Capítulo 8 Quarto ao lado

Emma acordou sozinha na cama e olhou em volta, estranhando no início o lugar onde estava.

Então se lembrou que Enrico a trouxera para sua própria casa ao invés de deixá-la no apartamento que dividia com Cora, assim como se lembrou de ter concordado em ficar por mais uma semana.

Emma ouviu o próprio estômago roncar e olhou em volta pelo quarto, a procura de um relógio.

Foi então que viu o bilhete ao seu lado na cama.

"Tive que ir ao escritório. Você parecia cansada e não quis acordá-la. Sinta-se em casa. Volto assim que for possível."

Sentir-se em casa?! Ela revirou os olhos antes de olhar novamente em volta.

O quarto de Enrico era enorme.

As paredes eram pintadas em tons de cinza e chumbo.

Não havia muitos itens decorativos, apenas um abajur e uma foto da família sobre o criado.

As cortinas, em um tom de grafite, estavam fechadas, deixando o quarto um pouco mais escuro e Emma imaginou que fosse por isso que dormira por tanto tempo.

Levantou-se, sentando-se com os pés para fora da cama e afastando a colcha que Enrico tivera o cuidado de colocar sobre seu corpo antes de sair.

Adormecera imediatamente depois que ele a levara ao ápice do prazer, completamente exausta, e nem mesmo o vira sair.

Sentir-se em casa era a última coisa que ela deveria fazer naqueles dias que ficaria ali.

Não poderia se dar ao luxo de se acostumar a um lugar de onde teria de partir dentro de pouco tempo.

Procurou por suas roupas, que estavam dobradas cuidadosamente sobre uma poltrona ao lado de uma porta que ela imaginava ser o banheiro.

Colocou-se de pé, sem se importar em cobrir sua nudez com o lençol, já que estava sozinha na casa.

Pelo menos era o que imaginava.

Então caminhou até a poltrona e pegou o telefone celular no bolso de trás dos shorts.

Já passava das dezenove horas!

Ela adormecera praticamente por toda a tarde! Ela constatou.

Imaginou que Enrico poderia estar a caminho de casa, portando tratou de levar suas roupas até o banheiro para que pudesse se banhar.

Uma hora depois ela tomou coragem para descer as escadas, deparando-se com um senhor de meia-idade que entrava na sala.

_ A Srta. Acordou... _ ele comentou. _ O Sr. D'Angelo deixou instruções para que seu jantar fosse preparado, pois ele ainda vai demorar um pouco mais.

_ Ah, entendo... _ Emma murmurou, um pouco decepcionada.

Ela sabia que Enrico precisava voltar ao trabalho, mas não imaginava que passaria tanto tempo fora deixando-a ali sozinha.

Quer dizer, não completamente sozinha, claro!

_ Estou com um pouco de fome... _ ela comentou e seu estômago resolveu roncar novamente, deixando-a sem graça.

Olhou para o senhor, a sua frente, constrangida, e notou um pequeno sorriso no canto de seus lábios.

_ Posso perceber, senhorita. _ ele comentou. _ Sou Charles, mordomo do Sr. D'Angelo. Vou servir o seu jantar agora, se puder me acompanhar.

Ele se virou e Emma o seguiu, olhando em volta pela casa em todo o caminho até a sala de jantar.

Algumas coisas estavam diferentes do que vira no dia da festa, fazendo aquela casa parecer ainda mais elegante e repleta de luxo.

Emma andou com cuidado, temendo esbarrar sem querer em algum vaso pelo caminho e acabar quebrando alguma coisa que poderia custar mais do que a pequena quantia que tinha em sua conta no banco.

Quantia essa, que ela mantinha guardada para poder se virar em Los Angeles quando retornasse, até que as coisas melhorassem financeiramente para ela.

_ Há quanto tempo trabalha para o Sr. D'Angelo? _ ela quis saber, fazendo o senhor se voltar e olhar para ela enquanto entravam na sala de jantar.

Já havia um prato e talheres sobre a mesa, como se ele estivesse esperando por ela todo aquele tempo.

De repente, Emma se sentiu culpada por dormir demais e por dar trabalho para Charles.

_ Doze anos, senhorita. _ ele respondeu, afastando a cadeira para que ela se sentasse.

_ Pode me chamar apenas de Emma. _ ela pediu. _ Não sou ninguém importante para ser tratada com tanta formalidade. E ficarei por pouco tempo, então...

Charles a observou por um momento antes de negar.

_ Não sei se o Sr. D'Angelo aprovaria, senhorita...

Emma sorriu para ele.

