NOSSO CLICHÊ
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Capítulo 8 8

Lembra

O sol me faz apertar os olhos, então tiro os óculos de sol da minha bolsa. É uma curta caminhada até a escola de Charlotte e está um dia tão bom. O ar está frio, uma mudança refrescante após a onda de calor. Agora parece outono. Talvez eu veja se Charlotte quer ir ao parque antes de irmos para casa, já que não temos nada planejado para esta tarde.

Algumas das mães estão em um meio semicírculo perto da porta da sala de aula. Elas olham para mim quando eu me aproximo. Os olhares que me dão não são exatamente amigáveis, então eu costumo manter distância. Não sei por que me olham dessa maneira, elas não me conhecem. Na verdade, nunca tentaram falar comigo. Tudo bem que eu também não tento falar com elas, mas quem poderia me culpar? Não é nem timidez neste momento; algumas simplesmente não parecem muito amigáveis.

Eu me inclino contra a pequena cerca ao redor do pequeno pátio em frente às salas de aula. Mais algumas mães estão por ali, algumas empurrando carrinhos de bebê. Olho para o pequeno grupo perto da porta e vejo uma delas dizer a palavra babá.

Uau, acho que estão falando de mim.

Eu era boa em ler lábios quando pequena. Ficar quieta não significa que você não está prestando atenção, pelo contrário, e eu notava tudo. Tornou-se um hábito observar a boca das pessoas para ver o que estavam dizendo. Foi só mais velha que eu percebi que, em muitas situações, pode ser considerado rude.

Mas hoje, não me importo se estou basicamente ouvindo a conversa do outro lado do pátio. Não que elas estejam tentando esconder que estão discutindo sobre mim. Talvez porque eu esteja usando óculos escuros e pareça que não estou prestando atenção nelas.

É óbvio porque ele a contratou, diz uma mulher. Outra mulher se inclina para perto dela. Você acha que ele dorme com todas? A primeira mulher assente. Por que você acha que ele troca tanto de babá?

Sinto um mal-estar na boca do estômago. É isso que pensam de mim? O que pensam de Caleb? Não é culpa dele que tenha trocado tanto de babás; não era porque ele estava dormindo com elas. E ele certamente não está dormindo comigo.

Não que eu não quisesse...

Relaxe, Linnea. Acalme esses hormônios traidores. Preciso me lembrar, novamente, de todas as razões pelas quais Caleb está fora dos limites.

A mãe amigável, como eu a chamo na minha cabeça, chega. Ela está super fofa em um cardigã cinza sobre uma camiseta rosa e jeans. Seu cabelo escuro é cortado curto e, como de costume, ela está usando uma faixa de tecido de cores vivas. Hoje é um rosa e laranja pastel.

Ela está perto o suficiente para que eu possa iniciar uma conversa, se quisesse. Já pensei nisso tantas vezes, mas nunca fui boa em dar o primeiro passo, não com homens ou amigas em potencial. Mas talvez eu deva apenas superar isso. Olho para as mulheres que estavam falando de mim, mas elas não estão mais olhando na minha direção.

Tiro meus óculos escuros e faço contato visual. Meu coração começa a bater mais rápido, mas respiro fundo.

- Oi. Desculpe, vejo você o tempo todo e nunca me apresentei. Eu sou Linnea.

Ela sorri.

- Megan. Prazer em conhecê-la. Sua garotinha é...?

- Charlotte - eu digo. - Mas eu sou a babá dela.

- Oh, entendo - diz ela. - Meu filho é o Noah.

Eu fico com a língua presa nesse ponto, porque não tenho muita certeza do que dizer a seguir. Quero explicar que não sou apenas a babá de Charlotte, sou tia dela, mas agora parece estranho dizer isso. Quando o silêncio está prestes a ficar estranho, Megan se inclina para mais perto e abaixa a voz.

- Sabe, eu notei que Charlotte e Noah parecem ter algumas coisas em comum - diz ela.

- Quais?

- Não leve a mal, porque estou no mesmo barco - diz ela. - Mas as outras crianças riem e correm para as mães. Mas Charlotte sempre parece tão séria. Eu só notei porque Noah é da mesma maneira.

