Caleb sorri para mim quando se senta no banco do motorista e isso faz as borboletas vibrarem novamente. Como não me lembrava do quanto ele é lindo? Talvez eu não tenha notado antes. A última vez que o vi, ainda estávamos em choque pela morte da minha irmã. E antes disso, ele parecia muito mais velho que eu, assim como Melanie. Eu mal prestei atenção ao marido dela. Naquela época, teria ficado com muito medo de falar com ele de qualquer maneira, especialmente se pensasse que ele era gato.
Mas agora estou sentada em um carro com um homem que tem olhos castanhos profundos, cabelos escuros despenteados e uma mandíbula que é uma das coisas mais sexy que eu já vi pessoalmente. E estou indo morar com ele.
Tudo bem que é para ser a babá da filha dele. Mas ainda assim.
Respiro fundo e ajusto a bolsa que estou carregando no meu colo. Foi um longo voo de Michigan, mas meu cansaço sumiu com o choque de adrenalina que me atingiu quando vi Caleb. Eu não reparei nele no começo. Notei Charlotte quando desci da escada rolante e ela veio correndo em minha direção. Foi só então que olhei para cima e o vi parado ali. E eu sou uma bola de nervosismo desde então.
Fiquei furiosa com a minha mãe quando me disse que tinha conversado com Caleb sobre me mandar para Seattle para ser a babá de Charlotte. Não que eu desgoste da ideia de ser babá da minha sobrinha, estou emocionada com essa parte, na verdade. Charlotte é a coisinha mais doce e é triste vê-la apenas nas chamadas de Skype. Eu amo que poderei passar tanto tempo com ela, realmente conhecê-la.
Mas meus pais não me perguntaram se eu estava interessada. Eles nem me disseram até depois de terem conversado com Caleb e comprado a passagem de avião. Minha mãe entrou no meu quarto, disse para arrumar minhas coisas que eu tinha um voo para Seattle em dois dias.
Típico.
Não queria voltar a morar com meus pais depois da formatura, mas não tinha muita escolha. Eu trabalhei duro para conseguir o meu diploma de música, mas ser pianista clássica não é exatamente o caminho mais rápido para a autossuficiência. Dou aulas de piano desde o ensino médio, e isso é um bom complemento. Mas se eu quiser ganhar a vida tocando piano, vou precisar de um lugar com uma grande orquestra sinfônica.
O que é o plano. Estava morando com meus pais, então tinha tempo de praticar para as audições. Isso não deve ser um problema agora. Charlotte está na escola, então ainda terei tempo para praticar durante o dia, o que é muito necessário. As posições de pianistas são poucas e raras, e sempre há muita concorrência.
O mais difícil é que, por mais que eu goste de música – é a minha vida – é difícil me apresentar. Adoro música por si só e adoro tocar. Mas a pressão de ter uma platéia mexe com a minha ansiedade. Fico aterrorizada antes de uma apresentação e exausta quando acaba.
Mas, como meus pais gostam de me lembrar, se vou seguir com a música, tenho que dar tudo de mim. Ir o mais longe que puder. Fazer o meu melhor.
Eles esperam que eu aperfeiçoe meu talento natural com muito trabalho duro.
É uma lição que enfatizaram com as duas filhas. Meus pais são médicos – meu pai é um neurocirurgião e minha mãe trabalha em pesquisa de câncer – ambos no topo de suas áreas. Melanie estava a caminho de se tornar uma espécie de cirurgiã superstar. Então, naturalmente, eles esperam que eu seja a melhor, não importa a área de atuação.
No entanto, eles estavam pressionando bastante, e eu estava ficando frustrada. Minha mãe estava cada vez mais impaciente com a falta de oportunidades, como se de alguma forma eu pudesse controlar quando uma grande orquestra teria audição.
Foi por isso que concordei em vir para Seattle. Fiquei com raiva que meus pais não me consultaram antes de fazer acordos com Caleb. Mas uma vez que pensei sobre isso, percebi que era perfeito. Uma nova cidade. Um trabalho me esperando. Um lugar para viver. Uma chance de recomeçar, sem minha mãe respirando no meu cangote e me incomodando sobre audições.
Claro, eu não tinha contado com um insta-crush por Caleb.
Respiro fundo. Tenho certeza de que esse sentimento vai passar. Vou me acostumar a encará-lo – olho pelo canto do olho e, meu Deus, ele é um sonho – e não me sentirei mais tão nervosa.
- Linnea, você quer dormir no meu quarto comigo? - Charlotte pergunta do banco de trás.
Caleb ri e olha para ela no espelho retrovisor.
- Anjinha, nós conversamos sobre isso. Linnea precisa de sua própria cama. - Ele tosse. - Quero dizer, quarto.
- Tudo bem - diz Charlotte, parecendo decepcionada.
Eu me viro no meu lugar.
- Ei, talvez possamos dar uma festa à noite em algum momento. Em uma noite em que seu pai estiver trabalhando até tarde. Você gostaria disso?
Ela assente.
- Pode ser uma festa do pijama?
- Com certeza - eu digo.
- Que tipo de pijama você tem? - ela pergunta. - A maioria dos meus é rosa.
- Hum, eu geralmente não uso pijama, então acho que vou ter que comprar um antes da festa.
- Então no que você dorme? - ela pergunta.
- Apenas algo confortável. Como uma blusinha.
- E calcinha? - Charlotte pergunta. - Que tipo de calcinha você tem?
As minhas são do My Little Pony e Moranguinho.
