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- Bom dia, senhor. - Ele apenas maneou a cabeça de volta, fitando o relógio na parede. Ele era pontual, eram exatamente sete horas da manhã, mas eu era diferente. Eu era adiantada.
Os enfermeiros e médicos de minha mãe sempre me alertam, para procurar terapia e um psicólogo. Sempre dizem que eu tenho sintomas de ansiedade, e eu nunca liguei para isso.
Não me julguem mal, eu apenas não tenho tempo para cuidar de mim mesma, e para não piorar minha situação, eu realmente finjo que não me importo. Óbvio que eu sei que isso pode encadear algo pior, como uma crise braba, mas enquanto meus problemas estavam controlados, eu iria empurrando com a barriga.
Algo tremeu dentro de mim, quando a voz rouca e fria soou. Os funcionários não o temiam a toa, com certeza não era só respeito que tinham pelo chefe. Ele parecia de mau humor, e eu esperava que ele não falasse mais nada.
- Bom dia. - Deu as costas, enquanto ditava ordens ao resto dos funcionários que subiram atrás de si. - E senhorita Hickmann. - Me fitou por cima do ombro. - Reunião em meia hora.
Eu já sabia, graças a Deus não tinha problema de memória. Segurei minha língua e meu revirar de olhos e apenas acenei com a cabeça, concordando com o dito cujo.
Eu pensei que era um local calmo na parte da manhã, engano meu. Todo minuto entrava alguém diferente. Quando o elevador abriu e o CEO da empresa de materiais de construção apareceu, sequei as mãos na minha roupa e passei o olho no caderno de anotações que fiz, gravando mais uma vez como me dirigir aquele homem.
Murmurei comigo mesma várias vezes, antes de me levantar com um sorriso cordial nos lábios. Ele me fitou de cima abaixo, provavelmente notando que não era mais Agnes a secretária.
- Bom dia, senhor Ernesto. - Desejei, vendo ele sorrir minimamente, ainda me analisando. - O senhor Muller está à sua espera na sala sete.
- Você é a nova secretária a qual todos estão falando nesta empresa. - Ele concluiu, provavelmente a fofoca já havia se espalhado. - A senhorita é muito prendada.
Fiquei surpresa ao ouvir aquilo, mas não deixei transparecer. Sorri envergonhada e levantei levemente os ombros.
- Sou sim, senhor. - Peguei meu caderno de anotações e duas canetas, nunca se sabe quando elas podem te deixar na mão. - Vamos? Já está quase na hora da reunião começar.
- Sim. - Os gerentes dos setores da empresa dele acompanhavam nossos passos, enquanto eu os guiava até a porta.
Dei duas batidinhas, ouvindo o entre grosso e intimidador soar do outro lado. Suspirei, ajeitando minha postura e abri a porta, vendo a troca de olhar intenso dos dois CEO's.
Eu notei que havia um lugar reservado ao lado de Muller, mas diferente de todas as secretarias que querem aparecer, me sentei no sofá, com as pernas cruzadas, tirando um olhar confuso dele.
Balbuciei apenas um "Olha o ipad", e logo ele desviou os olhos para o aparelho a sua frente. Eu tinha enviado por e-mail tudo o que ele precisava saber daquela reunião, além de deixar claro que responderia por e-mail qualquer dúvida que surgisse no meio da reunião.
Ele me olhou de soslaio, dando um leve aceno com a cabeça, antes de começar a reunião. Ele tinha pessoas muito boas ao seu lado, mas percebi ele fitar muito o homem do setor de finanças, que parecia estar nervoso no meio daquela reunião.
- Como está os gráficos, Tim? - O homem congelou perante o olhar rude e o tom sarcástico de sua voz. Eu o vi engolir um caroço em sua garganta, antes de empurrar a pasta azul em direção a Logan, que não parecia nada feliz com aquilo.
- Algum problema no setor de finanças, senhor Muller? - Percebi que Ernesto gostava de zombar da desgraça dos outros, e aquilo me deixou profundamente irritada com a situação.
Abri rapidamente meu celular e chequei o e-mail, o qual tinha todas as informações dos setores da empresa Muller e cheguei nos e-mails de finanças, onde parecia estar com problema nos gráficos.
Tim estava com problema em fazer todos os gráficos da empresa, por um momento murmurei um bem feito em minha mente, pois era só ele pedir para contratar outro assistente, em vez de querer ficar sozinho no cargo.
No meu outro ponto de vista, onde eu tinha o dever de honrar meu trabalho e ajudar quem precisasse, pedi educadamente para outras pessoas da área de finanças da empresa organizar a tabela de gráficos e me mandar o mais rápido possível.
Pessoas na área não faltavam, pelo visto, o poderoso chefão só aceitava pessoas com bastante cursos no currículo. Por um lado, era muito útil. Me levantei, tomando coragem pela primeira vez, e caminhei em direção a mesa.
- Desculpe. - Dei um olhar para Tim, que se encolheu. - Acabei de checar o e-mail e mandaram a tabela de gráficos faltando. - Tim arregalou levemente os olhos. - Já estão me enviando as tabelas e eu logo a trarei aqui.
Logan franziu o cenho, dando um olhar para Tim, que confirmou, levantando os ombros.
- Eu ia explicar isso depois que a reunião acabasse, não queria atrapalhar e ter que sair no meio. - Explicou, me dando um olhar agradecido, mesmo que ainda houvesse um pingo de curiosidade no fundo de seus olhos. - Obrigada, senhorita.
- De nada. - Murmurei, pegando a pasta. - Trarei a certa desta vez. Com licença.
Sob o olhar de todos, saí da sala segurando o nervosismo e dei de cara com o menino segurando uma pasta em mãos. Percebi que estava nervoso, vendo o mesmo bater os pés no chão, fitando minha mesa com os olhos caídos.
- Bom dia, Josh. - Coloquei a pasta errada na minha bancada, no meio dos documentos. Ele me fitou com os olhos arregalados, como se estivesse em choque. - Trouxe o que pedi?
- S-Sim, senhorita. - Me estendeu a pasta, suas mãos tremendo levemente enquanto me entregava. - Espero que esteja do jeito que pediu...
Abri a pasta e vi todos os gráficos dos setores da empresa e sorri, vendo ele ficar aliviado. Apertei levemente seu ombro, vendo-o encolher.
- Obrigada, de verdade. - Agradeci, antes de dar as costas. - Deveria ir para a área de finanças. - Pontuei, antes de voltar a sala de reunião. - É muito bom nisso.
Deixei para trás um jovem menino que ainda estava se descobrindo em sua profissão, e entrei na sala dos caçadores, que esperavam sua presa.