- Charlotte é tímida - eu digo. - Acho que algumas pessoas acham que ela está brava ou fazendo pirraça, mas ela está realmente se sentindo ansiosa e assustada.

- Oh, coitadinha - diz Megan. - Noah é a cópia do pai, o que significa que ele é estoico e mal-humorado.

Eu rio e Megan ri junto comigo. Nós olhamos quanto Sra. Peterson abre a porta.

Um por um, os alunos da primeira série saem. Megan está certa, a maioria deles corre, saltita ou pula para os pais. Há uma pausa e um menininho de cabelos escuros aparece. Ele está vestindo uma camiseta azul e sua mochila verde parece enorme para ele.

- Ei, querido - diz Megan.

Noah se aproxima dela, e ele parece um pouco sombrio. Ele se inclina contra ela que lhe dá um abraço.

Charlotte está alguns segundos atrás dele. Ela sai com os olhos presos no chão, as costas rígidas e retas. Eu sempre sinto uma pontada de tristeza quando ela sai da sala de aula. Eu gostaria que ela não lutasse tanto para se encaixar.

- Oi, anjinha - eu digo baixinho e me agacho.

Ela passa os braços em volta do meu pescoço e eu a aconchego por um longo momento, sentindo-a relaxar. Não pergunto se ela está bem. Está sempre na ponta da minha língua, mas sei que há algo a incomodando, mas ela ainda não me falou sobre isso. Eu tenho que dar a ela um pouco de tempo.

Eu levanto e aliso o cabelo dela.

- Ei, o que você acha de trazer Charlotte para brincar? - Megan pergunta.

Fico um pouco empolgada com a ideia. Talvez isso ajude Charlotte a fazer um amigo. Isso seria tão incrível. Eu olho para ela.

- O que você acha? Você gostaria de brincar na casa de Noah?

Ela coloca a mão na minha, mas seu aperto permanece leve. Ela leva um segundo para responder, mas posso dizer que isso não a está deixando nervosa; se estivesse, ela estaria me segurando com um aperto mortal. Ela encontra meus olhos e assente.

É uma coisa tão pequena, mas estou inundada de felicidade.

- Ok, bom. Sim, adoraríamos.

- Se você não se importa com espontaneidade e a possibilidade muito alta de uma casa bagunçada, vocês podem vir agora - diz ela. - Se você tiver outros planos, obviamente.

- Claro - eu digo. - Não temos planos hoje.

- Ótimo. Vivemos na mesma rua - diz Megan com um sorriso.

A casa da Megan é adorável. É mais afastada e com um quintal em bom estado. Cestos com hera verde escura estão perto da porta. O interior é pequeno, mas acolhedor. A área da frente tem uma sala de estar com um sofá de frente para uma TV e uma lareira na parede lateral. Mais adiante, uma cozinha com belos armários brancos e paredes amarelas. Ela coloca suas coisas na mesa da cozinha e pergunta a Charlotte e Noah o que eles querem para o lanche.

Enquanto ela se ocupa na cozinha, levo Charlotte a uma cadeira à mesa. Noah se senta em frente a ela, mas não diz nada. Poucos minutos depois, Megan traz um prato com maçã fatiada e uma tigela de biscoitos.

- Aceita um café ou algo assim? - Megan pergunta quando as crianças estão ocupadas comendo.

- Chá seria ótimo, obrigada.

Ela faz uma caneca de chá para nós e, quando as crianças terminam de comer, Noah pergunta a Charlotte se ela quer brincar. Para meu alívio, Charlotte assente – ela até sorri – e o segue pelo corredor.

- Uau - diz Megan. - Essa foi fácil.

- Sim, foi - eu digo. - Isso é tão legal. Charlotte tem dificuldade em fazer amigos.

- Noah também - diz ela. - Eu me preocupo com ele, mas meu marido sempre me garante que ficará tudo bem. James era da mesma maneira quando era pequeno, e ele acabou bem. Ainda é um cara sério, mas pude ensiná-lo a sorrir, pelo menos.

Eu rio, uma visão de Megan alegre e colorida com um marido rígido e estoico passam pela minha mente.

- Parece que vocês se complementam.

