhum. - Não me atreveria a chamar pelo nome ou sobrenome. - E as reuniões...

- Apenas anote tudo. - Frisou séria. - T.u.d.o.

- Certo. - Massageei minhas têmporas, enquanto me levantava. Precisava visitar minha mãe, já que não teria mais tempo, e avisar as enfermeiras o que planejei. - Bom trabalho, Ag. Boa viagem, e assim que chegar lá, me ligue.

- Obrigada. - Se despediu. - Passo aqui antes de ir, não se preocupe.

Acenei com a mão e entrei no elevador. Não tinha nada a reclamar. A empresa era enorme, pelo que consegui ver através do elevador de espelho, tinha um andar só de refeitório, onde provavelmente as pessoas comiam.

            
            

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