Tinha uma semana pela frente, e pelo visto passaria algum tempo sozinha naquela casa.

Seria bom ter alguém para conversar, então estava feliz com a presença de Charles na casa.

_ Então me chame de Emma apenas quando ele não estiver por perto, o que acha? _ ela sugeriu.

Ele hesitou por um momento, franzindo o cenho, antes de assentir com um suspiro.

_ Vou trazer o seu jantar, senhorita... Quer dizer, Emma. _ ele disse, com certa dificuldade.

Pelo visto, ele estava acostumado a tratar a todos com formalidade, mas Emma não estava acostumada com isso.

Na verdade, não estava acostumada com nada do que havia em sua volta.

_ Obrigada, Charles. _ ela agradeceu e o senhor se virou para sair, mas ela pode perceber a expressão de surpresa dele diante de seu agradecimento.

Charles lhe trouxe o jantar e se afastou, deixando-a sozinha novamente.

Emma comeu com vontade, adorando o Ravióli de camarão.

Estava com tanta fome que não levou muito tempo para limpar o prato.

Quando Charles retornou, Emma sorvia um gole do vinho tinto que ele lhe servira.

Charles olhou rapidamente para seu prato, parecendo surpreso e satisfeito por ela comer tudo.

_ Obrigada pelo jantar, Charles. Estava maravilhoso. _ Emma elogiou, limpando os cantos da boca com a toalha de papel. _ Desculpe-me por dar trabalho. Dá para sentir que todos os ingredientes são frescos, então imagino que ficaram esperando todo esse tempo até que eu descesse para o jantar.

Charles ergueu uma sobrancelha.

_ A senhorita tem um bom paladar... _ comentou, admirado. _ Mas não foi trabalho nenhum. Direi a cozinheira que ficou satisfeita com a comida.

Charles lançou mais um olhar para o prato completamente vazio e sorriu de leve.

_ Mas, talvez não seja necessário dizer nada. Ela verá por si mesma.

Emma corou diante de seu comentário.

Então riu baixinho, levantando-se.

_ Desculpe, se tem uma coisa que faço muito bem é comer. _ ela admitiu, fazendo Charles rir.

Ele pigarreou ao perceber que estava rindo e tornou a ficar sério, apesar de não ter mais aquela expressão impessoal de antes.

_ Faz tempo que não vejo uma mulher bonita apreciar uma boa comida com tanto gosto. _ ele comentou. _ As que costumam vir aqui, sempre brincam com a comida no prato e acabam não comendo nada além de salada.

Emma sorriu, mas seu sorriso logo se desfez ao entender que não era a primeira que Enrico trazia ali.

É apenas sexo, Emma! Ela tratou de lembrar a si mesma.

Ela não tinha direito de ficar chateada por Enrico ter trazido outras mulheres para sua casa antes dela.

Quando aquela semana acabasse, ela seria apenas mais uma antes de ser substituída.

Ela sabia disso desde o início, mas ainda assim aceitou estar ali.

Tudo porque não resistira a oportunidade de passar um pouco mais de tempo ao lado de Enrico.

_ Ana ficará feliz ao saber que gostou do jantar. _ ele disse, recolhendo o prato.

_ Agradeça a Ana por mim. Estava realmente delicioso. _ ela pediu. _ Vou subir novamente, Charles. Mas gostaria de saber onde minha mala foi deixada. Preciso me trocar.

_ Sua mala já foi desfeita, Emma. _ ele avisou, a caminho da cozinha. _ Suas coisas estão no quarto ao lado do Sr. D'Angelo.

Quarto ao lado?

Então eles não dividiriam o mesmo quarto? Emma se perguntou, enquanto agradecia mais uma vez a Charles antes de se voltar e sair da sala de jantar.

Pelo visto, Enrico também queria separar as coisas entre eles, ela pensou, não conseguindo evitar sentir-se um pouco chateada e decepcionada.

Voltou lá para cima e abriu a porta ao lado da que sabia ser o quarto de Enrico, revelando outro quarto com as paredes pintadas em tons de pêssego, completamente diferente do outro onde estivera a pouco.

Uma cama de casal gigantesca estava em um extremo do quarto, ladeada por duas mesinhas de cabeceira.

Cortinas brancas estavam na janela enorme que ia do chão ao teto, recolhidas, deixando ver a noite lá fora.

Emma suspirou, indo até o guarda-roupa enorme e abrindo uma porta, deparando-se com suas coisas lá dentro.

Não entendia o motivo de Enrico ter ordenado para que sua mala fosse desfeita se não pretendia ficar muito tempo.

Uma semana passava muito rápido.

Muito rápido...