- Sim - Ela toma um gole de chá. - Sabe, é surpreendente para mim que você seja a babá de Charlotte.

- Por quê?

- Você parece mais intima dela do que isso - diz ela. - Ela estava na classe de Noah no ano passado, e algumas meninas diferentes a buscavam. Era fácil perceber que eram babás, pela postura e modo de agir. Mas eu realmente pensei que você fosse a mãe dela. Eu me perguntei se talvez você trabalhasse antes e sua agenda mudou ou algo assim.

- Bem, eu sou mais que a babá dela - eu digo. - Eu sou tia. Ela é filha da minha irmã. Mas minha irmã morreu em um acidente de carro quando Charlotte era bebê.

- Oh meu Deus - diz Megan. - Eu sinto muito.

- Obrigada. - Enfio meu cabelo atrás da orelha, de repente pensando em Caleb. Sobre o quão difícil deve ter sido perder a esposa. Isso me lembra que sou apenas a irmã mais nova da esposa dele, e quão ridícula essa paixão realmente é. - Foi difícil. Mas o pai de Charlotte é um pai incrível, então isso ajuda.

- Isso é bom - diz ela.

Ela pergunta um pouco mais sobre mim, então eu digo a ela que toco piano e sobre o meu diploma em música. Quando ela pergunta sobre me tornar uma babá, eu me pego contando a história toda: como meus pais tomaram a decisão sem mim, e provavelmente pressionaram Caleb também. Mas também como tem sido ótimo desde que me mudei para cá e o quanto amo o que estou fazendo agora.

- Você é tão boa com ela - diz Megan. - Sempre tão gentil.

- Eu era muito parecida com ela - eu digo. - Entendo como ela se sente, eu acho.

Megan sorri.

- Ela tem sorte de ter você. Definitivamente, tenha filhos algum dia. Você foi feita para isso.

- Obrigada - eu digo com uma risada. - Isso não está nos planos para o futuro próximo, mas adoraria ser mãe um dia.

Megan faz uma pausa e levanta as sobrancelhas.

- Eu ouço risos?

O som da risada de Charlotte misturada com o riso de Noah desce pelo corredor.

- Eu acho que sim. Parece que eles estão se divertindo.

- Ok, é oficial - diz Megan. - Estou grudando em você. Você é legal, fácil de conversar, não parece julgar minha casa bagunçada e nossas crianças estão se divertindo. Temos que fazer isso de novo.

- Eu adoraria - eu digo. - Que tal eu receber você na próxima vez?

- Feito - diz ela. - A qualquer momento. Apenas me avise.

Converso com Megan por mais algum tempo, depois procuro Charlotte para ir para casa. Ela está relutante em ir embora, e Noah está relutante em deixála ir, o que faz Megan e eu quase gritarmos de alegria. Prometemos às crianças que se verão na escola amanhã e teremos outro dia de brincadeiras muito em breve.

O carro de Caleb já está na garagem quando andamos até a casa. Verifico meu telefone, preocupada que ele possa ter enviado uma mensagem de texto para ver onde estávamos, mas não há nada. Entramos e ouço Caleb conversando. Faço uma pausa do lado de fora da porta enquanto Charlotte tira os sapatos.

- Claro, isso parece ótimo - diz Caleb. Ele deve estar ao telefone. - Estou ansioso por isso... Tudo bem, perfeito. Vejo você em breve.

Eu hesito, mesmo depois que Charlotte corre para encontrá-lo. Com quem ele estava falando? Parecia que estava fazendo planos. Não poderia ser um encontro, poderia? Havia algo em sua voz que me fez pensar, uma nota de carinho, talvez?

- Aí está minha garota favorita!

O que estou pensando? Não é da minha conta. Ele poderia estar conversando com Kendra, ou seu pai. E mesmo que estivesse fazendo planos com uma mulher, isso não tem nada a ver comigo. Certamente não tenho direito a uma opinião sobre o que ele faz em seu tempo livre ou com quem passa esse tempo. Ele é um adulto solteiro e não há nada de errado em namorar.

Afastando o desconforto, vou para a cozinha para ver o que ele quer fazer para o jantar.

                         

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