Meu rosto esquenta e sei que estou corando. Tento não olhar para Caleb, mas espio mesmo assim. Ele está olhando para a frente, com as duas mãos no volante.
- Acho que não tenho nada divertido assim.
- Tudo bem... - diz ela. - Não sei se tem em tamanhos de adultos.
- Provavelmente não. - Eu me viro, esperando que ela tenha terminado de falar sobre minha calcinha. Talvez eu deva mudar de assunto. - Então, Charlotte, você já tocou piano?
- Não.
- Se você quiser, eu posso te ensinar - digo.
- Não sei se sou grande o suficiente - diz ela.
- Claro que é - rebato, olhando para ela novamente. - Comecei a tocar quando era mais jovem que você.
Sua testa se franze, suas sobrancelhas se juntam.
- Não. Eu não quero.
- Ah, tudo bem. Não tem problemas.
- Por que não, anjinha? - Caleb pergunta, sua voz suave.
- Por causa dos concertos - diz ela.
- Concertos? - Caleb pergunta.
- Às vezes tocamos música na escola, e a professora nos mostrou um vídeo - diz ela. - Era um concerto e todos músicos tinham que tocar em uma grande sala com muita gente.
- Oh. - Caleb se vira para mim e abaixa a voz. - Ela acha que, se tocar piano, terá que se apresentar na frente de uma plateia. Ela não está agindo assim agora, mas, na maioria das vezes, é incrivelmente tímida.
Meu coração derrete no meu peito. Eu era dolorosamente tímida quando criança; sei exatamente como ela se sente.
- Ah, anjinha. Se você quiser, pode aprender a tocar piano sozinha. Você não precisa tocar na frente das pessoas. Talvez apenas eu ou seu pai. Mas não haverá concertos, a menos que você queira.
- Oh - diz ela, sua voz iluminando. - Ok.
Caleb sorri para mim, seus olhos enrugando nos cantos. Eu sorrio de volta, mas parece que meu coração apenas ganhou asas e está tentando voar direto para fora do meu peito.
Meia hora depois, chegamos a uma bonitinha casa de dois andares em uma rua tranquila. Caleb me ajuda a pegar minhas malas e nós três entramos.
- Desculpe a bagunça - diz Caleb. - Nos mudamos há um mês, mas ainda não terminei de desempacotar. Estávamos em um apartamento antes, então nem tenho móveis para todos os quartos.
A planta baixa é aberta, com uma acolhedora área de estar, cozinha e sala de jantar. Há uma sala de estar formal com lareira perto da frente da casa e escadas que conduzem para cima. Algumas caixas estão empilhadas nos cantos e alguns dos brinquedos de Charlotte estão espalhados. Mas não me parece tão bagunçado.
- Não se preocupe - digo. - Eu posso ajudar a organizar, se você precisar.
- Eu não quero que você sinta que precisa limpar para mim - diz ele. - Eu apenas trabalho muito, então levo um tempo maior para fazer tudo em casa.
- Bem, sim, você está fazendo tudo sozinho - falo.
- Sim - diz ele, e estou impressionado com o cansaço em seus olhos. - Vamos levar suas coisas para o seu quarto para que possa se acomodar.
Levamos minhas coisas para o andar de cima e ele me mostra em volta. Quarto de Charlotte, banheiro, meu quarto. Ele aponta para uma porta entreaberta e murmura algo sobre o fato de ser seu quarto. Estou morrendo de vontade de espiar, mas é claro que não faço.
- Espero que você fique confortável aqui - diz Caleb, apontando para o meu novo quarto.
É simples, mas perfeitamente funcional. Há uma cama queen size ladeada por duas mesinhas de cabeceira, uma cômoda e um armário.
Ele leva minha mala e a coloca perto do armário.
- Você terá que dividir o banheiro com Charlotte. Espero que esteja tudo bem.
- Claro - eu digo. - Está ótimo.
- Tem certeza? - ele pergunta.
- Sim - eu digo, olhando ao redor da sala. - Isto é perfeito.
Charlotte puxa minha mão.
- Podemos ter nossa festa do pijama hoje à noite, Linnea?
- Hoje não, querida - diz Caleb. - Já passou da sua hora de dormir.
- Por favor, papai - diz ela. - Nós não vamos ficar acordadas até tarde.
Só um pouquinho.
Ele a pega e beija sua bochecha.
- Desculpe, anjinha. Já é tarde.
- Ok, papai - diz ela. - Linnea pode me colocar na cama, então?
Caleb ri.
- Hoje não, anjinha. Lembre-se, ela mora conosco agora e cuidará de você quando eu tiver que trabalhar. - Ele olha para mim. - E espero que ela fique por um bom tempo, por isso ela terá muitas chances de te colocar na cama.
Eu sorrio para eles.
- Exatamente. Vejo você de manhã, ok?
Ela assente e encosta a cabeça no ombro de Caleb. Ele esfrega as costas dela e, com um pequeno sorriso para mim, ele a leva para se aprontar para dormir. Fecho a porta atrás dele e me inclino contra ela, deixando escapar um longo suspiro.
Bem, não era isso que eu esperava quando entrei em um avião hoje.
Preciso controlar meu pequeno insta-crush. Caleb é quase dez anos mais velho que eu. Estou aqui para ser a babá da filha dele. E não vamos esquecer, ele era casado com minha falecida irmã. Os pensamentos que estou tendo sobre ele agora são tão inapropriados.
Mas tenho certeza de que não vai durar. Eu só preciso impedir que meus estúpidos hormônios assumam o controle.